Já começa a tornar-se uma rotina a apresentação de um novo treinador no Estádio Municipal de Braga, a cada início de temporada. Desde que António Salvador assumiu a presidência em 2003, já soma por 15 o número de técnicos que contratou. Apenas Jesualdo Ferreira e Domingos Paciência conseguiram permanecer, ao menos, duas épocas completas. Esta inconstância permanente está-se a revelar nefasta, porque é impossível construir um edifício de uma equipa de futebol, capaz de enfrentar os ambiciosos objectivos a que o clube bracarense aspira ano após ano, com tantas trocas e baldrocas. Já para não falar na perda de identidade de uma equipa que todos os anos muda de técnico principal, cada um com as suas ideias, cada um com o seu próprio modelo de equipa e de jogo.
Já aqui se escreveu a respeito do inusitado afastamento de Sérgio Conceição após o fracasso inqualificável na Taça de Portugal. Inqualificável fracasso não pela perda em si, mas pela forma como se perdeu, claro está.
Após a consumação da derrota do Jamor e de mais uma tentativa falhada de repetição da glória de 66, um dos colegas com quem colaborei na emissão desportiva da Rádio Barcelos dizia que António Salvador jamais perdoaria a Sérgio Conceição por ter falhado a conquista daquele título. E ainda que o líder arsenalista tivesse dito no final do jogo que o treinador conimbricense iria continuar, eu nunca acreditei nessa intenção, conhecendo como conheço o temperamento do presidente.
Por isso não fiquei nada surpreendido de ver, ouvir e ler nas notícias os primeiros rumores da entrada de Paulo Fonseca para novo timoneiro dos Guerreiros do Minho. Entretanto, saiu o célebre “comunicado da incompetência” e verificou-se depois aquela cena vergonhosa entre Conceição e Salvador, presenciada por vários elementos ligados à estrutura, que culminou com o despedimento por justa causa do treinador.
Será Paulo Fonseca o homem certo?
Esta é uma pergunta difícil de responder quando ainda estamos na fase de preparação da temporada. Uma coisa é certa, Salvador admitiu nas entrelinhas que Paulo Fonseca é um namoro antigo, quando disse:
“O Paulo é um treinador que acompanho e admiro há alguns anos, ele sabe disso até porque já esteve perto desta casa anteriormente. É uma enorme satisfação trabalhar juntos finalmente”.
Acredita-se que o “esteve perto desta casa” terá sido no final da época 2012/13, onde o treinador natural de Nampula, Moçambique, saltou para a ribalta do futebol português ao conseguir um surpreendente 3.º lugar aos comandos da equipa do Paços de Ferreira. Nesse ano, afastou o SC Braga da Liga dos Campeões. Depois do então afastamento de José Peseiro, tudo parecia encaminhado para que o treinador-revelação desse o salto para Braga, mas entretanto Pinto da Costa ter-se-á intrometido no negócio, desviando-o para o Dragão.
Até à sua mudança da Capital do Móvel para a Cidade Invicta, a carreira de Paulo Fonseca foi-se pautando por uma evolução tão assinalável, quanto sustentada. Iniciando a carreira nos juniores do Estrela da Amadora, clube que representou enquanto jogador, prosseguiu no nível sénior em clubes da zona de Lisboa: 1.º de Dezembro, Odivelas e Pinhalnovense.
Em 2011/12 teve a sua primeira experiência no futebol profissional, ao ingressar no Desportivo das Aves da 2.ª Liga. Aí começa a dar nas vistas, conseguindo um notável 3.º lugar e disputando a subida até à recta final. A direcção do Paços de Ferreira, por costume atenta a jovens técnicos a despontar nos escalões inferiores, ofereceu-lhe o maior desafio da carreira até então, ao convidá-lo para orientar os castores na principal liga do futebol português. O resto já todos sabemos, o Paços de Ferreira consegue um histórico lugar no pódio, ultrapassando Braga, Sporting e o “pelotão” de equipas aspirantes às competições europeias.
