Este fim-de-semana as minhas raízes Monçanenses chamaram por mim.
Há muito tempo, tanto até que já nem me lembro quando foi a última vez, que não via um jogo do Desportivo de Monção.
Muito amigos faziam-me o apelo e cobravam-me o facto de andar “desaparecido” do Estádio Manuel Lima, a casa do Desportivo. E é verdade, desde 1996, altura em que vim viver para Braga, que, por força desta distância, as idas, que costumavam ser regulares ao estádio Monçanense, passaram a ser esporádicas e agora, quase nem isso. Mas, mesmo distante, acompanho, ou tento acompanhar sempre a realidade do clube, sei das dificuldades que atravessa e que felizmente estão, com o esforço desta direcção, a ser ultrapassadas, depois de anos de total desfasamento com a realidade, que atiraram uma colectividade com 82 anos de história, para a beira do colapso. Fico também contente por ver que há pessoas, na minha terra, disponíveis para, a troco de nada, continuarem o projecto do clube, solidificá-lo, modernizá-lo e adaptá-lo à realidade dos dias de hoje, por isso, um bem-haja e os meus sinceros parabéns.
Mais satisfeito fico por ver que nesta direcção há gente da minha criação, que privou comigo enquanto criança, gente do meu bairro, que de forma briosa pegou no projecto e não o deixou cair. Juntando a isto o facto do Paulo Almeida, que foi meu colega de carteira na escola primária e no ciclo preparatório, ser o treinador, sentia que estava mesmo em falta com esta gente, sentia que era meu dever moral dar uma força, não por palavras, mas com actos e assim fiz, acompanhado pelo meu filho mais novo, lá fomos os dois, de Braga até à Ponte da Barca, puxar pelo Desportivo.
Obviamente que a paixão pelo clube da nossa terra, que se ama porque está-nos no sangue, cega-me e tolhe-me na hora de ver o jogo, porque na maior parte das vezes vejo-o com o coração e não com a razão, mas neste jogo nem foi tanto isso, pois o domínio exercido, principalmente na primeira parte, justificava uma vitória mais folgada e com menos sofrimento, mas, ganhar no último minuto dos descontos, deu um gozo especial.
A equipa do Desportivo apresentou-se em jogo, quis-me parecer, com os processos melhor assimilados que o adversário, mais fresca, e com maior pragmatismo e só na primeira parte, assim de cabeça, recordo-me de 4 boas oportunidades para marcar, abrir a contagem e dilatar a vantagem. Numa delas a pontaria não foi a melhor, noutra, o guarda-redes conseguiu defender e por duas vezes, a recepção e domínio de bola foram deficientes, gorando-se assim as possibilidades de golo.
Ainda durante a primeira parte senti o gozo que dá ver o Desportivo. É diferente, quero que ganhe a todo custo, nem que seja com um golo marcado com a mão, em fora de jogo ou através de um penálti que não exista. Também sei que não devia dizer isto, paciência, é o que sinto. A mim tanto me dá. Quando joga o Desportivo, é simples, quero que ganhe. É um sentimento irracional, como já disse tolhe-me o pensamento e vejo o jogo com o campo sempre inclinado a nosso favor. Para se ter a noção, só neste jogo, apenas na primeira parte, reclamei 3 vezes por achar que havia razão para a marcação de grande penalidade, e quando o árbitro assistente assinalou um fora de jogo, que a bem da verdade diga-se, na posição onde eu me encontrava não conseguia descortinar se o jogador do Desportivo estava ou não em posição irregular, eu vi logo que não estava, nem sequer tive dúvidas. Como é que se pode marcar fora de jogo naquela jogada pensei eu, estamos a ser prejudicados, se é que me entendem. Lá me contive, e tive um momento de maior lucidez. Afinal os árbitros podem errar e o mais certo era eles estarem certos e eu errado. Enfim.
No fim da primeira parte tinha uma certeza, estávamos melhores, éramos superiores e podíamos facilmente estar na frente. As sensações eram boas e ao intervalo, o 0-0, além de cheirar a injustiça, dava azo a alguma preocupação, pois os donos da casa, no segundo tempo podiam, como veio a suceder, pressionar mais o último reduto Monçanense. Diga-se também, que o calor que se fazia sentir no municipal da Ponte da Barca era bastante, o que, naturalmente condicionou a segunda parte.
