No dia em que a imprensa dá como certa a mudança de Paulo Fonseca de Paços de Ferreira para Braga, o que a confirmar-se será o 13.º treinador contratado por António Salvador em 12 anos de mandato, impõe-se primeiramente falar de Sérgio Conceição e da sua fugaz, mas conturbada, passagem como treinador do SC Braga.
Quando foi pela primeira vez apresentado por António Salvador há exactamente um ano, muitos consideram-no uma aposta de risco, afirmação prontamente rebatida pelo máximo líder arsenalista. Aquilo de que António Salvador nunca foi capaz de convencer ninguém foi a ordem de prioridade da escolha, porque antes de Conceição perfilavam-se outros nomes, com outro tipo de estaleca futebolística, tais como: Vítor Pereira, Marco Silva, Nuno Espírito Santo ou até Rui Vitória.
Não obstante, a contratação de Sérgio Conceição foi uma escolha pessoal de António Salvador, tal como o foram os outros onze que o antecederam no mandato do actual presidente. Porque em Braga, tal como na generalidade dos clubes portugueses, vigora um regime presidencialista.
Quando foi pela primeira vez apresentado por António Salvador há exactamente um ano, muitos consideram-no uma aposta de risco, afirmação prontamente rebatida pelo máximo líder arsenalista. Aquilo de que António Salvador nunca foi capaz de convencer ninguém foi a ordem de prioridade da escolha, porque antes de Conceição perfilavam-se outros nomes, com outro tipo de estaleca futebolística, tais como: Vítor Pereira, Marco Silva, Nuno Espírito Santo ou até Rui Vitória.
Não obstante, a contratação de Sérgio Conceição foi uma escolha pessoal de António Salvador, tal como o foram os outros onze que o antecederam no mandato do actual presidente. Porque em Braga, tal como na generalidade dos clubes portugueses, vigora um regime presidencialista.
Qual o balanço da época de Sérgio Conceição?
Para se fazer uma avaliação objectiva do desempenho do futuro ex-treinador do SC Braga, devemos recordar os objectivos enunciados a quando da sua apresentação há um ano atrás: ficar nos primeiros quatro classificados da Liga, tentar a conquista das taças (de Portugal e da Liga). Outro aspecto a ter em conta foi a construção do plantel, tendo por base a equipa que acabara a época transacta no 9.º lugar, depois de uma eliminação precoce na Liga Europa perante uns modestos romenos, depois de falhar o acesso às finais das taças de Portugal e da Liga diante do Rio Ave, depois de terem passado dois treinadores: Jesualdo Ferreira e Jorge Paixão. Esperava-se uma revolução no plantel, mas tal não veio a verificar-se. Foram realizadas contratações pontuais, como na lateral-esquerda da defesa onde entraram Tiago Gomes e Djavan, ou na linha média onde entrou Pedro Tiba, jogador- revelação do Vitória de Setúbal. A SAD e o treinador entenderam, também, apostar em jogadores dos quadros do clube que estiveram emprestados, tal como Salvador Agra, Pedro Santos ou Zé Luís. E finalmente, através da parceria com o super-agente Jorge Mendes, apostaram no lançamento na Europa de jovens valores brasileiros, como foram os casos de Matheus, Danilo ou Wallace, este último transferido depois para o Mónaco ainda antes do primeiro jogo oficial da equipa.
Estando o clube fora das competições europeias nesta época, interrompendo um ciclo de uma dezena de presenças consecutivas, seria de supor o projectar de um plantel mais curto, até porque existia, embora que na teoria, a equipa B como recurso. Digo bem na teoria, porque o aproveitamento que o SC Braga fez esta da equipa B foi praticamente nulo.
A época começou com solavancos, pois embora a equipa voltasse a fazer da Pedreira uma fortaleza, vencendo todos os jogos iniciais, fora de portas revelava-se frágil e só conseguiu o primeiro triunfo enquanto visitante à 11.ª jornada, ante o modesto Penafiel. Por força dessa dificuldade em se impor nos jogos fora-de-portas, só conseguiu consolidar a 4.ª posição da tabela a partir da 20.ª jornada. Pois até então, teve de se haver com um sensacional Vitória de Guimarães, que apesar de dispor de menos recursos em relação seus aos rivais do Minho, foi capaz de construir uma excelente equipa com base na sua equipa B e num excelente trabalho do mais que provável sucessor de Jorge Jesus no Benfica.
