Ainda bem para o SC Braga que os jogos desta época contra candidatos ao título terminaram. Apesar das duas derrotas consecutivas diante dos dois primeiros classificados da liga, o objectivo da época em termos de campeonato, o 4.º lugar, não saiu beliscado porquanto o mais directo perseguidor também perdeu nestas duas últimas rondas. Assim, o Braga mantém uma distância de seis pontos para o 5.º classificado, ficou mais distante do pódio (sete pontos o separam do 3.º lugar agora), mas pode encarar o resto da liga com confiança no alcançar da meta a que se tinha proposto do início da época, podendo preparar da melhor forma a meia-final da Taça de Portugal e tentar, à segunda, ultrapassar o obstáculo Rio Ave e chegar à tão desejada final do Jamor.
A semana que passou revelou-se um verdadeiro inferno para o grupo de trabalho bracarense. Não há memória de um ataque tão violento ao profissionalismo, dignidade e seriedade de uma equipa de futebol em Portugal. Logo após o final do jogo da Pedreira, disputado no passado dia 6 de Março e do qual já se fez aqui a devida escalpelização, começaram alguns papagaios na televisão a debitar baboseiras sobre uma alegada “suavidade” da equipa do Braga nesse mesmo jogo. Absurdos nunca devem ser ditos, mesmo que proferidos no interior duma tasca. Pior ainda, se for aos microfones de um órgão de comunicação social, cujas audiências abarcam milhares e até milhões de espectadores. Ao longo da semana, foram vários os opinantes que insistentemente fizeram insinuações sobre a alegada falta de intensidade dos jogadores do Braga diante do segundo classificado da liga. Trata-se de uma técnica de condicionamento da opinião pública, repetindo a mesma mentira sucessivas vezes, recorrendo a argumentação falaciosa, com o objectivo de fazer passar a mentira como uma verdade inquestionável. A utilização desta prática não é de agora, Joseph Goebbels foi um dos seus expoentes máximos nas décadas de 30 e 40.
É certo que os diversos papagaios que disseminaram esses absurdos, todos eles têm exemplos moralmente duvidosos. Falo-vos de um locutor da rádio, de um antigo porta-voz de José Mourinho e de um ex-ministro medíocre de um governo desastroso de Santana Lopes. Embora as vozes desses opinantes não cheguem ao céu, estas reverberam bastante porque os microfones da TV a isso permitem. Pena é que a reacção da administração da SAD do SC Braga não tivesse sido suficientemente enérgica, limitando-se à difusão de um comunicado curto enviado às redacções. Mais uma vez, foi o treinador Sérgio Conceição a vir em defesa do grupo de trabalho, depois de um violento e soez atentado à dignidade e brio dos profissionais do clube bracarense. Aparentemente, o tal ex-ministro que, aparentemente, ainda tem algumas ligações à direcção do clube da Luz, curiosamente, é associado do SC Braga. Quem o afirmou foi António Salvador, depois de questionado pelos jornalistas a propósito das declarações desse papagaio. Em vez de ironizar com a situação, porque é que o presidente da SAD, que também é simultaneamente presidente do clube, não promoveu a imediata expulsão de associado a esse indivíduo?
Só alguém com distúrbios mentais é capaz de imaginar possível a um treinador pedir aos seus jogadores para darem o máximo jogo após jogo, mas no dia de defrontar um determinado adversário, já deverão baixar a intensidade para permitir a esse adversário vencer com facilidade. E depois no próximo desafio, deixarem a pele em campo porque esse outro adversário é concorrente daquele a quem se facilitara a vida oito dias em antes. Eu que algumas vezes tenho sido crítico do treinador Julen Lopetegui, desta feita tenho de lhe tirar o chapéu pela feliz caracterização que fez do delírio colectivo destes papagaios: ficção científica. Sim, ficção científica e da mais foleira.
Feita a justa defesa da honra dos profissionais do SC Braga, não se pense que me esqueci da pouca qualidade futebolística apresentada nestes dois últimos jogos, que tiveram bastantes semelhanças. É óbvio que os arsenalistas teriam imensas dificuldades em pontuar diante de dois adversários tão fortes e ambos a atravessar excelentes momentos na época. Sérgio Conceição percebeu correctamente as limitações da sua equipa e sabe melhor ainda que não poderia jogar de olhos-nos-olhos com adversários deste gabarito, como já fizeram outros técnicos que o precederam nas épocas áureas do passado recente. Num e noutro jogo, é perfeitamente normal que o Braga entregasse a iniciativa de jogo ao oponente mais forte, mas esperava-se outro desempenho ao nível do contra-ataque, um registo no qual os bracarenses se têm revelado exímios. Em nenhum destes dois jogos o Braga foi capaz de responder de forma consistente em termos de saídas rápidas. Como consequência, criou escassas ocasiões de golo nesses dois jogos e, por isso, não é de admirar que em 180 minutos não tivesse marcado nenhum golo. E como atacou pouco e teve pouca posse de bola, mais cedo ou mais tarde acabaria por sofrer um golo. Ontem na Luz foi Jonas, aos 21, e Eliseu aos 76 minutos.
