A deslocação do SC Braga a Penafiel no passado Sábado, a um estádio denominado 25 de Abril, apesar de ter valido apenas três pontos na contabilidade dos bracarenses, envolveu uma série de factos dignos do nome do anfiteatro. Isto é, de uma autêntica revolução.
Para começar, foi a primeira vitória fora de portas dos Guerreiros do Minho a contar para a liga. No Domingo anterior já tinham vencido em Guimarães, mas a competição era outra: Taça de Portugal.
A última vitória no recinto penafidelense fora há vinte e cinco anos, pese embora o facto destas duas equipas se terem defrontado poucas vezes neste quarto de século, porquanto as passagens dos rubro-negros pelo principal escalão terem sido esporádicas.
Os homens de Sérgio Conceição quiseram matar um borrego e fizeram-nos de forma inequívoca, aplicando uma pesada derrota de seis bolas a uma à frágil equipa duriense, comanda por Rui Quinta, antigo adjunto de Vítor Pereira nas conquistas do bicampeonato ao serviço do FC Porto.
Ao conseguir esta vitória gorda, o SC Braga bateu o record em termos de resultados fora de portas. O máximo alcançado até então fora um triunfo por cinco golos sem resposta, em casa do Belenenses.
Quando estamos a dobrar o primeiro terço do campeonato, Sérgio Conceição tem a sua máquina a seguir em velocidade de cruzeiro, com as suas ideias de jogo já praticamente assimiladas e com os seus principais elementos no pico da forma, ou perto disso. A injecção de moral acrescentada depois da eliminação do Vitória de Guimarães também ajudou de sobremaneira no atingir deste estado de coisas.
Se analisarmos a equipa do SC Braga por sectores, percebemos as razões deste bom momento. Na baliza, o técnico arsenalista pode dar-se ao luxo de optar por dois jovens guarda-redes que já provaram dar garantias suficientes: o brasileiro Matheus é o eleito para os jogos da liga, ficando o russo Kritcyuk com a tarefa de defender as redes em jogos da Taça (veremos se a rotação será mantida no jogo dos 1/8 de final diante do Benfica no Estádio da Luz).
O quarteto defensivo está consolidado, coisa rara nas últimas épocas, onde as lesões e a inconstância exibicional obrigavam a constantes alterações. Com uma parelha de centrais cada vez mais entrosada, onde uma ou outra debilidade do capitão Santos é colmatada pelo cada vez mais preponderante André Pinto. As laterais estão entregues a Baiano e Tiago Gomes, ambos seguros a defender e com capacidade de subir no terreno, como se pede a um lateral moderno.
O meio-campo está (bem) entregue a Danilo e Pedro Tiba. A cumplicidade entre o brasileiro e o português é tal que por vezes ficamos sem saber quem joga na posição “6” e quem joga na posição “8”. O triângulo da linha média desenhado por Sérgio Conceição é fechado por Rúben Micael. O madeirense tem sabido equilibrar os momentos de recuperação e saída de bola, que requerem maior proximidade com os companheiro de linha média, com os momentos de posse e ataque apoiado que envolvem uma presença nas costas do ponta-de-lança. Em Penafiel, este papel foi desempenhado por Alan por força da lesão de Ruben Micael. Apesar de manter a classe, visão de jogo e excelente toque de bola que proporcionaram uma assistência para o primeiro golo, o brasileiro sentiu enormes dificuldades para desempenhar esta tarefa. Desde logo, porque a sua posição base é nas alas. E segundo, porque a sua veterania já não lhe proporciona a disponibilidade física necessária à exigência actual do futebol. O capitão arsenalista será ainda de enorme utilidade, mas a sua utilização terá de ser ponderada.
Caso Rúben Micael não esteja disponível para a recepção ao Vitória de Guimarães, o treinador do Braga poderá repensar a sua estratégia, sabendo da importância da batalha do meio campo diante dos vimaranenses. Essa possibilidade foi testada em Penafiel, com a inclusão de Luiz Carlos a actuar ao lado de Danilo, passando Pedro Tiba a actuar mais adiantado, no vértice do meio-campo.
Mas é na frente do ataque que este Braga de final de ano se está a revelar mais forte. Com duas setas apontadas nas alas, Pardo e Rafa estão a atravessar a sua melhor fase da época e a repetir os momentos altos da época passada em que se destacaram no futebol português. Ambos voltaram a marcar, como já o tinham feito em Guimarães. É sobretudo a velocidade, irreverência e a espontaneidade que os tornam factor de desequilíbrio, aliados à superior técnica do português e ao poço de forças do colombiano. No eixo do ataque, Éderzito não voltou a fazer o gosto ao pé desde o jogo em casa diante do Benfica, mas tem sido um elemento importante na articulação com os companheiros do ataque, pois tem capacidade de luta entre os centrais adversários e de recepção de bola de costas para a baliza, bem como mobilidade.