No início da temporada 2013/14 chega ao topo da carreira, ao ser apresentado como novo treinador do bicampeão FC Porto. A trajectória de sucesso foi então interrompida.
Porém, há vários atenuantes para o insucesso ao comando dos azuis-e-brancos. Desde logo, porque foi a época de menor investimento em termos de plantel. Além disso, saíram jogadores nucleares, como Moutinho ou James Rodriguez, enquanto outros viram-lhes vedadas as portas de saída para ligas de maior dimensão, como foram os casos de Mangala ou Fernando.
A estes casos há a juntar a contratação de reforços que nunca se conseguiram afirmar de dragão ao peito, como foram os casos de Ghilas, Josué, Licá ou Carlos Eduardo.
A época até começou bem com a conquista de um título: a Supertaça Cândido de Oliveira. Mas foi sol de pouca dura… Se nas provas internas o início até nem foi tão mau quanto isso, a carreira na Liga dos Campeões foi medíocre e o melhor que os portistas conseguiram foi a repescagem para a Liga Europa. Nesse ano, o actual técnico arsenalista ainda haveria de conseguir apurar os portistas para os 1/8 de final da prova antes da sua saída, ao eliminar o Eintracht de Frankfurt, empatando a 3-3 na Alemanha, embora tivesse confundido o nome do clube alemão durante as entrevistas rápidas. Já a nível interno, manteve o FC Porto em prova das duas taças. No que diz respeito à Liga, apesar de deixar muito a desejar em termos exibicionais em vários jogos, manteve-se na luta pelo título até ao fim do segundo terço do campeonato. Depois, uma derrota em casa diante do Estoril seguida de um empate a duas bolas em Guimarães, ditaram a descolagem do Benfica no 1.º lugar e a ultrapassagem pelo Sporting no 2.º posto. A contestação dos adeptos era cada vez maior e a corda acabou mesmo por rebentar para o lado de Fonseca.
Como é habitual no nosso país, muitas vozes opinaram a respeito do futuro da sua carreira, se seria capaz de continuar a trajectória de sucesso após este fracasso na primeira oportunidade que teve de treinar um dos grandes do futebol português. Porventura, esses opinantes esperariam o enveredar por uma aventura pelo estrangeiro, geralmente aliciantes em termos financeiros, mas nem sempre profícuas em termos desportivos. Só que inesperadamente, ele trocou-lhes as voltas e resolveu voltar ao lugar onde fora feliz: Paços de Ferreira. Foi provavelmente uma das decisões mais corajosas que vi algum técnico tomar. Primeiro, ignorou o conselho de Rui Veloso, que canta: “nunca voltes ao lugar onde já foste feliz”. Depois, porque o Paços de Ferreira que reencontrou vinha de uma época dramática, onde desceu do céu ao inferno, na qual falhou o acesso à Liga dos Campeões, definhou pela Liga Europa e salvou-se milagrosamente da descida, beneficiando da promoção administrativa do Boavista e consequente alargamento para 18 clubes.
Esta temporada, em Paços, contou com um plantel muitos furos abaixo da temporada 2012/13, em qualidade e quantidade, e ainda assim só falhou o acesso à Liga Europa por um triz. (Esse “triz” foi um golo marcado por Éderzito na Mata Real no último minuto de descontos, numa partida que acabaria empatada a 2-2. Caso tivesse vencido esse jogo, conquistaria o 6.º lugar). Mas mais do que o bom desempenho pontual, foi a qualidade de jogo evidenciada pelos pacenses. Assim como a revelação de bons jovens valores individuais, como Sérgio Oliveira, Minhoca ou Diogo Jota.
Pela sua coragem, inteligência e humildade, que o fizeram levantar, dar um passo atrás para depois dar passos seguros à frente, merece esta nova oportunidade de treinar um clube com outras aspirações.
