INTRODUÇÃO
Vou começar esta crónica com alguma arrogância, escrevendo duas frases que me poderão, ou não, vir depois a perseguir-me mais tarde:
Quando o árbitro pôs termos aos 90 minutos regulamentares, pedia-se que houvesse um artigo qualquer no regulamento da Taça de Portugal que, em circunstâncias muito excepcionais, permitisse que no final duma eliminatória, duas equipas pudessem seguir em frente. Colocando de lado as preferências clubísticas de cada um, a sensação que fica é que nenhum dos finalistas da edição 2014/2015 merecia sair da prova, porque o espectáculo que proporcionaram ontem aos milhares que se deslocaram à Pedreira e aos milhões que assistiram pela TV, foi uma antologia do futebol. Para além dos golos, todos eles pejados de técnica e arte, seis no tempo regulamentar e mais um no prolongamento, houve emoção, incerteza no resultado e três reviravoltas no marcador.
É verdade que estas duas equipas já haviam proporcionado emoção em 31 de Maio, no Jamor, mas em circunstâncias completamente diferentes. O jogo disputado no Estádio Nacional teve altas vibrações apenas nos últimos minutos, quando o Sporting CP reduzido a dez conseguiu empatar um jogo que perdia por dois golos. Mas em termos de qualidade de jogo, deixou algo a desejar. Eu arrisco-me a dizer que nessa final o Sporting CP jogou pouco, o SC Braga jogou quase nada.
Ontem não! Porque desde o primeiro minuto ambas as formações explanaram pelo rectângulo mágico toda a sua qualidade, de olhos nos olhos, sempre na busca do golo. Era do género: ora agora marcas tu, ora agora marco eu. Em suma, um hino ao futebol. Mas, alguém teria de vencer aquele jogo, que foi até ao momento o melhor de todos os jogos da época e dificilmente haverá outro igual. Acabou por vencer o Braga esta final antecipada, no prolongamento, onde me pareceu ter estado melhor que o adversário, pelos menos em termos de organização e equilíbrio. E quiçá, com um pouco mais de reserva física. O momento chave acabaria por chegar ao minuto 111, da cabeça de um menino cuja sorte tem sido madrasta, apoquentado por graves e arreliadores lesões. Até nisso os deuses do futebol foram generosos, ontem, ao possibilitar a glória a quem tanto tem penado na carreira de futebolista.
No final do encontro, o cumprimento entre os dois melhores treinadores do futebol disputado em Portugal, porque são eles os engenheiros criadores de duas verdadeiras máquinas de jogar à bola. Os adeptos de um e de outro lado, embora em estados de alma diametralmente opostos, todos saudaram efusivamente as respectivas equipas. Nem poderia ser de outra forma.
O ANTES
Braga e Sporting estão a realizar épocas de qualidade. Os leões lideram o campeonato, ao passo que os arsenalistas estão no 4.º lugar que é o objectivo assumido. Na Liga Europa, ambos os emblemas seguiram em frente, os de Braga com um percurso mais seguro e tranquilo, os de Lisboa com altos e baixos.
Há muito que Jorge Jesus definiu a conquista do título de campeão nacional como prioridade absoluta, muito embora se saiba que ele não gosta de perder nem a feijões. Ele sabe o quão importante é receber o FC Porto em Alvalade, dentro de duas jornadas, na liderança da prova e por isso preocupa-o o próximo jogo diante do União da Madeira, onde o rival Benfica parece ter comprometido seriamente as hipóteses de chegar ao “tri”.
Quanto a Paulo Fonseca, ele tinha dito que vencer o actual Sporting era difícil, mas não impossível. Porém, nunca quis abordar este jogo como se de um ajuste de contas se tratasse, porque passado é passado e, além disso, não fora ele que deixara fugir a Taça por entre as mãos naquele jogo inglório do Jamor.