Já em relação às exibições produzidas pelos arsenalistas, estas eram oscilantes, mas cedo se percebeu que esta equipa fora primeiramente formatada para um estilo de jogo de contra-ataque e transições defesa – ataque, uma escolha algo discutível para uma equipa com o estatuto do SC Braga, estatuto esse que faz os adversários encarar as partidas com muitas cautelas defensivas.
Ainda a respeito do desempenho na Liga, há a registar um excelente arranque de segunda volta, onde até conseguiu um ciclo de cinco vitórias consecutivas, que permitiram à equipa consolidar o 4.º lugar e até sonhar com o 3.º. Mas o duplo confronto com os candidatos ao título, Porto e Benfica, revelou uma equipa com pouca capacidade de se bater com adversários mais fortes. Nesta segunda metade do campeonato, das equipas que terminaram classificadas na primeira metade da tabela, do 9.º lugar para cima, o Braga só conseguiu derrotar o Nacional da Madeira, em casa. Seja como for, o objectivo inicial de terminar nos primeiros quatro classificados foi cumprido, embora só tenha sido garantido na derradeira jornada, através de uma vitória por 5-0 diante do Vitória de Setúbal com a manutenção assegurada na ronda anterior.
O Braga conseguiu apenas vencer metade dos jogos que disputou, algo que sabe a pouco num campeonato muito nivelado por baixo. No que toca a golos, o desempenho foi satisfatório, pois logrou ser o 4.º ataque mais concretizador da prova e a 3.ª defesa menos batida.
Quanto à Taça da Liga, sabia-se logo à partida que o SC Braga teria dificuldades em repetir o bom desempenho das últimas três edições, nas quais foi semi-finalista em duas ocasiões e vencedor em 2012/13. A dificuldade prendia-se com o facto de não ser cabeça-de-série, por força do 9.º lugar da pretérita edição da liga. Ainda assim, os Guerreiros do Minho só se podem queixar de si próprios, pois, ao perder na primeira jornada da fase de grupos, diante do União da Madeira, e mais tarde, ao empatarem em casa diante do FC Porto, tendo os portistas jogado em inferioridade numérica de dois jogadores durante largos minutos, hipotecaram em definitivo as possibilidades de sucesso nesta prova.
Depois a Taça de Portugal, onde o SC Braga subiu ao céu… e desceu depois às profundezas dos infernos em apenas alguns minutos. Era do conhecimento público o enorme desejo do seu presidente em chegar ao topo da Prova Rainha do futebol português. Em primeiro lugar, chegar ao Jamor, palco do qual os bracarenses se vêm sucessivamente afastados desde 1998. Depois de chegar ao mítico estádio de Oeiras, obviamente o desejo não poderia ser outro que não o de repetir o feito histórico de 1966.
Essa oportunidade surgiu esta temporada, num trabalho de superação e brilhantismo da equipa bracarense, que ultrapassou o Vitória de Guimarães e Benfica nos seus redutos e eliminou de forma concludente Belenenses e Rio Ave nas rondas seguintes. A chegada ao Jamor foi um sonho concretizado com todo o mérito.
Antes, o Braga já tinha disputado três finais após a conquista de 1966. Mas nunca como nesta edição estivera tão próximo de conquistar o troféu, diante do Sporting. Estando a vencer por 2-0 até perto do final e com mais uma unidade em campo desde o primeiro quarto de hora, os bracarenses consentiram dois golos de forma inacreditável nos últimos minutos da partida, perante o desespero de mais de 12.000 adeptos no Jamor e mais uns quantos na Praça do Município em Braga. Tendo ainda mais 30 minutos para tentar remediar as asneiras, ainda que continuando a beneficiar de superioridade numérica, não foram capazes de superar os leões. E na lotaria das grandes penalidades, perante um Rui Patrício inferiorizado, só conseguiram converter a primeira grande penalidade, por Alan.
A falta de capacidade competitiva dos jogadores e equipa técnica neste jogo foram por demais evidentes.