Na antevisão do jogo, Sérgio Conceição referiu a inexistência de adversários ideais, mas a verdade é que este Penafiel é uma equipa muito modesta, que vive do voluntarismo dos seus técnicos e jogadores. Os durienses praticamente não incomodaram o guarda-redes Matheus. O único golo foi conseguido através de uma grande penalidade, convertida por um jogador que já passou pela Pedreira, Rabiola, a castigar uma entrada fora de tempo de André Pinto em plena grande área.
O Braga entrou no jogo praticamente a vencer, com o golo de Rafa a surgir aos 13 minutos. Aos 28 o Penafiel empatou, através da grande penalidade relatada atrás. Mas antes do intervalo, Santos voltou a colocar os arsenalistas em vantagem, na sequência de um pontapé de canto aos 44 minutos. Logo após o reatamento, a dupla Rafa – Pardo volta a fazer estragos em contra-ataque, aos 55 minutos, o colombiano concluiu uma jogada protagonizada pelo internacional português. Passados apenas quatro minutos, na sequência de novo pontapé de canto, André Pinto desviou para o fundo das redes e redimiu-se do erro da primeira parte. Aos 73, o regressado Luiz Carlos rematou à entrada da área, tendo a bola ressaltado num defesa contrário e traindo o guarda-redes internacional iraniano Haghighi. As contas fecharam-se ao minuto 81, com Sami, também ele entrado na segunda parte a marcar o sexto tento.
Fechada a décima primeira jornada da Liga Portuguesa, os níveis de confiança estão em alta na encosta do monte Castro, mas os próximos tempos trarão desafios grandes para os Guerreiros do Minho. O calendário das próximas jornadas é complicado, com as visitas de Vitória de Guimarães, Paços de Ferreira e Sporting, alternadas com as deslocações aos terrenos de Belenenses e Marítimo. Pelo meio realizar-se-á o prato forte dos oitavos de final da Taça de Portugal: o embate entre Benfica e Braga no Estádio da Luz.
Ricardo Jorge
[email protected]
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
Para começar, foi a primeira vitória fora de portas dos Guerreiros do Minho a contar para a liga. No Domingo anterior já tinham vencido em Guimarães, mas a competição era outra: Taça de Portugal.
A última vitória no recinto penafidelense fora há vinte e cinco anos, pese embora o facto destas duas equipas se terem defrontado poucas vezes neste quarto de século, porquanto as passagens dos rubro-negros pelo principal escalão terem sido esporádicas.
Os homens de Sérgio Conceição quiseram matar um borrego e fizeram-nos de forma inequívoca, aplicando uma pesada derrota de seis bolas a uma à frágil equipa duriense, comanda por Rui Quinta, antigo adjunto de Vítor Pereira nas conquistas do bicampeonato ao serviço do FC Porto.
Ao conseguir esta vitória gorda, o SC Braga bateu o record em termos de resultados fora de portas. O máximo alcançado até então fora um triunfo por cinco golos sem resposta, em casa do Belenenses.
Quando estamos a dobrar o primeiro terço do campeonato, Sérgio Conceição tem a sua máquina a seguir em velocidade de cruzeiro, com as suas ideias de jogo já praticamente assimiladas e com os seus principais elementos no pico da forma, ou perto disso. A injecção de moral acrescentada depois da eliminação do Vitória de Guimarães também ajudou de sobremaneira no atingir deste estado de coisas.
Se analisarmos a equipa do SC Braga por sectores, percebemos as razões deste bom momento. Na baliza, o técnico arsenalista pode dar-se ao luxo de optar por dois jovens guarda-redes que já provaram dar garantias suficientes: o brasileiro Matheus é o eleito para os jogos da liga, ficando o russo Kritcyuk com a tarefa de defender as redes em jogos da Taça (veremos se a rotação será mantida no jogo dos 1/8 de final diante do Benfica no Estádio da Luz).
O quarteto defensivo está consolidado, coisa rara nas últimas épocas, onde as lesões e a inconstância exibicional obrigavam a constantes alterações. Com uma parelha de centrais cada vez mais entrosada, onde uma ou outra debilidade do capitão Santos é colmatada pelo cada vez mais preponderante André Pinto. As laterais estão entregues a Baiano e Tiago Gomes, ambos seguros a defender e com capacidade de subir no terreno, como se pede a um lateral moderno.
