Os jogos entre SC Braga e Rio Ave transformaram-se em clássicos do futebol português, porque a ironia do destino ditou que estas duas equipas se encontrassem nas meias-finais da Taça de Portugal, em três edições consecutivas. Também na Taça da Liga, os emblemas da cidade dos arcebispos e de Vila do Conde se cruzaram por três vezes consecutivamente, ainda que só por uma vez nas meias-finais e nas outras duas na fase de grupos. Se na época passada o encontro que fechou a fase de grupos desta competição nada decidia, este ano é diferente, já que ambas as formações só dependem de si para chegar às meias-finais, ainda que os bracarenses partam em vantagem, pois só necessitam do empate, ao passo que aos vila-condenses só a vitória interessa.
São quatro jogos a opor as equipas em pouco mais de um mês, três no espaço de duas semanas, dois em Braga e outros tantos em Vila do Conde, desafios repartidos pelas três principais competições do quadro nacional.
O primeiro dos confrontos da época realizou-se no já longínquo dia 21 de Agosto de 2015, quando as equipas ainda estavam da cor das camisolas dos vila-condenses. Na altura, escrevi esta crónica sobre o jogo, onde realcei a tradicional dificuldade do Braga em se impor no Estádio dos Arcos. Entretanto, houve uma grande evolução na forma de jogar do Braga, tendo sido determinantes os reforços do plantel em cima do fecho do mercado. Particularmente, dois elementos cuja mudança para Braga, sem dúvida alguma, enfraqueceram de sobremaneira o plantel de Pedro Martins, a saber: Hassan, autor do único golo nessa noite de Agosto; Felipe Augusto, regressado de Valência, nem sequer chegou a aquecer o lugar no balneário dos Arcos, mas ainda fora a tempo de defrontar a sua actual equipa e de se revelar também importante para o desfecho desse encontro, no qual o Rio Ave jogou praticamente toda a segunda parte em inferioridade numérica, sem que o Braga conseguisse tirar partido dessa vantagem. Além disso, na mesma crónica, já eu apontara uma lacuna que ainda hoje subsiste e Paulo Fonseca ainda não conseguiu resolver, pois, como se pôde ler então sobre o Braga: «Os seus jogadores não tentaram um único remate de meia-distância».
Chuva de golos na Pedreira Mágica
Se no jogo da primeira volta o Braga foi uma equipa desligada, sem fio de jogo, ausência de ideias e ineficaz em termos de finalização, este Domingo foi exactamente o oposto, impondo desde o minuto inicial a sua superioridade. Os comandados de Paulo Fonseca revelaram uma enorme coesão, alicerçada nos triunfos e boas exibições recentes, tendo mandado no jogo desde o minuto inicial. Além disso, revelaram uma eficácia extrema na finalização, consolidada num resultado desnivelado (5-1) que não espelha a real diferença entre uma e outra equipa, como o próprio treinador bracarense admitiu.
O destino do jogo começou a traçar-se pela estratégia audaciosa de Paulo Fonseca, que literalmente mandou a sua equipa para cima do adversário. Com um desenho táctico arrojado, o Braga asfixiou o Rio Ave na primeira parte, bloqueando o jogo da equipa de Pedro Martins.
A figura seguinte ilustra o posicionamento da equipa bracarense no processo ofensivo.
À dupla tradicional de pontas-de-lança, Paulo Fonseca colocou logo atrás uma segunda linha formada por Rafa e Alan, que neste jogo ocuparam quase sempre zonas interiores, projectando os laterais pelos flancos, Baiano na direita e Goiano na esquerda, funcionando como extremos. O quadrado constituído por Hassan, Stojilikovic, Rafa e Alan obrigou o duplo pivô defensivo do Rio Ave, composto por Novais e Tarantini, a recuar demasiado para junto dos centrais, afastando-os demasiado dos elementos mais avançados, resultando assim numa incapacidade de construir jogo ofensivo, devido ao distanciamento entre linhas.
A dupla de médios centros do Braga, composta por Luiz Carlos e Vukcevic, tinha missões específicas, fazendo um deles a ligação com o quadrado ofensivo, ao passo que o outro recuava para o meio dos centrais. Embora alternassem nestas tarefas, viu-se mais tempo o brasileiro em progressão no campo, ao passo que o montenegrino se posicionava entre os centrais, Boly e Ricardo Ferreira, que também eram chamados a sair a jogar no início de construção.