Mas apesar de tudo quanto foi dito atrás, a minha opinião é que Sérgio Conceição deveria continuar. Por duas razões: porque não é possível construir um projecto futebolístico baseado numa instabilidade de mudança de treinador todos os anos, e porque Sérgio Conceição teria um capital de aprendizagem que poderia utilizar inteligentemente para estar mais forte na época seguinte.
Só que depois da tempestade, em vez de vir a bonança, veio um tsunami...
Ainda nas reacções a quente à derrota no Jamor, quando questionado sobre a continuidade de Sérgio Conceição, António Salvador foi claro em relação às suas intenções, ao manifestar a esperança de repetir a presença na final na época seguinte, com Sérgio Conceição ao leme.
Mas no dia seguinte, impunha-se dizer algumas palavras aos milhares que saíram de Braga na madrugada de Domingo em camionetas, e só regressaram na madrugada seguinte, com um fardo enorme de desilusão. Nessa segunda-feira, a SAD emitiu um comunicado assinado pelo presidente, dirigindo-se aos adeptos, agradecendo-lhes todo o apoio e apelando à união de todos. A meio do comunicado, o líder arsenalista, fez a seguinte observação a respeito do desenlace do jogo:
«Reconhecendo que o futebol é fértil em surpresas, também sei que na maior parte das vezes a surpresa é fruto da incompetência e admito que não fomos suficientemente competentes para guardar tudo o que tínhamos sabido construir.»
Embora falando no plural, as palavras do presidente foram entendidas pelo treinador como sendo uma descompostura ao seu desempenho e, com a falta de equilíbrio mental e emocional que por vezes lhe assolam, terá alegadamente reagido ao comunicado enviando ao presidente um SMS nestes termos:
«Muito bem, Presidente. Fomos incompetentes… Boa maneira de sacudir a água do capote… A partir de agora podem livremente procurar alguém com competência.»
Não satisfeito, o futuro ex-treinador do SC Braga ainda foi mais longe, ao telefonar para o ex-dirigente António Duarte na terça-feira, dois dias após o jogo. Tal como é habitual, António Duarte emitiu a sua opinião sobre o jogo a órgãos de comunicação social, mas essa opinião não terá sido do agrado de Sérgio Conceição. De acordo com o ex-director do futebol bracarense, este ter-lhe-á telefonado, sem se identificar e encetando uma conversa em tons inqualificáveis, onde terá mesmo colocado em cheque um seu familiar, que se presume seja Pedro Duarte, treinador da equipa de juniores que foi campeão nacional em 2013/14.
O caldo haveria de entornar de vez no dia seguinte, quarta-feira, quando António Salvador se terá dirigido ao gabinete da equipa técnica a fim de cumprimentar os presentes. Nesse momento, Sérgio Conceição, mais uma vez num pico de fúria, não só terá recusado cumprimentar o presidente, como também terão os dois protagonizado uma cena de peixeirada, com insultos e ofensas mútuas, perante os olhares e ouvidos incrédulos de quem estava por perto. Fala-se também em ameaças de agressão da parte de Sérgio Conceição.
Entanto, a SAD resolveu avançar para o despedimento por justa causa, em face da gravidade dos acontecimentos e depois de tentar que o treinador se retractasse e aceitasse o divórcio entre as partes. Tal não aconteceu e, como tal, o assunto agora será resolvido nas instâncias de justiça.
Terminou assim, de forma triste e que envergonha qualquer adepto, uma época que poderia ter sido de glória para o SC Braga. Falando apenas do desempenho desportivo, Sérgio Conceição seria merecedor de mais uma oportunidade. Em termos da sua conduta moral e de carácter, ele próprio indicou o único caminho que pode seguir neste momento: o do olho da rua.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
Essa oportunidade surgiu esta temporada, num trabalho de superação e brilhantismo da equipa bracarense, que ultrapassou o Vitória de Guimarães e Benfica nos seus redutos e eliminou de forma concludente Belenenses e Rio Ave nas rondas seguintes. A chegada ao Jamor foi um sonho concretizado com todo o mérito.
