Depois dos seis golos no primeiro duelo, num jogo onde os bracarenses levaram a melhor, esperar-se-ia um jogo animado, pois, para além do facto dos jogadores do Rio Ave quererem apagar a má imagem deixada na Pedreira, estava em causa o apuramento para as meias-finais da Taça da Liga.
No futebol, é frequente falar-se de “vinganças”, mas num sentido benévolo da palavra. Ou seja, quando se diz que uma equipa pretende “vingar-se” de outra, isso significa uma equipa querer vencer um adversário que o derrotara anteriormente, como fez o Braga ao Rio Ave no Domingo anterior.
Porém, a forma como os jogadores do Rio Ave abordaram o jogo da passada quarta-feira, em sua casa e diante dos seus adeptos, fez transparecer a ideia de se tratar da aplicação do sentido literal e perverso da palavra vingança. Talvez tenham sentido não terem argumentos futebolísticos para contrariar o adversário, algo que eu pessoalmente não considero, tendo até elogiado o excelente início de segunda parte que a equipa vila-condense protagonizou na Pedreira. A verdade é que os jogadores de Pedro Martins, instados por este ou não, quiseram vencer o jogo através da força, usando das piores armas que se podem utilizar num jogo de futebol: entradas violentas e simulações de faltas para ludibriar as equipas de arbitragem.
Num jogo que se previa aceso, tendo em conta o longo historial de embates entre estas duas equipas, acrescido do resultado do jogo da segunda volta da liga e das reacções dos responsáveis do Rio Ave no final deste, seria de todo prudente o Conselho de Arbitragem nomear um dos melhores árbitros do seu quadro, alguém que fosse capaz de serenar alguns ânimos previsivelmente mais exaltados. Ao invés, o C.A. nomeou um dos piores árbitros do país, associado a inúmeras arbitragens polémicas. Neste jogo de Vila do Conde, o juiz vindo de Lisboa “ajudou à festa”, com uma dualidade de critérios gritante, permitiu aos jogadores do Rio Ave abusarem do jogo violento e das simulações de faltas. E mesmo assim, manterem-se com onze elementos em campo até final, ao passo que em relação aos jogadores do Braga, distribuía cartões amarelos sem conta, peso ou medida, mesmo quando os bracarenses jogavam a bola de forma correcta, como aconteceu por uma vez com Ricardo Ferreira e por duas vezes com Mauro, acabando o brasileiro expulso por acumulação de amarelos sem ter acção faltosa em nenhum dos dois lances.
Antes de continuar, convidava os leitores a visionarem o vídeo que se segue, para terem uma melhor noção do que se passou nesse triste jogo de Vila do Conde.
Enfim, com muita pena minha, não pude fazer uma crónica semelhante à do jogo do campeonato, porque como se pode observar nestas imagens, na quarta-feira não houve futebol, embora os jogadores do SC Braga quisessem que houvesse. Mas, para haver futebol é necessário que haja vontade das três partes envolvidas.
Fiquei decepcionado com esta postura dos jogadores do Rio Ave, por quem tenho respeito, e embora não acompanhe de perto o percurso desta equipa, sempre a tive em boa conta e como um exemplo de atitude desportiva correcta.
Já a arbitragem vergonhosa de João Capela não constitui motivo nenhum de admiração, ficando em muitos adeptos a suspeita de que o árbitro pretendia que fosse o Rio Ave a seguir em frente na Taça da Liga, sem intenção de beneficiar de forma directa os vila-condenses, mas sim de forma colateral.
Porém, destaco pela positiva a atitude dos jogadores do SC Braga, que nunca se deixaram intimidar pela hostilidade do adversário e do árbitro, mantendo uma serenidade impressionante. Mesmo tendo levado pancada velha todo o jogo, os arsenalistas nunca ripostaram da mesma forma nem perderam a cabeça envolvendo-se em confrontos. Souberam gerir a vantagem que a pontuação na tabela lhes permitia, controlando o jogo até à expulsão de Mauro por volta dos 60 minutos. Embora sem criar lances de golo, também não permitiram que o adversário o fizesse, conseguindo taxas de posse de bola na ordem dos 60%, algo que muitas vezes pode ser inócuo, mas numa partida jogada nestas circunstâncias foi importante. Depois de reduzidos a dez unidades, os homens de Paulo Fonseca mostraram-se solidários e eficientes, segurando com unhas e dentes a vantagem. Mesmo em superioridade numérica, o Rio Ave não foi capaz de criar situações de verdadeiro perigo para a baliza de Matheus.
Destaque também para a estreia de Josué, entrado aos 89 minutos para o lugar de Rafa.
Nota final: Na época 2013/2014, no mesmo Estádio e noutro jogo da Taça da Liga envolvendo as mesmas equipas, os adeptos assistiram a um dos maiores escândalos do futebol português, onde esteve em foco um protagonista que nunca o deveria ser: o árbitro Olegário Benquerença. Depois dessa vergonha e da forte contestação dos responsáveis pelo SC Braga, em particular pela voz do seu presidente, o árbitro acabou por ser penalizado ao ser-lhe negada a possibilidade de apitar a final da Taça de Portugal do ano passado, na época em que pôs termo à sua carreira, uma vez que se tornou tradição em Portugal premiar os juízes que vão pendurar o apito com esse jogo de consagração no Jamor. Estejamos então atentos para perceber o que irá acontecer a João Capela.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)