Numa noite de inverno chuvosa e de muito vento, com as bancadas quase despidas de público, o SC Braga tapou as fendas da fortaleza da Pedreira, abertas há pouco tempo por um japonês transformado em herói improvável. Qualquer que fosse o resultado deste terceiro e último dérbi minhoto disputado na antiga capital da Galécia Romana, os bracarenses terminariam no mesmo 5.º lugar, já que se encontram equidistantes do 4.º e 6.º classificados, com 4 pontos a separá-los de Vitória SC e Belenenses, respectivamente. No entanto, esta foi uma vitória preciosa, não só pelos pontos que permitem aos vermelhos e brancos continuar na perseguição do outro vizinho vimaranense, como também pela injecção de moral para um grupo de trabalho que tem apresentado prestações oscilantes neste ano de 2015.
O técnico do SC Braga apresentou várias mudanças no onze escalonado. Baiano regressou à titularidade na lateral direita da defesa, mas não esteve particularmente feliz, acabando por ser substituído por Pedro Santos, o herói improvável da noite. Mas já lá vamos…
A dupla de centrais foi uma estreia absoluta, porque face à impossibilidade de Santos e André Pinto, teve colocar o francês Sasso em parelha com o jovem Pedro Monteiro, recentemente contratado ao Freamunde. O jovem português cumpriu nesta sua estreia, embora se mostrasse intranquilo no capítulo das entregas, numa das quais poderia ter causado perigo para a sua baliza. Já o francês, também cumpriu defensivamente, mas foi no aspecto ofensivo que se tornou no outro herói improvável da noite, a par do colega Pedro Santos.
No meio campo não houve mexidas, alinhando o trio do costume. Rúben Micael voltou a exibir-se em bom plano, sendo o dinamizador da construção de jogo da equipa. Já o mesmo não se pode dizer dos colegas da linha média, Danilo e Pedro Tiba, que estiveram uns furos abaixo e, a espaços, não estiveram à altura da excelente organização dos comandados de Miguel Leal. Nos primeiros minutos da segunda parte, os cónegos chegaram mesmo a ter o jogo dominado. Talvez devido ao decréscimo de rendimento apresentado por Tiba nos últimos jogos, ontem foi perceptível a mudança de estratégia de jogo, colocando o português mais próximo dos espaços do pivô (posição 6), ficando o brasileiro com a missão de aparecer mais junto do ataque em missões de área a área (posição 8). Mas ontem o plano não deu resultado.
Face à ausência prolongada de Pardo, Salvador Agra continua a ser o dono da ala, embora o vila-condense, não obstante a entrega e intensidade de jogo que apresenta, não tem a profundidade e a eficiência, a cruzar e a rematar, desejáveis. E apesar de ter uma grande capacidade de aceleração e muita disponibilidade no apoio defensivo do flanco, o seu jogo é demasiado previsível. A meu ver, trata-se de um jogador que terá muita mais utilidade se for lançado do banco, pois a sua forma irreverente de actuar consegue agitar o jogo e a vantagem física perante o lateral esquerdo mais desgastado é uma arma a explorar.
No eixo do ataque, Zé Luís voltou a roubar a titularidade a Éderzito, mas ontem o cabo-verdiano não justificou a confiança do treinador. Contudo, pode queixar-se de falta de oportunidades para finalizar, porque os seus municiadores poucas vezes lhe endossaram a bola redondinha, em particular Rafa, que ontem também não esteve inspirado. Com o mercado quase a fechar, as probabilidades de Salvador oferecer uma prenda a Conceição vão-se desvanecendo e o mais certo é este último só poder contar com os dois artilheiros actuais para fazer face às enormes batalhas que se avizinham.