O meio-campo está (bem) entregue a Danilo e Pedro Tiba. A cumplicidade entre o brasileiro e o português é tal que por vezes ficamos sem saber quem joga na posição “6” e quem joga na posição “8”. O triângulo da linha média desenhado por Sérgio Conceição é fechado por Rúben Micael. O madeirense tem sabido equilibrar os momentos de recuperação e saída de bola, que requerem maior proximidade com os companheiro de linha média, com os momentos de posse e ataque apoiado que envolvem uma presença nas costas do ponta-de-lança. Em Penafiel, este papel foi desempenhado por Alan por força da lesão de Ruben Micael. Apesar de manter a classe, visão de jogo e excelente toque de bola que proporcionaram uma assistência para o primeiro golo, o brasileiro sentiu enormes dificuldades para desempenhar esta tarefa. Desde logo, porque a sua posição base é nas alas. E segundo, porque a sua veterania já não lhe proporciona a disponibilidade física necessária à exigência actual do futebol. O capitão arsenalista será ainda de enorme utilidade, mas a sua utilização terá de ser ponderada.
Caso Rúben Micael não esteja disponível para a recepção ao Vitória de Guimarães, o treinador do Braga poderá repensar a sua estratégia, sabendo da importância da batalha do meio campo diante dos vimaranenses. Essa possibilidade foi testada em Penafiel, com a inclusão de Luiz Carlos a actuar ao lado de Danilo, passando Pedro Tiba a actuar mais adiantado, no vértice do meio-campo.
Mas é na frente do ataque que este Braga de final de ano se está a revelar mais forte. Com duas setas apontadas nas alas, Pardo e Rafa estão a atravessar a sua melhor fase da época e a repetir os momentos altos da época passada em que se destacaram no futebol português. Ambos voltaram a marcar, como já o tinham feito em Guimarães. É sobretudo a velocidade, irreverência e a espontaneidade que os tornam factor de desequilíbrio, aliados à superior técnica do português e ao poço de forças do colombiano. No eixo do ataque, Éderzito não voltou a fazer o gosto ao pé desde o jogo em casa diante do Benfica, mas tem sido um elemento importante na articulação com os companheiros do ataque, pois tem capacidade de luta entre os centrais adversários e de recepção de bola de costas para a baliza, bem como mobilidade.
Na antevisão do jogo, Sérgio Conceição referiu a inexistência de adversários ideais, mas a verdade é que este Penafiel é uma equipa muito modesta, que vive do voluntarismo dos seus técnicos e jogadores. Os durienses praticamente não incomodaram o guarda-redes Matheus. O único golo foi conseguido através de uma grande penalidade, convertida por um jogador que já passou pela Pedreira, Rabiola, a castigar uma entrada fora de tempo de André Pinto em plena grande área.
O Braga entrou no jogo praticamente a vencer, com o golo de Rafa a surgir aos 13 minutos. Aos 28 o Penafiel empatou, através da grande penalidade relatada atrás. Mas antes do intervalo, Santos voltou a colocar os arsenalistas em vantagem, na sequência de um pontapé de canto aos 44 minutos. Logo após o reatamento, a dupla Rafa – Pardo volta a fazer estragos em contra-ataque, aos 55 minutos, o colombiano concluiu uma jogada protagonizada pelo internacional português. Passados apenas quatro minutos, na sequência de novo pontapé de canto, André Pinto desviou para o fundo das redes e redimiu-se do erro da primeira parte. Aos 73, o regressado Luiz Carlos rematou à entrada da área, tendo a bola ressaltado num defesa contrário e traindo o guarda-redes internacional iraniano Haghighi. As contas fecharam-se ao minuto 81, com Sami, também ele entrado na segunda parte a marcar o sexto tento.
Fechada a décima primeira jornada da Liga Portuguesa, os níveis de confiança estão em alta na encosta do monte Castro, mas os próximos tempos trarão desafios grandes para os Guerreiros do Minho. O calendário das próximas jornadas é complicado, com as visitas de Vitória de Guimarães, Paços de Ferreira e Sporting, alternadas com as deslocações aos terrenos de Belenenses e Marítimo. Pelo meio realizar-se-á o prato forte dos oitavos de final da Taça de Portugal: o embate entre Benfica e Braga no Estádio da Luz.
Ricardo Jorge
[email protected]
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)