Os segundos 45 minutos arrancaram com o Desportivo a querer chegar-se à frente, só que após o descanso, os donos da casa também estavam mais agressivos, no bom sentido, com maior dinâmica e a aproveitar o facto de terem sido os Monçanenses, na primeira parte, a terem as despesas do jogo. Este segundo tempo não foi tão bem jogado, neste período, a equipa da Ponte da Barca teve uma ou outra situação de “frisson”, quase sempre de bola parada, mas que foram sendo resolvidas pela defensiva e pelo guarda-redes do Desportivo. Por seu turno, a turma orientada por Paulo Almeida, sempre que podia, não deixava de procurar o tento da vitória. O mister foi mexendo na equipa à procura da melhor solução para ganhar e, como diz o anúncio, a solução estava mesmo no banco.
O fim ia-se aproximando a passos largos e o golo não surgia. Comecei a achar que o empate seria o resultado final. Tentava consolar-me. Primeiro pensei o óbvio, um empate fora de portas nunca é um mal resultado contra este tipo de opositores, mas interiormente não estava satisfeito. Caraças, o que eu queria mesmo era ver o Desportivo ganhar. Longe estava sequer de imaginar, assim como todos os adeptos que estavam no estádio, quando o árbitro levantou a placa com o tempo de desconto, que o Desportivo iria sair da Barca com os 3 pontos amealhados. E eis que surgiu o momento mais sublime, o cronómetro já marcava o último minuto da compensação, foi nesse instante que chegou a glória. O golo de Stivan fez-me saltar da cadeira com os braços no ar. Esta vitória já ninguém nos tirava, não havia tempo para mais. E o melhor de tudo, foi ver o meu filho, também de braços no ar, dizer-me: “Ganhámos papá”. Há grande Desportivo, pensei eu. Felizes regressámos a casa. Valeu a pena ir à Ponte da Barca. Força Depor!
Daniel Lourenço
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45).
Há muito tempo, tanto até que já nem me lembro quando foi a última vez, que não via um jogo do Desportivo de Monção.
Muito amigos faziam-me o apelo e cobravam-me o facto de andar “desaparecido” do Estádio Manuel Lima, a casa do Desportivo. E é verdade, desde 1996, altura em que vim viver para Braga, que, por força desta distância, as idas, que costumavam ser regulares ao estádio Monçanense, passaram a ser esporádicas e agora, quase nem isso. Mas, mesmo distante, acompanho, ou tento acompanhar sempre a realidade do clube, sei das dificuldades que atravessa e que felizmente estão, com o esforço desta direcção, a ser ultrapassadas, depois de anos de total desfasamento com a realidade, que atiraram uma colectividade com 82 anos de história, para a beira do colapso. Fico também contente por ver que há pessoas, na minha terra, disponíveis para, a troco de nada, continuarem o projecto do clube, solidificá-lo, modernizá-lo e adaptá-lo à realidade dos dias de hoje, por isso, um bem-haja e os meus sinceros parabéns.
Mais satisfeito fico por ver que nesta direcção há gente da minha criação, que privou comigo enquanto criança, gente do meu bairro, que de forma briosa pegou no projecto e não o deixou cair. Juntando a isto o facto do Paulo Almeida, que foi meu colega de carteira na escola primária e no ciclo preparatório, ser o treinador, sentia que estava mesmo em falta com esta gente, sentia que era meu dever moral dar uma força, não por palavras, mas com actos e assim fiz, acompanhado pelo meu filho mais novo, lá fomos os dois, de Braga até à Ponte da Barca, puxar pelo Desportivo.
Obviamente que a paixão pelo clube da nossa terra, que se ama porque está-nos no sangue, cega-me e tolhe-me na hora de ver o jogo, porque na maior parte das vezes vejo-o com o coração e não com a razão, mas neste jogo nem foi tanto isso, pois o domínio exercido, principalmente na primeira parte, justificava uma vitória mais folgada e com menos sofrimento, mas, ganhar no último minuto dos descontos, deu um gozo especial.