Os jogos entre SC Braga e Rio Ave transformaram-se em clássicos do futebol português, porque a ironia do destino ditou que estas duas equipas se encontrassem nas meias-finais da Taça de Portugal, em três edições consecutivas. Também na Taça da Liga, os emblemas da cidade dos arcebispos e de Vila do Conde se cruzaram por três vezes consecutivamente, ainda que só por uma vez nas meias-finais e nas outras duas na fase de grupos. Se na época passada o encontro que fechou a fase de grupos desta competição nada decidia, este ano é diferente, já que ambas as formações só dependem de si para chegar às meias-finais, ainda que os bracarenses partam em vantagem, pois só necessitam do empate, ao passo que aos vila-condenses só a vitória interessa.
São quatro jogos a opor as equipas em pouco mais de um mês, três no espaço de duas semanas, dois em Braga e outros tantos em Vila do Conde, desafios repartidos pelas três principais competições do quadro nacional.
O primeiro dos confrontos da época realizou-se no já longínquo dia 21 de Agosto de 2015, quando as equipas ainda estavam da cor das camisolas dos vila-condenses. Na altura, escrevi esta crónica sobre o jogo, onde realcei a tradicional dificuldade do Braga em se impor no Estádio dos Arcos. Entretanto, houve uma grande evolução na forma de jogar do Braga, tendo sido determinantes os reforços do plantel em cima do fecho do mercado. Particularmente, dois elementos cuja mudança para Braga, sem dúvida alguma, enfraqueceram de sobremaneira o plantel de Pedro Martins, a saber: Hassan, autor do único golo nessa noite de Agosto; Felipe Augusto, regressado de Valência, nem sequer chegou a aquecer o lugar no balneário dos Arcos, mas ainda fora a tempo de defrontar a sua actual equipa e de se revelar também importante para o desfecho desse encontro, no qual o Rio Ave jogou praticamente toda a segunda parte em inferioridade numérica, sem que o Braga conseguisse tirar partido dessa vantagem. Além disso, na mesma crónica, já eu apontara uma lacuna que ainda hoje subsiste e Paulo Fonseca ainda não conseguiu resolver, pois, como se pôde ler então sobre o Braga: «Os seus jogadores não tentaram um único remate de meia-distância».
Chuva de golos na Pedreira Mágica
Se no jogo da primeira volta o Braga foi uma equipa desligada, sem fio de jogo, ausência de ideias e ineficaz em termos de finalização, este Domingo foi exactamente o oposto, impondo desde o minuto inicial a sua superioridade. Os comandados de Paulo Fonseca revelaram uma enorme coesão, alicerçada nos triunfos e boas exibições recentes, tendo mandado no jogo desde o minuto inicial. Além disso, revelaram uma eficácia extrema na finalização, consolidada num resultado desnivelado (5-1) que não espelha a real diferença entre uma e outra equipa, como o próprio treinador bracarense admitiu.
O destino do jogo começou a traçar-se pela estratégia audaciosa de Paulo Fonseca, que literalmente mandou a sua equipa para cima do adversário. Com um desenho táctico arrojado, o Braga asfixiou o Rio Ave na primeira parte, bloqueando o jogo da equipa de Pedro Martins.
A figura seguinte ilustra o posicionamento da equipa bracarense no processo ofensivo.
À dupla tradicional de pontas-de-lança, Paulo Fonseca colocou logo atrás uma segunda linha formada por Rafa e Alan, que neste jogo ocuparam quase sempre zonas interiores, projectando os laterais pelos flancos, Baiano na direita e Goiano na esquerda, funcionando como extremos. O quadrado constituído por Hassan, Stojilikovic, Rafa e Alan obrigou o duplo pivô defensivo do Rio Ave, composto por Novais e Tarantini, a recuar demasiado para junto dos centrais, afastando-os demasiado dos elementos mais avançados, resultando assim numa incapacidade de construir jogo ofensivo, devido ao distanciamento entre linhas.
A dupla de médios centros do Braga, composta por Luiz Carlos e Vukcevic, tinha missões específicas, fazendo um deles a ligação com o quadrado ofensivo, ao passo que o outro recuava para o meio dos centrais. Embora alternassem nestas tarefas, viu-se mais tempo o brasileiro em progressão no campo, ao passo que o montenegrino se posicionava entre os centrais, Boly e Ricardo Ferreira, que também eram chamados a sair a jogar no início de construção.
Por isso, não foi de admirar que na primeira parte só tivesse existido Braga e os dois golos apontados por Hassan à sua antiga equipa colocavam justiça no marcador.