A derrota mal digerida do Bessa obrigava a uma resposta forte nesta segunda jornada da segunda volta. O Braga começou a partida com uma rotação muito alta, tentando encostar o adversário às cordas na expectativa de marcar um golo cedo. Pois, esse tento madrugador tranquilizaria a equipa e obrigaria também o adversário a mudar a estratégia de contenção delineada pelo seu técnico. Mas o golo não surgiu e na segunda metade do primeiro tempo o Braga começou a reduzir a intensidade de jogo, ao passo que o Moreirense conseguia encaixar na perfeição a ocupação dos espaços, fechando os caminhos para a sua baliza. A única oportunidade clara de jogo da primeira parte surgiu na sequência de um mau atraso de Anilton Junior, o veterano central brasileiro que já passou pela Pedreira. Rúben Micael bem se esticou para tentar desviar a bola de Marafona, mas esta acabou por embater caprichosamente no poste e sair pela linha de fundo.
Porém, tudo mudou na segunda parte, porque os cónegos acreditaram que poderiam fazer mais do que lutar pelo 0-0 e o precioso “pontinho”.
Mal o árbitro Artur Soares Dias apitou para os segundos quarente e cinco minutos, os de Moreira de Cónegos lançaram-se ao ataque, catapultados pelo extremo João Pedro, emprestado pelo SC Braga, conquistando dois pontapés de canto nos primeiros dois minutos da segunda parte. Na sequência do segundo, surge o lance que poderia ter mudado a história do jogo, porque Baiano joga a bola com o braço em plena grande área, de forma displicente. O árbitro portuense não teve dúvidas em assinalar o castigo máximo. Só que André Simões terá acusado em demasiado a responsabilidade, pois converteu o lance de forma muito denunciada, permitindo assim a defesa ao gigante Matheus.
Mas contrariamente ao que seria de supor, os visitantes não esmoreceram perante esta oportunidade desperdiçada, e deu mesmo a sensação que continuar a carregar com ainda mais vigor. O Braga não conseguia responder, os seus sectores estavam desligados, os passes errados sucediam-se a as segundas bolas eram todas ganhas pelos jogadores do Moreirense. No banco, Sérgio Conceição desesperava e o pouco público presente na Pedreira também se impacientava e demonstrava o descontentamento com sucessivos coros de assobios. Ao minuto setenta, a bola acabaria mesmo por entrar na baliza de Matheus, mas não valeu. Porque o ponta-de-lança Cardozo estava em fora-de-jogo. Entretanto, já o treinador bracarense começara a jogar os seus trunfos do banco. Pedro Santos entrara para o lugar de Baiano, fazendo Agra recuar para defesa direito, e Rúben Micael também dera a vez a Éderzito, passando os bracarenses a jogar com dois pontas-de-lança.
Aos 73 minutos, do lance mais improvável sai a decisão do jogo.
Numa jogada dividida Sasso avançou pela esquerda, qual extremo, conseguiu ainda ganhar um duelo junto à linha e cruzou com conta peso e medida para o coração da área, onde surgiu ao segundo poste Pedro Santos. E este, do “alto” dos seus 1,73 metros, desviou a bola com um subtil golpe de cabeça que fez a bola entrar rente ao poste esquerdo da baliza de Marafona.
No tempo de jogo restante, o Moreirense não teve capacidade para reagir, até porque Miguel Leal não dispõe do mesmo leque de soluções de Sérgio Conceição. O técnico bracarense ainda dificultou mais a tarefa do colega, ao lançar Alan nos últimos dez minutos, nos quais o brasileiro voltou a revelar-se de grande utilidade, quando a equipa precisa de um jogador cerebral, capaz de interpretar os momentos do jogo e conservar a posse de bola o maior tempo possível.
Ao soar o apito final de Artur Soares Dias, Sérgio Conceição respirou de alívio e, de certa forma, descarregou as tensões acumuladas na flash-interview da Sporttv, fazendo declarações que soam a recados para várias direcções, inclusive internos. Notou-se no discurso do técnico uma veemência na defesa dos seus jogadores, como se estes estivessem a ser questionados por alguém. Será difícil perceber o alcance destas declarações, até porque o grupo está em blackout.
