Para além do enorme prestígio subjacente a uma prova que completou este ano a 70.ª edição, por onde já passaram grandes nomes do futebol mundial, o Troféu Teresa Herrera atribui ao vencedor uma taça de inquestionável beleza, com o característico farol galego desenhado a traço fino. Uma peça garbosa que fica bem em qualquer sala de troféus quer esta esteja mais, ou menos, preenchida.
Este ano couberam ao SC Braga as honras de disputar esta taça com o anfitrião corunhês. Mas embora fosse um desejo manifestado na véspera por jogadores e responsáveis, os Guerreiros do Minho não tiveram a arte nem o engenho suficientes para ultrapassar a equipa do Deportivo. E assim, o troféu da septuagésima edição ficou mesmo em casa. A formação da Corunha, num jogo que serviu também de apresentação à sua afición, esteve melhor na primeira parte e no início da segunda, tendo chegado à vantagem à passagem dos 52 minutos, através da transformação de uma grande penalidade. O resultado não voltou a sofrer alterações até final, apesar de uma boa reacção do SC Braga.
Este jogo colocou um ponto final na preparação da equipa bracarense com vista à temporada 2015/2016 e traduziu-se também na única derrota dos minhotos em jogos de pré-temporada.
Terminou a preparação, agora começa a competição a doer. A partir de segunda-feira, os comandados do novo timoneiro Paulo Fonseca irão apontar o foco para o jogo do próximo Domingo diante do Nacional da Madeira.
Desde a fatídica derrota no Jamor no passado mês de Maio, onde o Braga deixou escapar por entre os dedos das mãos um título que parecia certo, muita coisa mudou. Desde logo, a troca do comando técnico, com o ex-treinador do Paços de Ferreira a substituir Sérgio Conceição, cujo afastamento ainda irá certamente fazer correr muita tinta nos tribunais.
Mas não ficaram por aqui as mudanças. Em termos directivos, o CEO Pedro Pereira também partiu para outras paragens, neste caso para os italianos da Fiorentina. Dizem que foi pela mão do super-agente Jorge Mendes.
Em termos de plantel, aconteceu algo que não se via há alguns anos: algumas das jóias de coroa a despertarem a cobiça de vários emblemas europeus com sobejo arcaboiço financeiro. O sector atacante sofreu uma autêntica razia, pois, Éderzito transferiu-se para os galeses do Swansea, Zé Luís saiu para os russos do Spartak de Moscovo, ao passo que o colombiano Pardo se juntou ao ex-treinador do Sporting, Marco Silva, nos gregos do Olympiakos. A estes há que juntar ainda o regresso de Salvador Agra ao seu clube de origem, Bétis de Sevilha, que entretanto se mudou para o Nacional da Madeira. Ele que apesar de nunca ter sido titular indiscutível, era amiúde uma opção para se lançar nas segundas partes.
A linha média também ficou desfalcada de dois dos seus protagonistas. Depois de ter terminado precocemente a temporada anterior para se juntar à selecção canarinha a disputar o campeonato do mundo de SUB-20 na Nova Zelândia, o brasileiro Danilo, tal como já se previa, não mais regressou à Pedreira, tendo-se mudado para o Valência de Nuno Espírito Santo.
Por sua vez, o médio criativo madeirense Rúben Micael não resistiu a uma oferta de contrato milionária dos chineses do Shijiazhuang Yongchang, tendo rumado a Oriente.
A baliza e a defesa são os sectores onde a transição de uma temporada para outra é pacífica, pois, o Braga mantém os seus dois guarda-redes que alternaram a titularidade na época passada: Matheus e Kritcyuk. Na defesa, apenas há a registar a saída do francês Sasso para o Sheffield Wednesday, agora treinado pelo bracarense Carlos Carvalhal. Os restantes elementos mantêm-se no plantel, apesar das veiculadas notícias do interesse de importantes emblemas europeus no concurso do central brasileiro Santos.
Depois de tantas “vendas” registadas neste defeso, o presidente António Salvador já afirmou que não pretende abrir mão dos seus elementos mais valiosos, neste caso, o central Santos e o avançado Rafa, a não ser que surjam propostas verdadeiramente irrecusáveis.
Para fazer face a tantas e tão importantes saídas, o Braga não teve outro remédio que não a ida ao mercado para reforçar o plantel. Não deixa de ser surpreendente o perfil dos jogadores contratados. Todos os elementos agora incorporados no novo plantel, incluindo os que foram promovidos da equipa B e ainda o argentino Battaglia que regressou do empréstimo ao Moreirense, são jogadores cujas idades não ultrapassam os vinte e cinco anos, tornando este plantel num dos mais jovens, em termos de média de idades, dos últimos anos. À juventude destes reforços, há a juntar a pouca ou nenhuma experiência em termos do escalão principal do futebol profissional português. De facto, uma inversão de paradigma, pois nas épocas anteriores o SC Braga privilegiava futebolistas com maior tarimba e com provas dadas em termos de escalões primo-divisionários.