O DURANTE
Independentemente do que escrevi no capítulo anterior, as equipas entraram em campo para ganhar, ainda que com respeito mútuo. Paulo Fonseca alterou a sua dupla de pivôs de meio-campo, colocando Luiz Carlos e Vukcevic para assegurar mais consistência e combatividade ao miolo. Do outro lado, Jesus abdicou do 4-4-2, optando por deixar Slimani sozinho na frente e acrescentando Acquilani a uma linha média muito densa, onde se juntavam William, Adrien e João Mário.
As equipas corresponderam ao que delas se esperava, muita disputa, bom futebol e perigo a rondar uma e outra baliza. Mas logo aos 10 minutos, Bryan Ruiz abriu as hostilidades com um soberbo remate de pé esquerdo, de primeira, colocado junto ao poste direito, sem hipóteses para Matheus. A defesa do Braga poderia ter feito mais, mas também há mérito do génio costa-riquenho.
Este golo precoce fez pairar na Pedreira o fantasma do jogo com o Benfica. Se é verdade que o Braga, uma vez mais, teve uma boa reação a um golo sofrido, procurando o golo do empate com o futebol de qualidade a que já nos habituou, no processo defensivo o edifício tremia bastante. Com o passar do tempo, essa intranquilidade do sector recuado ia contagiando toda a equipa e a enorme pressão exercida pelo Sporting logo após a saída da área, em nada ajudava. O último quarto de hora estava a ser algo sofrível por parte da equipa da casa, mas, aos 41 minutos o ataque do Braga apanhou uma defesa sportinguista, como que anestesiada, e num lance de transição, Wilson Eduardo ficou isolado diante de Rui Patrício e não perdoou. O ex-leão fez o seu papel, mas não celebrou o golo marcado à sua antiga equipa. O empate a uma bola ao intervalo era um resultado justo.
O golo conseguido minutos antes do descanso trouxe um SC Braga mais confiante para a segunda parte. E essa boa entrada dos vermelhos e brancos deu logo frutos aos 54 minutos, quando Alan, o interminável capitão, assinou mais um golo de fino recorte técnico, que em nada ficou atrás ao de Ruiz. Mas os festejos bracarenses duraram pouco, porque bastaram apenas três minutos para que o Sporting, através de um cabeceamento de Slimani após cruzamento milimétrico de Acquilani, restabelece novamente a igualdade no jogo.
O espectáculo continuava, o público assistia maravilhado. Só foram precisos mais dez minutos para haver nova remontada no marcador, quando William Carvalho se lembrou de descer à área e de frente para a baliza desferiu, também, um remate colocado rente ao poste esquerdo. Nova cambalhota no marcador.
Porém, contrariamente à primeira parte, o Braga não se deixou afectar por mais um “tiro no porta-aviões”. Já com Stojilijovic e Rui Fonte em campo, a equipa da casa foi à procura da igualdade. E fê-lo com inteligência, pelas alas, porque pelo meio era difícil transpor o poderoso bloco de meio-campo leonino. Depois de tanto tentar, o golo do empate haveria de surgir por Marcelo Goiano, aos 83 minutos, numa fase do jogo em que o Braga revelava algum ascendente. O remate do lateral brasileiro ainda desvia num defensor verde e branco, impossibilitando a defesa a Rui Patrício. Nova explosão de alegria nas bancadas da Pedreira.
Com três golos marcados por cada um dos intervenientes na contenda, o jogo foi para prolongamento. Quem assistia ao jogo, tinha a sensação que a partida poderia tombar para qualquer um dos lados. Restava saber se alguém tinha ainda reservas de energia, genialidade ou sorte, para conseguir derrotar o adversário. Ou se teríamos novo desempate pela lotaria das grandes penalidades, tal como no Jamor.
A primeira parte do prolongamento fica marcada por um lance do ataque do Sporting, em que Slimani se isola e consegue introduzir a bola na baliza de Matheus. Fico com a dúvida se o árbitro assinala irregularidade logo após o argelino receber a bola, fazendo Matheus desistir do lance. Mas não há dúvida nenhuma quanto à posição legal do argelino no momento do passe, só que o árbitro assistente, que estava do lado contrário em relação ao local onde o avançado do Sporting se encontrava, assinalou mal o fora-de-jogo. Também se poderá discutir a respeito de Slimani, que de facto no lance não estava em fora-de-jogo, se o argelino naquele momento não deveria estar já “fora do jogo”. Pois, mesmo antes do cartão amarelo que o árbitro lhe exibiu ao minuto 81, já por diversas vezes o avançado tinha protagonizado lances de incorrecta conduta desportiva, nomeadamente, quando saltou e atingiu com o cotovelo um adversário, ou outras entradas em que ergueu os pitons da bota mais do que devia.