Mas, no segundo tempo entrou um Rio Ave transfigurado, muito próximo daquele que há dias empatou a 1-1 no Dragão. Logo no reatamento, Kayembé reduziu, num lance em que Boly poderia ter feito mais para evitar o golo. Tal como por vezes acontece ao vento, também o jogo na Pedreira virou.
Com o Rio Ave a avançar no terreno, Paulo Fonseca apercebeu-se da abertura de espaços e tirando partido da lentidão de recuperação da defesa e meio-campo defensivo do adversário, lançou um elemento veloz com o intuito de, juntamente com Rafa, explorar as transições. Na primeira intervenção, Pedro Santos que entrara para o lugar do capitão Alan, recebeu um passe de rotura de Hassan, ultrapassou Cássio e estabeleceu o 3-1, um golo que acabou por ter efeitos devastadores no Rio Ave, que minutos antes dispusera de duas boas ocasiões para empatar. Logo a seguir, Rafa pegou na bola, levou toda a gente à frente e foi ainda capaz de assinar um tento de belíssima execução. Pedro Martins nem queria acreditar no que lhe estava a acontecer, mas ainda não tinha terminado o suplício. Decorridos 10 minutos após o 4-1, num momento em que o jogo estava partido, Vukcevic arrancou pelo corredor central e, no momento certo, assistiu o recém-entrado Rui Fonte que fuzilou Cássio, sem apelo nem agravo.
Em suma, um Braga forte, personalizado e extremamente eficaz, a aproveitar as debilidades do adversário, fez a diferença neste 1.º Round. Em todo o caso, os bracarenses voltaram a revelar uma espécie de calcanhar de Aquiles, errando passes e perdendo bolas em zonas nevrálgicas, que devido ao adiamento da equipa possibilita ao adversário contra-atacar com muito espaço livre, um aspecto a corrigir.
Projecção do 2.ª Round
Amanhã realiza-se em Vila do Conde o encontro que vai decidir o acesso às meias-finais da Taça da Liga. Nos 11 de uma e de outra banda certamente haverão mexidas. Paulo Fonseca continuará com a alternância de jogadores, em virtude de um intenso calendário no mês de Janeiro.
Para o centro da defesa deverá entrar André Pinto e talvez também Arghus, ou seja, a dupla que jogou diante do Leixões. Poderá também alinhar Ringstad de início, ele que entrou na segunda parte deste jogo, para que Baiano ou Goiano também possam gerir o físico. Ou então, dado o carácter decisivo do jogo, pode ser que Paulo Fonseca adie a gestão para Domingo, no Bessa.
Num jogo em que se espera um Rio Ave pressionante e ofensivo, em virtude da obrigação de vencer já referida, é provável que o técnico bracarense lance Mauro a titular para ter maior capacidade de luta e recuperação. Na frente, Paulo Fonseca deverá apostar em jogadores velozes e com capazes de decidir rápido em processos de transição, como são os casos de Rafa, Pedro Santos, Rui Fonte e Wilson Eduardo.
Quanto a Pedro Martins, que decerto não terá gostado da exibição da equipa, exceptuando o primeiro quarto de hora da segunda parte, deverá também lançar os seguintes jogadores para tentar colmatar os handicaps observados na Pedreira. Assim, Lionn deverá actuar no lado direito da defesa, por ser um elemento de vocação ofensivo. Resta saber quem o acompanhará no flanco: Ukra, que atravessa um momento menos bom, quiçá devido à especulação sobre a sua saída; ou Krovinovic, que neste jogo actuou numa zona central atrás do ponta-de-lança Yazalde. Wakaso também deverá ser titular, após cumprir castigo, o que a confirmar-se dará outra consistência e capacidade de luta, tal como Bressan, que é o elemento capaz de articular o jogo entre linhas.
Hassan volta a fazer estragos
Esta época tem sido uma verdadeira montanha-russa de emoções para o ponta-de-lança egípcio do Sp. Braga. Depois de ter visto cair o sonho de jogar num candidato ao título nacional, devido a um chumbo nos exames médicos logo no defeso, ainda com a camisola do Rio Ave, o “faraó” marcara um golo à sua actual equipa antes de se mudar para a cidade dos arcebispos. Chegado a Braga, viu-se afastado da competição devido a uma lesão arreliadora e quando já estava de regresso aos relvados, recebeu a trágica notícia da morte do pai. Ainda assim, fez questão de jogar a partida diante do Marselha, tendo marcado um dos golos mais belos da presente edição da Liga Europa. Depois seguiu-se um período de seca em termos de golos, mas a pontaria do egípcio voltou a calibrar. E a última vítima foi, precisamente, a sua antiga equipa, à qual o jogador marcou dois tentos, mas fez questão de não os festejar e, até, de se desculpar.