A tarefa é árdua, pois tem uma herança pesada da pretérita temporada. Pois, fazer melhor implicará classificar-se nos três primeiros lugares ou vencer a Taça de Portugal. Além disso, vai ter pela frente uma fase de grupos da Liga Europa, onde as expectativas dos bracarenses passam sempre por um apuramento para a fase a eliminar. E a somar a isto, terá de contar com uma redução de 30% em termos de orçamento da época e as saídas de elementos determinantes do plantel passado: Éderzito e Rúben Micael já rumaram a outras paragens; Danilo, Zé Luís, Santos, Rafa ou Pardo, poderão seguir-lhes as pisadas.
Em termos de contratações, a aposta da SAD tem sido exclusivamente na juventude, na tentativa de valorização que permita repetir bons encaixes financeiros no futuro. Até ao momento, estão confirmadas as contratações de dois jovens atacantes brasileiros, Rodrigo Pinho e Crislan, do médio criativo Joan Roman, proveniente da equipa B do Barcelona, e de Ricardo Ferreira, defesa-central que acompanha o treinador na viagem entre Paços de Ferreira e Braga. A estes poderá juntar-se o médio Alef, companheiro de Danilo na selecção brasileira de SUB-20.
Além disso, o plantel contará também com Rodrigo Battaglia, que esteve emprestado ao Moreirense na época passada, para além de algumas promoções da equipa B, como são o caso de Fábio Martins, Vukcevic e Tiago Sá.
Duas questões se levantam:
Será este um plantel em construção à medida de Paulo Fonseca, privilegiando os jovens e capacidade do técnico em acelerar a sua rápida evolução?
Dará garantias para uma época longa e com ambições sempre niveladas por cima?
Já aqui se escreveu a respeito do inusitado afastamento de Sérgio Conceição após o fracasso inqualificável na Taça de Portugal. Inqualificável fracasso não pela perda em si, mas pela forma como se perdeu, claro está.
Após a consumação da derrota do Jamor e de mais uma tentativa falhada de repetição da glória de 66, um dos colegas com quem colaborei na emissão desportiva da Rádio Barcelos dizia que António Salvador jamais perdoaria a Sérgio Conceição por ter falhado a conquista daquele título. E ainda que o líder arsenalista tivesse dito no final do jogo que o treinador conimbricense iria continuar, eu nunca acreditei nessa intenção, conhecendo como conheço o temperamento do presidente.
Por isso não fiquei nada surpreendido de ver, ouvir e ler nas notícias os primeiros rumores da entrada de Paulo Fonseca para novo timoneiro dos Guerreiros do Minho. Entretanto, saiu o célebre “comunicado da incompetência” e verificou-se depois aquela cena vergonhosa entre Conceição e Salvador, presenciada por vários elementos ligados à estrutura, que culminou com o despedimento por justa causa do treinador.
Será Paulo Fonseca o homem certo?
Esta é uma pergunta difícil de responder quando ainda estamos na fase de preparação da temporada. Uma coisa é certa, Salvador admitiu nas entrelinhas que Paulo Fonseca é um namoro antigo, quando disse:
“O Paulo é um treinador que acompanho e admiro há alguns anos, ele sabe disso até porque já esteve perto desta casa anteriormente. É uma enorme satisfação trabalhar juntos finalmente”.
Acredita-se que o “esteve perto desta casa” terá sido no final da época 2012/13, onde o treinador natural de Nampula, Moçambique, saltou para a ribalta do futebol português ao conseguir um surpreendente 3.º lugar aos comandos da equipa do Paços de Ferreira. Nesse ano, afastou o SC Braga da Liga dos Campeões. Depois do então afastamento de José Peseiro, tudo parecia encaminhado para que o treinador-revelação desse o salto para Braga, mas entretanto Pinto da Costa ter-se-á intrometido no negócio, desviando-o para o Dragão.
Até à sua mudança da Capital do Móvel para a Cidade Invicta, a carreira de Paulo Fonseca foi-se pautando por uma evolução tão assinalável, quanto sustentada. Iniciando a carreira nos juniores do Estrela da Amadora, clube que representou enquanto jogador, prosseguiu no nível sénior em clubes da zona de Lisboa: 1.º de Dezembro, Odivelas e Pinhalnovense.