Porque não funcionou o contra-ataque do Braga?
Primeiro: tanto Lopetegui, como Jesus, estudaram bem a forma de jogar dos bracarenses e encontraram os antídotos na qualidade dos seus jogadores e na eficiência em termos de organização. No caso de Jesus, mal seria se assim não fosse, depois de ter sido apanhado desprevenido por duas vezes na presente temporada.
Segundo: a estratégia de contenção defensiva colocou Danilo e Tiba em sectores demasiado recuados, sempre mais próximos do quarteto defensivo do que do trio atacante. A meu ver, pelo facto de um e outro não terem características de pivô defensivo de meio-campo, daí a necessidade de estarem sempre próximos um do outro.
Terceiro: o recuo de Danilo e Tiba atribui a Rúben Micael a exclusiva tarefa de carregar a bola para o ataque. E a colocação do madeirense sozinho contra Casemiro, Herrera e Evandro, ou contra Samaris e Pizzi, definitivamente não resultou.
Quarto: os laterais, com preocupações de sobra, pois pela frente tiveram Brahimi, Tello, Sálvio e Gaitán, não se puderam estender no flanco, tal como em outros jogos. Dizer ainda, relativamente ao jogo de ontem, da imprudência de Tiago Gomes, pela forma como viu o segundo amarelo, completamente escusado.
Quinto: não havendo transporte de bola em condições, os extremos foram forçados a tentarem fazer tudo sozinho, avançando pelos flancos como quem luta contra o mundo. Para agravar o quadro, uma das armas com que Sérgio Conceição contava para o contragolpe praticamente não se viu nestes dois jogos: Rafa.
Terminado o suplício das duas últimas jornadas, o Braga tem a oportunidade (para não dizer obrigação) de voltar às boas exibições no próximo jogo diante da aflita Académica, agora que vai poder trabalhar tranquilamente, afastado da sofreguidão da imprensa pelas polémicas. Como referido inicialmente, o 4.º lugar dificilmente fugirá, até porque a concorrência nesta segunda volta não mostra grande capacidade. Mas no que toca à Taça de Portugal, há batalhas de grande monta pela frente. O Braga tem legítimas aspirações à conquista desta prova, mas terá obrigatoriamente de o provar em campo, com bom futebol e golos.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
A semana que passou revelou-se um verdadeiro inferno para o grupo de trabalho bracarense. Não há memória de um ataque tão violento ao profissionalismo, dignidade e seriedade de uma equipa de futebol em Portugal. Logo após o final do jogo da Pedreira, disputado no passado dia 6 de Março e do qual já se fez aqui a devida escalpelização, começaram alguns papagaios na televisão a debitar baboseiras sobre uma alegada “suavidade” da equipa do Braga nesse mesmo jogo. Absurdos nunca devem ser ditos, mesmo que proferidos no interior duma tasca. Pior ainda, se for aos microfones de um órgão de comunicação social, cujas audiências abarcam milhares e até milhões de espectadores. Ao longo da semana, foram vários os opinantes que insistentemente fizeram insinuações sobre a alegada falta de intensidade dos jogadores do Braga diante do segundo classificado da liga. Trata-se de uma técnica de condicionamento da opinião pública, repetindo a mesma mentira sucessivas vezes, recorrendo a argumentação falaciosa, com o objectivo de fazer passar a mentira como uma verdade inquestionável. A utilização desta prática não é de agora, Joseph Goebbels foi um dos seus expoentes máximos nas décadas de 30 e 40.
É certo que os diversos papagaios que disseminaram esses absurdos, todos eles têm exemplos moralmente duvidosos. Falo-vos de um locutor da rádio, de um antigo porta-voz de José Mourinho e de um ex-ministro medíocre de um governo desastroso de Santana Lopes. Embora as vozes desses opinantes não cheguem ao céu, estas reverberam bastante porque os microfones da TV a isso permitem. Pena é que a reacção da administração da SAD do SC Braga não tivesse sido suficientemente enérgica, limitando-se à difusão de um comunicado curto enviado às redacções. Mais uma vez, foi o treinador Sérgio Conceição a vir em defesa do grupo de trabalho, depois de um violento e soez atentado à dignidade e brio dos profissionais do clube bracarense. Aparentemente, o tal ex-ministro que, aparentemente, ainda tem algumas ligações à direcção do clube da Luz, curiosamente, é associado do SC Braga. Quem o afirmou foi António Salvador, depois de questionado pelos jornalistas a propósito das declarações desse papagaio. Em vez de ironizar com a situação, porque é que o presidente da SAD, que também é simultaneamente presidente do clube, não promoveu a imediata expulsão de associado a esse indivíduo?