O “fininho” entrou… e marcou
O “fininho” entrou… e marcou
Não foi apenas Hassan a marcar à sua antiga equipa. Também Pedro Santos, que jogou em Vila do Conde na temporada 2013/2014, teve um contributo decisivo, uma vez mais, neste jogo. Pelas razões já apontadas, o terceiro golo é crucial para o desfecho. O extremo esquerdino tem-se destacado nas últimas partidas, marcando uma média de um golo por jogo e acumulando boas exibições, quer quando salta no banco como foi o caso desta partida, ou quando é chamado à titularidade na alternância de jogadores que Paulo Fonseca tem implementado.
A franqueza de Paulo Fonseca
O treinador do Braga já nos vem habituando a este tipo de “tiradas”. Mais uma vez, honesto e humilde quanto baste, Paulo Fonseca reconheceu que o jogo da sua equipa não fora assim tão avassalador ao ponto de vergar o adversário com uma goleada das antigas, realçando, no entanto, a questão do aproveitamento quase pleno das oportunidades criadas.
Porém, esta declaração pode ser lida também como uma espécie de mensagem para dentro de portas, quiçá querendo refrear alguma euforia que se possa apoderar dos seus jogadores, preparando-os para os embates seguintes contra o Rio Ave, que encarará o próximo jogo de orgulho ferido.
A razão do Rio Ave, ou a falta dela
Os jornalistas presentes no auditório do Estádio Municipal de Braga após o jogo terão estranhado a presença do presidente do Rio Ave, António Silva Campos, no centro da mesa, ladeado pelo treinador Pedro Martins e pelo director de comunicação Marco Aurélio Carvalho.
Mais estranho terão achado as declarações do líder máximo dos vila-condenses, que terá dito algo do género: “Só quero dizer que os próximos jogos são muito importantes e o Rio Ave vai estar muito atento a tudo o que possa acontecer”. Embora não o tenha admitido, subentende-se que esta mensagem estaria relacionada com o descontentamento dos responsáveis do clube de Vila do Conde em relação ao árbitro Tiago Martins, nomeado para este jogo à última da hora em substituição de Vasco Santos, inicialmente escalado para a partida.
O presidente do Rio Ave tem todo o direito de se manifestar, mas perante uma derrota tão concludente e tendo sido todos os golos bracarenses obtidos de forma legal, talvez estas declarações não façam muito sentido e, tão pouco, terão o alcance que António Silva Campos desejaria que tivessem.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
A franqueza de Paulo Fonseca
O treinador do Braga já nos vem habituando a este tipo de “tiradas”. Mais uma vez, honesto e humilde quanto baste, Paulo Fonseca reconheceu que o jogo da sua equipa não fora assim tão avassalador ao ponto de vergar o adversário com uma goleada das antigas, realçando, no entanto, a questão do aproveitamento quase pleno das oportunidades criadas.
Porém, esta declaração pode ser lida também como uma espécie de mensagem para dentro de portas, quiçá querendo refrear alguma euforia que se possa apoderar dos seus jogadores, preparando-os para os embates seguintes contra o Rio Ave, que encarará o próximo jogo de orgulho ferido.
A razão do Rio Ave, ou a falta dela
Os jornalistas presentes no auditório do Estádio Municipal de Braga após o jogo terão estranhado a presença do presidente do Rio Ave, António Silva Campos, no centro da mesa, ladeado pelo treinador Pedro Martins e pelo director de comunicação Marco Aurélio Carvalho.
Mais estranho terão achado as declarações do líder máximo dos vila-condenses, que terá dito algo do género: “Só quero dizer que os próximos jogos são muito importantes e o Rio Ave vai estar muito atento a tudo o que possa acontecer”. Embora não o tenha admitido, subentende-se que esta mensagem estaria relacionada com o descontentamento dos responsáveis do clube de Vila do Conde em relação ao árbitro Tiago Martins, nomeado para este jogo à última da hora em substituição de Vasco Santos, inicialmente escalado para a partida.
O presidente do Rio Ave tem todo o direito de se manifestar, mas perante uma derrota tão concludente e tendo sido todos os golos bracarenses obtidos de forma legal, talvez estas declarações não façam muito sentido e, tão pouco, terão o alcance que António Silva Campos desejaria que tivessem.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)