Em 2011/12 teve a sua primeira experiência no futebol profissional, ao ingressar no Desportivo das Aves da 2.ª Liga. Aí começa a dar nas vistas, conseguindo um notável 3.º lugar e disputando a subida até à recta final. A direcção do Paços de Ferreira, por costume atenta a jovens técnicos a despontar nos escalões inferiores, ofereceu-lhe o maior desafio da carreira até então, ao convidá-lo para orientar os castores na principal liga do futebol português. O resto já todos sabemos, o Paços de Ferreira consegue um histórico lugar no pódio, ultrapassando Braga, Sporting e o “pelotão” de equipas aspirantes às competições europeias.
No início da temporada 2013/14 chega ao topo da carreira, ao ser apresentado como novo treinador do bicampeão FC Porto. A trajectória de sucesso foi então interrompida.
Porém, há vários atenuantes para o insucesso ao comando dos azuis-e-brancos. Desde logo, porque foi a época de menor investimento em termos de plantel. Além disso, saíram jogadores nucleares, como Moutinho ou James Rodriguez, enquanto outros viram-lhes vedadas as portas de saída para ligas de maior dimensão, como foram os casos de Mangala ou Fernando.
A estes casos há a juntar a contratação de reforços que nunca se conseguiram afirmar de dragão ao peito, como foram os casos de Ghilas, Josué, Licá ou Carlos Eduardo.
A época até começou bem com a conquista de um título: a Supertaça Cândido de Oliveira. Mas foi sol de pouca dura… Se nas provas internas o início até nem foi tão mau quanto isso, a carreira na Liga dos Campeões foi medíocre e o melhor que os portistas conseguiram foi a repescagem para a Liga Europa. Nesse ano, o actual técnico arsenalista ainda haveria de conseguir apurar os portistas para os 1/8 de final da prova antes da sua saída, ao eliminar o Eintracht de Frankfurt, empatando a 3-3 na Alemanha, embora tivesse confundido o nome do clube alemão durante as entrevistas rápidas. Já a nível interno, manteve o FC Porto em prova das duas taças. No que diz respeito à Liga, apesar de deixar muito a desejar em termos exibicionais em vários jogos, manteve-se na luta pelo título até ao fim do segundo terço do campeonato. Depois, uma derrota em casa diante do Estoril seguida de um empate a duas bolas em Guimarães, ditaram a descolagem do Benfica no 1.º lugar e a ultrapassagem pelo Sporting no 2.º posto. A contestação dos adeptos era cada vez maior e a corda acabou mesmo por rebentar para o lado de Fonseca.
Como é habitual no nosso país, muitas vozes opinaram a respeito do futuro da sua carreira, se seria capaz de continuar a trajectória de sucesso após este fracasso na primeira oportunidade que teve de treinar um dos grandes do futebol português. Porventura, esses opinantes esperariam o enveredar por uma aventura pelo estrangeiro, geralmente aliciantes em termos financeiros, mas nem sempre profícuas em termos desportivos. Só que inesperadamente, ele trocou-lhes as voltas e resolveu voltar ao lugar onde fora feliz: Paços de Ferreira. Foi provavelmente uma das decisões mais corajosas que vi algum técnico tomar. Primeiro, ignorou o conselho de Rui Veloso, que canta: “nunca voltes ao lugar onde já foste feliz”. Depois, porque o Paços de Ferreira que reencontrou vinha de uma época dramática, onde desceu do céu ao inferno, na qual falhou o acesso à Liga dos Campeões, definhou pela Liga Europa e salvou-se milagrosamente da descida, beneficiando da promoção administrativa do Boavista e consequente alargamento para 18 clubes.
Esta temporada, em Paços, contou com um plantel muitos furos abaixo da temporada 2012/13, em qualidade e quantidade, e ainda assim só falhou o acesso à Liga Europa por um triz. (Esse “triz” foi um golo marcado por Éderzito na Mata Real no último minuto de descontos, numa partida que acabaria empatada a 2-2. Caso tivesse vencido esse jogo, conquistaria o 6.º lugar). Mas mais do que o bom desempenho pontual, foi a qualidade de jogo evidenciada pelos pacenses. Assim como a revelação de bons jovens valores individuais, como Sérgio Oliveira, Minhoca ou Diogo Jota.