A equipa do Desportivo apresentou-se em jogo, quis-me parecer, com os processos melhor assimilados que o adversário, mais fresca, e com maior pragmatismo e só na primeira parte, assim de cabeça, recordo-me de 4 boas oportunidades para marcar, abrir a contagem e dilatar a vantagem. Numa delas a pontaria não foi a melhor, noutra, o guarda-redes conseguiu defender e por duas vezes, a recepção e domínio de bola foram deficientes, gorando-se assim as possibilidades de golo.
Ainda durante a primeira parte senti o gozo que dá ver o Desportivo. É diferente, quero que ganhe a todo custo, nem que seja com um golo marcado com a mão, em fora de jogo ou através de um penálti que não exista. Também sei que não devia dizer isto, paciência, é o que sinto. A mim tanto me dá. Quando joga o Desportivo, é simples, quero que ganhe. É um sentimento irracional, como já disse tolhe-me o pensamento e vejo o jogo com o campo sempre inclinado a nosso favor. Para se ter a noção, só neste jogo, apenas na primeira parte, reclamei 3 vezes por achar que havia razão para a marcação de grande penalidade, e quando o árbitro assistente assinalou um fora de jogo, que a bem da verdade diga-se, na posição onde eu me encontrava não conseguia descortinar se o jogador do Desportivo estava ou não em posição irregular, eu vi logo que não estava, nem sequer tive dúvidas. Como é que se pode marcar fora de jogo naquela jogada pensei eu, estamos a ser prejudicados, se é que me entendem. Lá me contive, e tive um momento de maior lucidez. Afinal os árbitros podem errar e o mais certo era eles estarem certos e eu errado. Enfim.
No fim da primeira parte tinha uma certeza, estávamos melhores, éramos superiores e podíamos facilmente estar na frente. As sensações eram boas e ao intervalo, o 0-0, além de cheirar a injustiça, dava azo a alguma preocupação, pois os donos da casa, no segundo tempo podiam, como veio a suceder, pressionar mais o último reduto Monçanense. Diga-se também, que o calor que se fazia sentir no municipal da Ponte da Barca era bastante, o que, naturalmente condicionou a segunda parte.
Os segundos 45 minutos arrancaram com o Desportivo a querer chegar-se à frente, só que após o descanso, os donos da casa também estavam mais agressivos, no bom sentido, com maior dinâmica e a aproveitar o facto de terem sido os Monçanenses, na primeira parte, a terem as despesas do jogo. Este segundo tempo não foi tão bem jogado, neste período, a equipa da Ponte da Barca teve uma ou outra situação de “frisson”, quase sempre de bola parada, mas que foram sendo resolvidas pela defensiva e pelo guarda-redes do Desportivo. Por seu turno, a turma orientada por Paulo Almeida, sempre que podia, não deixava de procurar o tento da vitória. O mister foi mexendo na equipa à procura da melhor solução para ganhar e, como diz o anúncio, a solução estava mesmo no banco.
O fim ia-se aproximando a passos largos e o golo não surgia. Comecei a achar que o empate seria o resultado final. Tentava consolar-me. Primeiro pensei o óbvio, um empate fora de portas nunca é um mal resultado contra este tipo de opositores, mas interiormente não estava satisfeito. Caraças, o que eu queria mesmo era ver o Desportivo ganhar. Longe estava sequer de imaginar, assim como todos os adeptos que estavam no estádio, quando o árbitro levantou a placa com o tempo de desconto, que o Desportivo iria sair da Barca com os 3 pontos amealhados. E eis que surgiu o momento mais sublime, o cronómetro já marcava o último minuto da compensação, foi nesse instante que chegou a glória. O golo de Stivan fez-me saltar da cadeira com os braços no ar. Esta vitória já ninguém nos tirava, não havia tempo para mais. E o melhor de tudo, foi ver o meu filho, também de braços no ar, dizer-me: “Ganhámos papá”. Há grande Desportivo, pensei eu. Felizes regressámos a casa. Valeu a pena ir à Ponte da Barca. Força Depor!
Daniel Lourenço
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45).