Na segunda metade do tempo extra, mais concrectamente ao minuto 111, o lance que decide o jogo: cruzamento da direita de Baiano e Rui Fonte a aparecer no meio dos centrais do Sporting, a cabecear como mandam as leis e a sentenciar o destino do jogo.
Até final, o Braga foi capaz de fazer aquilo que não conseguiu no Jamor, isto é, segurar a vantagem com unhas e dentes, não permitindo ao adversário rematar à baliza. Quando as forças já escasseavam, a equipa fechou-se em bloco, grande solidariedade entre todos. Às vezes jogando feio, outras vezes com alguma matreirice, mas eficaz e competente, fazendo por merecer o triunfo num jogo onde, como já se disse, nenhuma das equipas merecia a eliminação da Taça.
O DEPOIS
Num jogo verdadeiramente alucinante, onde a emoção, golos e bom futebol jorraram como petróleo no deserto Saudita, certamente haveria muito a dizer e não foi de admirar que os treinadores tivessem uma sala de imprensa cheia à sua espera.
Obviamente, Jorge Jesus não estava satisfeito com o resultado, mas contente com o bom desempenho da sua equipa. Optou por centrar a sua intervenção no árbitro, apontando o dedo ao lance de fora-de-jogo de Slimani. Noutras ocasiões em que os árbitros cometeram erros em jogos envolvendo o Sporting, Jorge Jesus nada disse.
Mais coerente foi Paulo Fonseca, que não falou da arbitragem neste jogo, tal como não falou nas arbitragens dos três jogos anteriores, nos quais não foram assinaladas outras tantas grandes penalidades a seu favor. E teve razão quando disse que, perante o belo espectáculo de futebol a que se assistiu, seria natural não se dar relevância à arbitragem.
Quando questionado sobre as hipóteses da sua equipa chegar de novo à final, o técnico arsenalista admitiu o óbvio, isto é, com dois favoritos afastados (Benfica e Sporting) as possibilidades aumentaram. Mas ainda assim, a sua equipa ainda terá de ultrapassar vários obstáculos.
NOTAS
Durante a segunda parte do tempo regulamentar, ao ver um adversário caído no campo, Bryan Ruiz tomou uma atitude de desportivismo que só enobrece um jogador, ao jogar a bola para fora do campo. Por isso, não merecia este grande jogador a reprimenda que levou do seu treinador. Mereceu sim, os aplausos da bancada.
Na final do Jamor a 31 de Maio, Rui Patrício sofrera uma lesão durante o jogo, mas embora em inferioridade física, acabou por ter uma contribuição decisiva para a vitória da sua equipa. Ontem foi a vez de Matheus se lesionar, terminando também ele o jogo com evidente sacrifício, mas também ele conseguiu sair vitorioso da partida.
O Braga tinha apenas marcado um golo nos três jogos anteriores, neste jogo marcou quatro. Já o Sporting, não perdia para provas nacionais há 30 jogos, a última derrota tinha sido no Dragão, para o campeonato da época passada.
Desde que assumiu a presidência do Sporting em 2013, Bruno de Carvalho venceu sempre o SC Braga. Até ao dia em que contratou Jorge Jesus para treinador, pois, o actual timoneiro dos leões tem um histórico nada positivo quando defrontou o Braga em jogos de “mata-mata”: eliminado da Liga Europa em 2011, eliminado da Taça da Liga em 2013 e eliminado da Taça de Portugal em 2014 e 2015.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
Vou começar esta crónica com alguma arrogância, escrevendo duas frases que me poderão, ou não, vir depois a perseguir-me mais tarde:
- Quem não assistiu ao jogo entre SC Braga e Sporting CP, disputado no dia 16/12/2015, não sabe o que é futebol.