Quanto ao Moreirense, pode-se dizer que não seria merecedor desta derrota, sobretudo pelo que fez na segunda parte e por aquilo que o Braga não fez durante o jogo todo. Mas, no futebol a justiça faz-se com os golos que se marcam e com aqueles que se desperdiçam. Tal e qual como aconteceu com o SC Braga no Bessa na jornada anterior.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
O técnico do SC Braga apresentou várias mudanças no onze escalonado. Baiano regressou à titularidade na lateral direita da defesa, mas não esteve particularmente feliz, acabando por ser substituído por Pedro Santos, o herói improvável da noite. Mas já lá vamos…
A dupla de centrais foi uma estreia absoluta, porque face à impossibilidade de Santos e André Pinto, teve colocar o francês Sasso em parelha com o jovem Pedro Monteiro, recentemente contratado ao Freamunde. O jovem português cumpriu nesta sua estreia, embora se mostrasse intranquilo no capítulo das entregas, numa das quais poderia ter causado perigo para a sua baliza. Já o francês, também cumpriu defensivamente, mas foi no aspecto ofensivo que se tornou no outro herói improvável da noite, a par do colega Pedro Santos.
No meio campo não houve mexidas, alinhando o trio do costume. Rúben Micael voltou a exibir-se em bom plano, sendo o dinamizador da construção de jogo da equipa. Já o mesmo não se pode dizer dos colegas da linha média, Danilo e Pedro Tiba, que estiveram uns furos abaixo e, a espaços, não estiveram à altura da excelente organização dos comandados de Miguel Leal. Nos primeiros minutos da segunda parte, os cónegos chegaram mesmo a ter o jogo dominado. Talvez devido ao decréscimo de rendimento apresentado por Tiba nos últimos jogos, ontem foi perceptível a mudança de estratégia de jogo, colocando o português mais próximo dos espaços do pivô (posição 6), ficando o brasileiro com a missão de aparecer mais junto do ataque em missões de área a área (posição 8). Mas ontem o plano não deu resultado.
Face à ausência prolongada de Pardo, Salvador Agra continua a ser o dono da ala, embora o vila-condense, não obstante a entrega e intensidade de jogo que apresenta, não tem a profundidade e a eficiência, a cruzar e a rematar, desejáveis. E apesar de ter uma grande capacidade de aceleração e muita disponibilidade no apoio defensivo do flanco, o seu jogo é demasiado previsível. A meu ver, trata-se de um jogador que terá muita mais utilidade se for lançado do banco, pois a sua forma irreverente de actuar consegue agitar o jogo e a vantagem física perante o lateral esquerdo mais desgastado é uma arma a explorar.
No eixo do ataque, Zé Luís voltou a roubar a titularidade a Éderzito, mas ontem o cabo-verdiano não justificou a confiança do treinador. Contudo, pode queixar-se de falta de oportunidades para finalizar, porque os seus municiadores poucas vezes lhe endossaram a bola redondinha, em particular Rafa, que ontem também não esteve inspirado. Com o mercado quase a fechar, as probabilidades de Salvador oferecer uma prenda a Conceição vão-se desvanecendo e o mais certo é este último só poder contar com os dois artilheiros actuais para fazer face às enormes batalhas que se avizinham.
A derrota mal digerida do Bessa obrigava a uma resposta forte nesta segunda jornada da segunda volta. O Braga começou a partida com uma rotação muito alta, tentando encostar o adversário às cordas na expectativa de marcar um golo cedo. Pois, esse tento madrugador tranquilizaria a equipa e obrigaria também o adversário a mudar a estratégia de contenção delineada pelo seu técnico. Mas o golo não surgiu e na segunda metade do primeiro tempo o Braga começou a reduzir a intensidade de jogo, ao passo que o Moreirense conseguia encaixar na perfeição a ocupação dos espaços, fechando os caminhos para a sua baliza. A única oportunidade clara de jogo da primeira parte surgiu na sequência de um mau atraso de Anilton Junior, o veterano central brasileiro que já passou pela Pedreira. Rúben Micael bem se esticou para tentar desviar a bola de Marafona, mas esta acabou por embater caprichosamente no poste e sair pela linha de fundo.
