Já está! Na noite passada o SC Braga atingiu um dos objectivos da época a que se tinha proposto: passar a fase de grupos da Liga Europa. A ultrapassagem desta primeira barreira é um facto assinável, se atendermos ao facto de ainda restar uma jornada para o fecho definitivo das contas. Por isso, a equipa de Paulo Fonseca poderá viajar tranquilamente até à Holanda dentro de duas semanas, mas o jogo tem ainda um motivo de interesse, pois, os arsenalistas neste momento têm tudo para terminar em primeiro lugar no seu grupo. Para isso bastará apenas um empate em Groningen, caso o Braga queira depender só de si, ou então, nem será necessário pontuar desde que os “ratos das botas” não vençam em Liberec.
Apesar de a equipa bracarense nos ter habituado às andanças europeias, excepção feitas às duas últimas temporadas, a verdade é que para além desta, só por uma vez os Guerreiros do Minho disputaram a fase de grupos da segunda mais importante competição europeia de clubes, neste novo formato “Liga Europa”. Foi na temporada 2011/12, a equipa orientada na altura por Leonardo Jardim também realizou uma boa prestação, classificando-se no segundo lugar do grupo atrás dos belgas do Clubb Brugge, tendo somado então 10 pontos nos seis jogos disputados. A equipa de Paulo Fonseca, em apenas 5 jogos, já ultrapassou essa marca. Brilhante!
Mas desengane-se quem pensar que os bracareneses tiveram um caminho fácil para atingir, na noite de ontem, este desiderato. Pois, tal como seria de esperar, a formação checa do Slovan Liberec revelou-se um osso duro de roer e ontem confirmou a sua condição de formação mais forte fora de portas do que em casa. Recorde-se que os checos haviam vencido em Marselha e Groningen nas rondas anteriores.
Depois de ter poupado meia equipa dos rigores do pelado (não o posso classificar doutra forma) do Estádio de São Luís em Faro, onde superaram a formação local na 4.ª eliminatória da Taça de Portugal, o técnico Paulo Fonseca apresentou o seu 11 de gala. De facto, a administração da SAD fez um excelente trabalho no fecho de mercado, conseguindo dotar este plantel em termos de qualidade e quantidade para encarar um calendário competitivo tão intenso. Paulo Fonseca e a sua equipa técnica fizeram o resto, ou seja, potenciar praticamente todos os jogadores do plantel, onde apenas um elemento, Alef, ainda não foi chamado a dar o seu contributo à equipa. Curiosamente, a mais cara aquisição deste Braga.
No alinhamento inicial do jogo frente ao Slovan Liberec, talvez a nota de destaque tenha sido a inclusão de Djavan, pois o brasileiro havia estado muito tempo lesionado. Mas o lateral-esquerdo correspondeu à chamada, tendo feito muitas incursões pelo flanco e dando a largura ao corredor esquerdo que o técnico tanto aprecia nele. Mas teve também alguma dificuldade em segurar o russo Efremov, que ontem se revelou o melhor elemento da equipa checa e até foi dele a autoria o primeiro golo da partida.
No flanco oposto, pareceu-me natural a titularidade de Marcelo, pois o lateral-direito do estado de Goiás, nesta altura, está melhor que o seu homólogo do estado da Baía.
No centro de defesa, apesar de ter promovido o regresso de André Pinto em Faro, depois de algum tempo afastado desde que se lesionara em Guimarães, a dupla Boly - Ricardo Ferreira, talvez uma das mais jovens da prova, voltou a merecer a confiança do treinador e, pelo que se viu mais uma vez no jogo de ontem, essa confiança foi inteiramente merecida. Aliás, a autoria do golo do empate do SC Braga, poucos minutos após ter sofrido o tento checo, foi atribuída a Ricardo Ferreira, embora tenha parecido tratar-se de um desvio do defesa checo após um centro-remate de Alan.
A dupla de médios centro já experimentou diversas variantes. Mas tendo em conta que em Faro jogaram Mauro e Felipe Augusto, era mais do que previsível a chamada de Luiz Carlos e Vukcevic, como se veio a confirmar. Esta é provavelmente a dupla mais equilibrada das que já foram utilizadas. É certo que nem o brasileiro, nem o montenegrino, têm os níveis elevados de técnica, leitura e capacidade de passe vertical de Felipe Augusto. Porém, no jogo de ontem era necessário consistência e equilíbrio defensivo, para impedir os checos de ganhar ascendente a meio-campo. Na primeira parte a dupla de médios teve algumas dificuldades nos duelos com os checos, muito fortes e compactos na centro do terreno. Mas no segundo tempo, controlaram por completo as operações.
Este jogo marcou também o regresso da dupla de génios, Alan e Rafa, e mais uma vez o veterano capitão e o irrequieto extremo fizeram miséria na defesa adversária. Foi através de uma combinação entre os dois que nasceu o lance do primeiro golo arsenalista, que pouco antes do intervalo colocou o resultado em 1-1, porque os checos haviam marcado minutos antes. Estes dois elementos estiveram constantemente em destaque, em especial na segunda parte, período em que o Braga foi dono e senhor da partida, pois, no primeiro tempo o jogo foi equilibrado, com oportunidades de golo repartidas por ambos os conjuntos.
Quem não esteve propriamente feliz ontem foi a dupla de avançados, formada por Rui Fonte e Hassan. Enquanto o português esteve algo desaparecido do jogo, com poucos espaços para fazer as suas movimentações tão características, o egípcio por seu lado esteve muito activo, mas igualmente perdulário. O Braga poderia ter construído um resultado dilatado se o “faraó” estivesse nos seus dias, mas ontem a pontaria esteve desafinada. Em favor do ponta-de-lança internacional do Egipto podemos alegar da presença na baliza checa de um gigante, Koubek, que por diversas ocasiões negou o golo aos bracarenses. Registe-se também a boa entrada do brasileiro Crislan, para o lugar de Rui Fonte, que para além de acrescentar combatividade e dinâmica numa fase crucial do jogo, haveria de sair dos seus pés um remate em jeito, colocado, para o golo que sentenciaria a partida já em tempo de descontos.
No final do encontro, Paulo Fonseca era um homem satisfeito, não só pelo triunfo conseguido num jogo que reconheceu ter sido difícil, mas sobretudo pelo atingir de uma das metas traçadas no início da temporada. Naturalmente, os jornalistas colocaram-lhe a questão sobre uma atribuição de prioridades em termos de competições, mas o técnico arsenalista respondeu que a prioridade é sempre o próximo jogo. Isto porque o calendário que se avizinha é exigente. A equipa mal terá tempo de saborear este triunfo, porque terá de preparar a recepção ao Benfica na próxima segunda-feira, num jogo que está a gerar grande expectativa porque neste momento o Braga está no terceiro lugar à frente dos encarnados. Depois, seguir-se-á uma curta deslocação a Moreira de Cónegos, antes da viagem à Holanda onde o Braga tentará segurar o primeiro lugar do grupo F da Liga Europa. Depois, há um segundo jogo fora-de-portas para o campeonato, em Tondela, antes desse escaldante encontro a contar para os ⅛ de final da Taça de Portugal, onde o Braga vai receber o Sporting no jogo de cartaz da eliminatória, que colocará frente-a-frente os finalistas da última edição da prova.
NOTA FINAL:
Apesar deste feito notável do SC Braga nas competições europeias, onde se tornou na primeira equipa portuguesa a passar para a fase seguinte da Liga Europa, quando falta ainda disputar uma jornada da fase de grupos, para alguma imprensa portuguesa este é um facto sem importância, como se pode aferir pela capa deste diário desportivo.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)