- À data, SC Braga e Sporting CP são, de longe, as duas equipas que melhor futebol praticam em Portugal.
Quando o árbitro pôs termos aos 90 minutos regulamentares, pedia-se que houvesse um artigo qualquer no regulamento da Taça de Portugal que, em circunstâncias muito excepcionais, permitisse que no final duma eliminatória, duas equipas pudessem seguir em frente. Colocando de lado as preferências clubísticas de cada um, a sensação que fica é que nenhum dos finalistas da edição 2014/2015 merecia sair da prova, porque o espectáculo que proporcionaram ontem aos milhares que se deslocaram à Pedreira e aos milhões que assistiram pela TV, foi uma antologia do futebol. Para além dos golos, todos eles pejados de técnica e arte, seis no tempo regulamentar e mais um no prolongamento, houve emoção, incerteza no resultado e três reviravoltas no marcador.
É verdade que estas duas equipas já haviam proporcionado emoção em 31 de Maio, no Jamor, mas em circunstâncias completamente diferentes. O jogo disputado no Estádio Nacional teve altas vibrações apenas nos últimos minutos, quando o Sporting CP reduzido a dez conseguiu empatar um jogo que perdia por dois golos. Mas em termos de qualidade de jogo, deixou algo a desejar. Eu arrisco-me a dizer que nessa final o Sporting CP jogou pouco, o SC Braga jogou quase nada.
Ontem não! Porque desde o primeiro minuto ambas as formações explanaram pelo rectângulo mágico toda a sua qualidade, de olhos nos olhos, sempre na busca do golo. Era do género: ora agora marcas tu, ora agora marco eu. Em suma, um hino ao futebol. Mas, alguém teria de vencer aquele jogo, que foi até ao momento o melhor de todos os jogos da época e dificilmente haverá outro igual. Acabou por vencer o Braga esta final antecipada, no prolongamento, onde me pareceu ter estado melhor que o adversário, pelos menos em termos de organização e equilíbrio. E quiçá, com um pouco mais de reserva física. O momento chave acabaria por chegar ao minuto 111, da cabeça de um menino cuja sorte tem sido madrasta, apoquentado por graves e arreliadores lesões. Até nisso os deuses do futebol foram generosos, ontem, ao possibilitar a glória a quem tanto tem penado na carreira de futebolista.
No final do encontro, o cumprimento entre os dois melhores treinadores do futebol disputado em Portugal, porque são eles os engenheiros criadores de duas verdadeiras máquinas de jogar à bola. Os adeptos de um e de outro lado, embora em estados de alma diametralmente opostos, todos saudaram efusivamente as respectivas equipas. Nem poderia ser de outra forma.
O ANTES
Braga e Sporting estão a realizar épocas de qualidade. Os leões lideram o campeonato, ao passo que os arsenalistas estão no 4.º lugar que é o objectivo assumido. Na Liga Europa, ambos os emblemas seguiram em frente, os de Braga com um percurso mais seguro e tranquilo, os de Lisboa com altos e baixos.
Há muito que Jorge Jesus definiu a conquista do título de campeão nacional como prioridade absoluta, muito embora se saiba que ele não gosta de perder nem a feijões. Ele sabe o quão importante é receber o FC Porto em Alvalade, dentro de duas jornadas, na liderança da prova e por isso preocupa-o o próximo jogo diante do União da Madeira, onde o rival Benfica parece ter comprometido seriamente as hipóteses de chegar ao “tri”.
Quanto a Paulo Fonseca, ele tinha dito que vencer o actual Sporting era difícil, mas não impossível. Porém, nunca quis abordar este jogo como se de um ajuste de contas se tratasse, porque passado é passado e, além disso, não fora ele que deixara fugir a Taça por entre as mãos naquele jogo inglório do Jamor.