Porém, tudo mudou na segunda parte, porque os cónegos acreditaram que poderiam fazer mais do que lutar pelo 0-0 e o precioso “pontinho”.
Mal o árbitro Artur Soares Dias apitou para os segundos quarente e cinco minutos, os de Moreira de Cónegos lançaram-se ao ataque, catapultados pelo extremo João Pedro, emprestado pelo SC Braga, conquistando dois pontapés de canto nos primeiros dois minutos da segunda parte. Na sequência do segundo, surge o lance que poderia ter mudado a história do jogo, porque Baiano joga a bola com o braço em plena grande área, de forma displicente. O árbitro portuense não teve dúvidas em assinalar o castigo máximo. Só que André Simões terá acusado em demasiado a responsabilidade, pois converteu o lance de forma muito denunciada, permitindo assim a defesa ao gigante Matheus.
Mas contrariamente ao que seria de supor, os visitantes não esmoreceram perante esta oportunidade desperdiçada, e deu mesmo a sensação que continuar a carregar com ainda mais vigor. O Braga não conseguia responder, os seus sectores estavam desligados, os passes errados sucediam-se a as segundas bolas eram todas ganhas pelos jogadores do Moreirense. No banco, Sérgio Conceição desesperava e o pouco público presente na Pedreira também se impacientava e demonstrava o descontentamento com sucessivos coros de assobios. Ao minuto setenta, a bola acabaria mesmo por entrar na baliza de Matheus, mas não valeu. Porque o ponta-de-lança Cardozo estava em fora-de-jogo. Entretanto, já o treinador bracarense começara a jogar os seus trunfos do banco. Pedro Santos entrara para o lugar de Baiano, fazendo Agra recuar para defesa direito, e Rúben Micael também dera a vez a Éderzito, passando os bracarenses a jogar com dois pontas-de-lança.
Aos 73 minutos, do lance mais improvável sai a decisão do jogo.
Numa jogada dividida Sasso avançou pela esquerda, qual extremo, conseguiu ainda ganhar um duelo junto à linha e cruzou com conta peso e medida para o coração da área, onde surgiu ao segundo poste Pedro Santos. E este, do “alto” dos seus 1,73 metros, desviou a bola com um subtil golpe de cabeça que fez a bola entrar rente ao poste esquerdo da baliza de Marafona.
No tempo de jogo restante, o Moreirense não teve capacidade para reagir, até porque Miguel Leal não dispõe do mesmo leque de soluções de Sérgio Conceição. O técnico bracarense ainda dificultou mais a tarefa do colega, ao lançar Alan nos últimos dez minutos, nos quais o brasileiro voltou a revelar-se de grande utilidade, quando a equipa precisa de um jogador cerebral, capaz de interpretar os momentos do jogo e conservar a posse de bola o maior tempo possível.
Ao soar o apito final de Artur Soares Dias, Sérgio Conceição respirou de alívio e, de certa forma, descarregou as tensões acumuladas na flash-interview da Sporttv, fazendo declarações que soam a recados para várias direcções, inclusive internos. Notou-se no discurso do técnico uma veemência na defesa dos seus jogadores, como se estes estivessem a ser questionados por alguém. Será difícil perceber o alcance destas declarações, até porque o grupo está em blackout.
Quanto ao Moreirense, pode-se dizer que não seria merecedor desta derrota, sobretudo pelo que fez na segunda parte e por aquilo que o Braga não fez durante o jogo todo. Mas, no futebol a justiça faz-se com os golos que se marcam e com aqueles que se desperdiçam. Tal e qual como aconteceu com o SC Braga no Bessa na jornada anterior.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)