Antes, o Braga já tinha disputado três finais após a conquista de 1966. Mas nunca como nesta edição estivera tão próximo de conquistar o troféu, diante do Sporting. Estando a vencer por 2-0 até perto do final e com mais uma unidade em campo desde o primeiro quarto de hora, os bracarenses consentiram dois golos de forma inacreditável nos últimos minutos da partida, perante o desespero de mais de 12.000 adeptos no Jamor e mais uns quantos na Praça do Município em Braga. Tendo ainda mais 30 minutos para tentar remediar as asneiras, ainda que continuando a beneficiar de superioridade numérica, não foram capazes de superar os leões. E na lotaria das grandes penalidades, perante um Rui Patrício inferiorizado, só conseguiram converter a primeira grande penalidade, por Alan.
A falta de capacidade competitiva dos jogadores e equipa técnica neste jogo foram por demais evidentes.
Mas apesar de tudo quanto foi dito atrás, a minha opinião é que Sérgio Conceição deveria continuar. Por duas razões: porque não é possível construir um projecto futebolístico baseado numa instabilidade de mudança de treinador todos os anos, e porque Sérgio Conceição teria um capital de aprendizagem que poderia utilizar inteligentemente para estar mais forte na época seguinte.
Só que depois da tempestade, em vez de vir a bonança, veio um tsunami...
Ainda nas reacções a quente à derrota no Jamor, quando questionado sobre a continuidade de Sérgio Conceição, António Salvador foi claro em relação às suas intenções, ao manifestar a esperança de repetir a presença na final na época seguinte, com Sérgio Conceição ao leme.
Mas no dia seguinte, impunha-se dizer algumas palavras aos milhares que saíram de Braga na madrugada de Domingo em camionetas, e só regressaram na madrugada seguinte, com um fardo enorme de desilusão. Nessa segunda-feira, a SAD emitiu um comunicado assinado pelo presidente, dirigindo-se aos adeptos, agradecendo-lhes todo o apoio e apelando à união de todos. A meio do comunicado, o líder arsenalista, fez a seguinte observação a respeito do desenlace do jogo:
«Reconhecendo que o futebol é fértil em surpresas, também sei que na maior parte das vezes a surpresa é fruto da incompetência e admito que não fomos suficientemente competentes para guardar tudo o que tínhamos sabido construir.»
Embora falando no plural, as palavras do presidente foram entendidas pelo treinador como sendo uma descompostura ao seu desempenho e, com a falta de equilíbrio mental e emocional que por vezes lhe assolam, terá alegadamente reagido ao comunicado enviando ao presidente um SMS nestes termos:
«Muito bem, Presidente. Fomos incompetentes… Boa maneira de sacudir a água do capote… A partir de agora podem livremente procurar alguém com competência.»
Não satisfeito, o futuro ex-treinador do SC Braga ainda foi mais longe, ao telefonar para o ex-dirigente António Duarte na terça-feira, dois dias após o jogo. Tal como é habitual, António Duarte emitiu a sua opinião sobre o jogo a órgãos de comunicação social, mas essa opinião não terá sido do agrado de Sérgio Conceição. De acordo com o ex-director do futebol bracarense, este ter-lhe-á telefonado, sem se identificar e encetando uma conversa em tons inqualificáveis, onde terá mesmo colocado em cheque um seu familiar, que se presume seja Pedro Duarte, treinador da equipa de juniores que foi campeão nacional em 2013/14.
O caldo haveria de entornar de vez no dia seguinte, quarta-feira, quando António Salvador se terá dirigido ao gabinete da equipa técnica a fim de cumprimentar os presentes. Nesse momento, Sérgio Conceição, mais uma vez num pico de fúria, não só terá recusado cumprimentar o presidente, como também terão os dois protagonizado uma cena de peixeirada, com insultos e ofensas mútuas, perante os olhares e ouvidos incrédulos de quem estava por perto. Fala-se também em ameaças de agressão da parte de Sérgio Conceição.
Entanto, a SAD resolveu avançar para o despedimento por justa causa, em face da gravidade dos acontecimentos e depois de tentar que o treinador se retractasse e aceitasse o divórcio entre as partes. Tal não aconteceu e, como tal, o assunto agora será resolvido nas instâncias de justiça.
Terminou assim, de forma triste e que envergonha qualquer adepto, uma época que poderia ter sido de glória para o SC Braga. Falando apenas do desempenho desportivo, Sérgio Conceição seria merecedor de mais uma oportunidade. Em termos da sua conduta moral e de carácter, ele próprio indicou o único caminho que pode seguir neste momento: o do olho da rua.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)