O DURANTE
Independentemente do que escrevi no capítulo anterior, as equipas entraram em campo para ganhar, ainda que com respeito mútuo. Paulo Fonseca alterou a sua dupla de pivôs de meio-campo, colocando Luiz Carlos e Vukcevic para assegurar mais consistência e combatividade ao miolo. Do outro lado, Jesus abdicou do 4-4-2, optando por deixar Slimani sozinho na frente e acrescentando Acquilani a uma linha média muito densa, onde se juntavam William, Adrien e João Mário.
As equipas corresponderam ao que delas se esperava, muita disputa, bom futebol e perigo a rondar uma e outra baliza. Mas logo aos 10 minutos, Bryan Ruiz abriu as hostilidades com um soberbo remate de pé esquerdo, de primeira, colocado junto ao poste direito, sem hipóteses para Matheus. A defesa do Braga poderia ter feito mais, mas também há mérito do génio costa-riquenho.
Este golo precoce fez pairar na Pedreira o fantasma do jogo com o Benfica. Se é verdade que o Braga, uma vez mais, teve uma boa reação a um golo sofrido, procurando o golo do empate com o futebol de qualidade a que já nos habituou, no processo defensivo o edifício tremia bastante. Com o passar do tempo, essa intranquilidade do sector recuado ia contagiando toda a equipa e a enorme pressão exercida pelo Sporting logo após a saída da área, em nada ajudava. O último quarto de hora estava a ser algo sofrível por parte da equipa da casa, mas, aos 41 minutos o ataque do Braga apanhou uma defesa sportinguista, como que anestesiada, e num lance de transição, Wilson Eduardo ficou isolado diante de Rui Patrício e não perdoou. O ex-leão fez o seu papel, mas não celebrou o golo marcado à sua antiga equipa. O empate a uma bola ao intervalo era um resultado justo.
O golo conseguido minutos antes do descanso trouxe um SC Braga mais confiante para a segunda parte. E essa boa entrada dos vermelhos e brancos deu logo frutos aos 54 minutos, quando Alan, o interminável capitão, assinou mais um golo de fino recorte técnico, que em nada ficou atrás ao de Ruiz. Mas os festejos bracarenses duraram pouco, porque bastaram apenas três minutos para que o Sporting, através de um cabeceamento de Slimani após cruzamento milimétrico de Acquilani, restabelece novamente a igualdade no jogo.
O espectáculo continuava, o público assistia maravilhado. Só foram precisos mais dez minutos para haver nova remontada no marcador, quando William Carvalho se lembrou de descer à área e de frente para a baliza desferiu, também, um remate colocado rente ao poste esquerdo. Nova cambalhota no marcador.
Porém, contrariamente à primeira parte, o Braga não se deixou afectar por mais um “tiro no porta-aviões”. Já com Stojilijovic e Rui Fonte em campo, a equipa da casa foi à procura da igualdade. E fê-lo com inteligência, pelas alas, porque pelo meio era difícil transpor o poderoso bloco de meio-campo leonino. Depois de tanto tentar, o golo do empate haveria de surgir por Marcelo Goiano, aos 83 minutos, numa fase do jogo em que o Braga revelava algum ascendente. O remate do lateral brasileiro ainda desvia num defensor verde e branco, impossibilitando a defesa a Rui Patrício. Nova explosão de alegria nas bancadas da Pedreira.
Com três golos marcados por cada um dos intervenientes na contenda, o jogo foi para prolongamento. Quem assistia ao jogo, tinha a sensação que a partida poderia tombar para qualquer um dos lados. Restava saber se alguém tinha ainda reservas de energia, genialidade ou sorte, para conseguir derrotar o adversário. Ou se teríamos novo desempate pela lotaria das grandes penalidades, tal como no Jamor.