Só alguém com distúrbios mentais é capaz de imaginar possível a um treinador pedir aos seus jogadores para darem o máximo jogo após jogo, mas no dia de defrontar um determinado adversário, já deverão baixar a intensidade para permitir a esse adversário vencer com facilidade. E depois no próximo desafio, deixarem a pele em campo porque esse outro adversário é concorrente daquele a quem se facilitara a vida oito dias em antes. Eu que algumas vezes tenho sido crítico do treinador Julen Lopetegui, desta feita tenho de lhe tirar o chapéu pela feliz caracterização que fez do delírio colectivo destes papagaios: ficção científica. Sim, ficção científica e da mais foleira.
Feita a justa defesa da honra dos profissionais do SC Braga, não se pense que me esqueci da pouca qualidade futebolística apresentada nestes dois últimos jogos, que tiveram bastantes semelhanças. É óbvio que os arsenalistas teriam imensas dificuldades em pontuar diante de dois adversários tão fortes e ambos a atravessar excelentes momentos na época. Sérgio Conceição percebeu correctamente as limitações da sua equipa e sabe melhor ainda que não poderia jogar de olhos-nos-olhos com adversários deste gabarito, como já fizeram outros técnicos que o precederam nas épocas áureas do passado recente. Num e noutro jogo, é perfeitamente normal que o Braga entregasse a iniciativa de jogo ao oponente mais forte, mas esperava-se outro desempenho ao nível do contra-ataque, um registo no qual os bracarenses se têm revelado exímios. Em nenhum destes dois jogos o Braga foi capaz de responder de forma consistente em termos de saídas rápidas. Como consequência, criou escassas ocasiões de golo nesses dois jogos e, por isso, não é de admirar que em 180 minutos não tivesse marcado nenhum golo. E como atacou pouco e teve pouca posse de bola, mais cedo ou mais tarde acabaria por sofrer um golo. Ontem na Luz foi Jonas, aos 21, e Eliseu aos 76 minutos.
Porque não funcionou o contra-ataque do Braga?
Primeiro: tanto Lopetegui, como Jesus, estudaram bem a forma de jogar dos bracarenses e encontraram os antídotos na qualidade dos seus jogadores e na eficiência em termos de organização. No caso de Jesus, mal seria se assim não fosse, depois de ter sido apanhado desprevenido por duas vezes na presente temporada.
Segundo: a estratégia de contenção defensiva colocou Danilo e Tiba em sectores demasiado recuados, sempre mais próximos do quarteto defensivo do que do trio atacante. A meu ver, pelo facto de um e outro não terem características de pivô defensivo de meio-campo, daí a necessidade de estarem sempre próximos um do outro.
Terceiro: o recuo de Danilo e Tiba atribui a Rúben Micael a exclusiva tarefa de carregar a bola para o ataque. E a colocação do madeirense sozinho contra Casemiro, Herrera e Evandro, ou contra Samaris e Pizzi, definitivamente não resultou.
Quarto: os laterais, com preocupações de sobra, pois pela frente tiveram Brahimi, Tello, Sálvio e Gaitán, não se puderam estender no flanco, tal como em outros jogos. Dizer ainda, relativamente ao jogo de ontem, da imprudência de Tiago Gomes, pela forma como viu o segundo amarelo, completamente escusado.
Quinto: não havendo transporte de bola em condições, os extremos foram forçados a tentarem fazer tudo sozinho, avançando pelos flancos como quem luta contra o mundo. Para agravar o quadro, uma das armas com que Sérgio Conceição contava para o contragolpe praticamente não se viu nestes dois jogos: Rafa.
Terminado o suplício das duas últimas jornadas, o Braga tem a oportunidade (para não dizer obrigação) de voltar às boas exibições no próximo jogo diante da aflita Académica, agora que vai poder trabalhar tranquilamente, afastado da sofreguidão da imprensa pelas polémicas. Como referido inicialmente, o 4.º lugar dificilmente fugirá, até porque a concorrência nesta segunda volta não mostra grande capacidade. Mas no que toca à Taça de Portugal, há batalhas de grande monta pela frente. O Braga tem legítimas aspirações à conquista desta prova, mas terá obrigatoriamente de o provar em campo, com bom futebol e golos.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)