Pela sua coragem, inteligência e humildade, que o fizeram levantar, dar um passo atrás para depois dar passos seguros à frente, merece esta nova oportunidade de treinar um clube com outras aspirações.
A tarefa é árdua, pois tem uma herança pesada da pretérita temporada. Pois, fazer melhor implicará classificar-se nos três primeiros lugares ou vencer a Taça de Portugal. Além disso, vai ter pela frente uma fase de grupos da Liga Europa, onde as expectativas dos bracarenses passam sempre por um apuramento para a fase a eliminar. E a somar a isto, terá de contar com uma redução de 30% em termos de orçamento da época e as saídas de elementos determinantes do plantel passado: Éderzito e Rúben Micael já rumaram a outras paragens; Danilo, Zé Luís, Santos, Rafa ou Pardo, poderão seguir-lhes as pisadas.
Em termos de contratações, a aposta da SAD tem sido exclusivamente na juventude, na tentativa de valorização que permita repetir bons encaixes financeiros no futuro. Até ao momento, estão confirmadas as contratações de dois jovens atacantes brasileiros, Rodrigo Pinho e Crislan, do médio criativo Joan Roman, proveniente da equipa B do Barcelona, e de Ricardo Ferreira, defesa-central que acompanha o treinador na viagem entre Paços de Ferreira e Braga. A estes poderá juntar-se o médio Alef, companheiro de Danilo na selecção brasileira de SUB-20.
Além disso, o plantel contará também com Rodrigo Battaglia, que esteve emprestado ao Moreirense na época passada, para além de algumas promoções da equipa B, como são o caso de Fábio Martins, Vukcevic e Tiago Sá.
Duas questões se levantam:
Será este um plantel em construção à medida de Paulo Fonseca, privilegiando os jovens e capacidade do técnico em acelerar a sua rápida evolução?
Dará garantias para uma época longa e com ambições sempre niveladas por cima?
O que pensam os adeptos?
Como referido logo no início, os sócios e simpatizantes do SC Braga vêm-se a habituando a receber um novo técnico ano após ano e têm apoiado as sucessivas escolhas do seu presidente, muito embora algumas delas tenham sido de critério duvidoso. Independentemente disso, os adeptos gostam de receber bem os novos técnicos, acarinhando-os e demonstrando-lhes o seu apoio aquando das apresentações, mesmo que uns meses mais tarde os estejam a apupar. Tudo isto faz parte do futebol.
Mas a altamente profissionalizada estrutura da SAD do SC Braga não parece entender as coisas desta forma. E assim, este ano optou por preparar a apresentação do novo treinador da seguinte forma: colocando uma tela gigante em fundo, com a imagem do treinador, e um púlpito em pleno relvado, para os discursos da praxe. Colocou também as cadeiras da sala de imprensa na mesma zona do relvado, com lugares de sobra para os jornalistas e para o séquito presidencial. Até aqui, nada contra.
E os adeptos?
Ficaram à porta, como se fossem promotores de vendas ou anunciadores de uma confissão religiosa.
Aqueles que se deslocaram ao Estádio Municipal, com toda a razão, mostraram-se indignados perante tamanha falta de respeito. Um desses adeptos, eu sei, exigiu mesmo a presença de um responsável para dar explicações aos presentes, mas ninguém se dignou a comparecer. E porque a emenda costuma ser pior do que o soneto, o altamente profissionalizado Departamento de Comunicação da SAD emitiu uma nota na rede social Facebook, nos seguintes termos:
“Esclarecimento a todos os sócios e adeptos: a decisão de restringir a conferência de apresentação de Paulo Fonseca à Comunicação Social teve apenas que ver com questões operacionais. O Braga é a sua massa adepta e essa sintonia vai poder ser manifestada muito brevemente. Haverá oportunidade para o contacto entre quem nos apoia e os rostos do nosso futebol: treinadores e jogadores. A época é longa, teremos seguramente um grupo aberto à interação com quem tanto faz por nós. Obrigado pela vossa compreensão.”