A primeira parte do prolongamento fica marcada por um lance do ataque do Sporting, em que Slimani se isola e consegue introduzir a bola na baliza de Matheus. Fico com a dúvida se o árbitro assinala irregularidade logo após o argelino receber a bola, fazendo Matheus desistir do lance. Mas não há dúvida nenhuma quanto à posição legal do argelino no momento do passe, só que o árbitro assistente, que estava do lado contrário em relação ao local onde o avançado do Sporting se encontrava, assinalou mal o fora-de-jogo. Também se poderá discutir a respeito de Slimani, que de facto no lance não estava em fora-de-jogo, se o argelino naquele momento não deveria estar já “fora do jogo”. Pois, mesmo antes do cartão amarelo que o árbitro lhe exibiu ao minuto 81, já por diversas vezes o avançado tinha protagonizado lances de incorrecta conduta desportiva, nomeadamente, quando saltou e atingiu com o cotovelo um adversário, ou outras entradas em que ergueu os pitons da bota mais do que devia.
Na segunda metade do tempo extra, mais concrectamente ao minuto 111, o lance que decide o jogo: cruzamento da direita de Baiano e Rui Fonte a aparecer no meio dos centrais do Sporting, a cabecear como mandam as leis e a sentenciar o destino do jogo.
Até final, o Braga foi capaz de fazer aquilo que não conseguiu no Jamor, isto é, segurar a vantagem com unhas e dentes, não permitindo ao adversário rematar à baliza. Quando as forças já escasseavam, a equipa fechou-se em bloco, grande solidariedade entre todos. Às vezes jogando feio, outras vezes com alguma matreirice, mas eficaz e competente, fazendo por merecer o triunfo num jogo onde, como já se disse, nenhuma das equipas merecia a eliminação da Taça.
O DEPOIS
Num jogo verdadeiramente alucinante, onde a emoção, golos e bom futebol jorraram como petróleo no deserto Saudita, certamente haveria muito a dizer e não foi de admirar que os treinadores tivessem uma sala de imprensa cheia à sua espera.
Obviamente, Jorge Jesus não estava satisfeito com o resultado, mas contente com o bom desempenho da sua equipa. Optou por centrar a sua intervenção no árbitro, apontando o dedo ao lance de fora-de-jogo de Slimani. Noutras ocasiões em que os árbitros cometeram erros em jogos envolvendo o Sporting, Jorge Jesus nada disse.
Mais coerente foi Paulo Fonseca, que não falou da arbitragem neste jogo, tal como não falou nas arbitragens dos três jogos anteriores, nos quais não foram assinaladas outras tantas grandes penalidades a seu favor. E teve razão quando disse que, perante o belo espectáculo de futebol a que se assistiu, seria natural não se dar relevância à arbitragem.
Quando questionado sobre as hipóteses da sua equipa chegar de novo à final, o técnico arsenalista admitiu o óbvio, isto é, com dois favoritos afastados (Benfica e Sporting) as possibilidades aumentaram. Mas ainda assim, a sua equipa ainda terá de ultrapassar vários obstáculos.
NOTAS
Durante a segunda parte do tempo regulamentar, ao ver um adversário caído no campo, Bryan Ruiz tomou uma atitude de desportivismo que só enobrece um jogador, ao jogar a bola para fora do campo. Por isso, não merecia este grande jogador a reprimenda que levou do seu treinador. Mereceu sim, os aplausos da bancada.
Na final do Jamor a 31 de Maio, Rui Patrício sofrera uma lesão durante o jogo, mas embora em inferioridade física, acabou por ter uma contribuição decisiva para a vitória da sua equipa. Ontem foi a vez de Matheus se lesionar, terminando também ele o jogo com evidente sacrifício, mas também ele conseguiu sair vitorioso da partida.
O Braga tinha apenas marcado um golo nos três jogos anteriores, neste jogo marcou quatro. Já o Sporting, não perdia para provas nacionais há 30 jogos, a última derrota tinha sido no Dragão, para o campeonato da época passada.
Desde que assumiu a presidência do Sporting em 2013, Bruno de Carvalho venceu sempre o SC Braga. Até ao dia em que contratou Jorge Jesus para treinador, pois, o actual timoneiro dos leões tem um histórico nada positivo quando defrontou o Braga em jogos de “mata-mata”: eliminado da Liga Europa em 2011, eliminado da Taça da Liga em 2013 e eliminado da Taça de Portugal em 2014 e 2015.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)