Relativamente à justificação alegando “questões operacionais”, o que me apraz dizer é que a consideração pelos adeptos é de tal forma parca, ao ponto de não se darem sequer ao trabalho de arranjar uma desculpa melhor e mais convincente.
Quanto ao argumento de haver oportunidade para o contacto, eu diria aos meus estimados leitores o seguinte:
Imaginem há 2000 anos atrás, na povoação de Belém de Judá, aquando do nascimento de Jesus Cristo, José e Maria a virarem-se para os pastores e os reis Magos que vieram visitar o Menino, impedindo-os de entrar na estrebaria, dizendo-lhes que não faltariam oportunidades para ver o Messias. Até porque, ele só seria crucificado daí a 33 anos…
E por aqui me fico, estimados leitores, porque receio bem que algum de vós tenda a fazer uma ligação entre aqueles que tiveram a ideia de organizar a apresentação do treinador nestes moldes, com uma das figuras do presépio. E não é isso que se pretende.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
Como referido logo no início, os sócios e simpatizantes do SC Braga vêm-se a habituando a receber um novo técnico ano após ano e têm apoiado as sucessivas escolhas do seu presidente, muito embora algumas delas tenham sido de critério duvidoso. Independentemente disso, os adeptos gostam de receber bem os novos técnicos, acarinhando-os e demonstrando-lhes o seu apoio aquando das apresentações, mesmo que uns meses mais tarde os estejam a apupar. Tudo isto faz parte do futebol.
Mas a altamente profissionalizada estrutura da SAD do SC Braga não parece entender as coisas desta forma. E assim, este ano optou por preparar a apresentação do novo treinador da seguinte forma: colocando uma tela gigante em fundo, com a imagem do treinador, e um púlpito em pleno relvado, para os discursos da praxe. Colocou também as cadeiras da sala de imprensa na mesma zona do relvado, com lugares de sobra para os jornalistas e para o séquito presidencial. Até aqui, nada contra.
E os adeptos?
Ficaram à porta, como se fossem promotores de vendas ou anunciadores de uma confissão religiosa.
Aqueles que se deslocaram ao Estádio Municipal, com toda a razão, mostraram-se indignados perante tamanha falta de respeito. Um desses adeptos, eu sei, exigiu mesmo a presença de um responsável para dar explicações aos presentes, mas ninguém se dignou a comparecer. E porque a emenda costuma ser pior do que o soneto, o altamente profissionalizado Departamento de Comunicação da SAD emitiu uma nota na rede social Facebook, nos seguintes termos:
“Esclarecimento a todos os sócios e adeptos: a decisão de restringir a conferência de apresentação de Paulo Fonseca à Comunicação Social teve apenas que ver com questões operacionais. O Braga é a sua massa adepta e essa sintonia vai poder ser manifestada muito brevemente. Haverá oportunidade para o contacto entre quem nos apoia e os rostos do nosso futebol: treinadores e jogadores. A época é longa, teremos seguramente um grupo aberto à interação com quem tanto faz por nós. Obrigado pela vossa compreensão.”
Relativamente à justificação alegando “questões operacionais”, o que me apraz dizer é que a consideração pelos adeptos é de tal forma parca, ao ponto de não se darem sequer ao trabalho de arranjar uma desculpa melhor e mais convincente.
Quanto ao argumento de haver oportunidade para o contacto, eu diria aos meus estimados leitores o seguinte:
Imaginem há 2000 anos atrás, na povoação de Belém de Judá, aquando do nascimento de Jesus Cristo, José e Maria a virarem-se para os pastores e os reis Magos que vieram visitar o Menino, impedindo-os de entrar na estrebaria, dizendo-lhes que não faltariam oportunidades para ver o Messias. Até porque, ele só seria crucificado daí a 33 anos…
E por aqui me fico, estimados leitores, porque receio bem que algum de vós tenda a fazer uma ligação entre aqueles que tiveram a ideia de organizar a apresentação do treinador nestes moldes, com uma das figuras do presépio. E não é isso que se pretende.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)