O modelo de jogo
Apesar de a prosa já ir longa, ainda não foi dito tudo em relação a mudanças. Aliás, falta ainda falar da principal transformação, porque a alteração da orientação técnica não se resume apenas à troca de cadeiras, pois, o novo treinador está a implementar uma nova forma de jogar, baseada no esquema táctico de 4-4-2, com dois avançados em parelha na zona central do ataque. Além disso, o modelo de Sérgio Conceição assente num esquema táctico 4-3-3 e numa estratégia de transições rápidas defesa-ataque, explorando as alas, será substituído por um modelo alicerçado na posse de bola e saída apoiada para o ataque. O controlo do meio-campo está agora entregue a dois médios centrais, que têm a responsabilidade de recuperação de bola e ocupação dos espaços, como também a necessária saída orientada de bola para o processo ofensivo. Os médios-ala têm igualmente funções distintas. Deixam de funcionar como extremos puros a actuar rente às linhas, passando a dispor também de liberdade para explorar os espaços interiores e para aparecerem em zonas de finalização no interior da área, como também na procura de remates de meia-distância. Por sua vez, os defesas-laterais são chamados a avançar no terreno para serem eles, muitas vezes, a desempenharem o papel de extremos, com o intuito de dar largura e profundidade ao jogo. Estas novas funções dos laterais encaixam no perfil de Baiano, mas sobretudo de Djavan, que tem revelado boa forma nos jogos de preparação. Já Marcelo Goiano e Tiago Gomes poderão sentir mais dificuldades, pois parecem talhados para tarefas tácticas de maior contenção defensiva.
No eixo do ataque, a dupla de avançados deverá funcionar de forma sincronizada. Ambos são chamados a fazer movimentações com o objectivo de dificultar as marcações das defesas adversárias, embora um dos elementos tenda a fixar-se mais em zonas de área, enquanto o colega procura conseguir desequilíbrios através de deambulações pelos flancos.
Reforços para a temporada 2015/2016
Baliza:
Para suprimir a saída do terceiro guarda-redes, o brasileiro Victor Golas, a SAD e a equipa técnica decidiram promover o jovem Tiago Sá da equipa B.
Defesa:
A saída de Sasso foi compensada com a contratação do central Ricardo Ferreira, que acompanhou o treinador na viagem desde a Mata Real. Trata-se de um jovem que fez a sua formação no FC Porto, tendo passagens fugazes pelo futebol italiano e pelo Olhanense. A época passada realizou 14 jogos pelo Paços de Ferreira e é uma aposta pessoal do técnico Paulo Fonseca para esta temporada.
Ao reforço da defesa juntou-se também a promoção do central Gonçalo Silva da equipa B, para realizar a pré-temporada com a equipa principal, embora este deva regressar à formação satélite.
Meio-campo:
Face às saídas de Danilo e Rúben Micael, o SC Braga investiu no reforço da linha média. O novo modelo de jogo trazido por Paulo Fonseca também pesou nas escolhas. Para a zona central, onde se espera virem a actuar dois elementos, foi contratado o brasileiro Alef, internacional SUB-20 do Brasil e tal como aconteceu na época passada com Danilo, é um jovem em quem se depositam grandes esperanças. Trata-se de um elemento que pode jogar na posição 6, mais próximo do quarteto defensivo, como também na posição 8, com capacidade de evoluir de uma área a outra.
A este reforço brasileiro juntam-se os regressos de Battaglia, após uma época em bom plano no Moreirense, e a promoção do internacional montenegrino Vukcevic, que actou nos “bês”. A estes três reforços há que juntar a continuidade de Mauro, Luiz Carlos e Pedro Tiba. Ou seja, seis elementos para apenas dois lugares no onze inicial, sendo pois previsível alguma dispensa nos próximos dias.
O Braga contratou ainda Joan Román, proveniente do Barcelona B, um jovem médio criativo com boa técnica, que pode também actuar pelas alas. Ou seja, com as características ideais para o novo conceito de médio-ala pretendidas por Paulo Fonseca.
O plantel vai ainda contar com o concurso de dois jogadores, que nos primeiros jogos de preparação foram testados quer nas funções de médio-ala, mas também no centro do ataque. Um deles é Fábio Martins, talvez a maior revelação da equipa B da temporada passada, chegando a ser chamado à equipa principal por Sérgio Conceição em alguns jogos. O outro é o brasileiro William Pottker, proveniente do Atlético Linense, clube do estado de São Paulo. Este avançado foi inicialmente contratado para a equipa B, mas o seu desempenho nos primeiros treinos agradaram a Paulo Fonseca e isso valeu-lhe a promoção precoce à primeira equipa. Destacou-se também em alguns dos jogos particulares realizados no estágio do Algarve, pela sua velocidade, força e espontaneidade. Houve até quem encontrasse semelhanças entre ele e Hulk.
Ataque:
O novo modelo de jogo preconizado por Paulo Fonseca, que requer dois avançados no eixo, aliado às saídas das duas referências do centro do ataque da época passada, Éder e Zé Luís, levaram a SAD arsenalista a contratar, nada mais nada menos, do que quatro novos artilheiros.
Sabe-se da dificuldade que existe no mercado para encontrar este tipo de jogadores, numa boa relação qualidade/preço. Daí que o Braga necessitasse de recorrer aos mercados brasileiro e sérvio, bem como ao empréstimo de um jogador excedentário dos três grandes.
Mas as contratações podem não ficar por aqui…
Rodrigo Pinho foi o primeiro reforço oficializado pelo clube. Este jovem avançado nascido na Alemanha, filho de um jogador que actuou no Hamburgo. Destacou-se ao serviço do Madureira que disputou a última edição do campeonato Carioca, despertando a cobiça de vários clubes brasileiros e europeus. É um avançado com grande mobilidade e facilidade de remate, que pode actuar também pelas alas ou atrás do ponta-de-lança.
Também Crislán é um jovem atacante que se destacou, por sua vez, ao serviço do Penapolense do campeonato Paulista. É um futebolista alto e veloz, que se movimenta bem na área e procura, tal como o seu compatriota Rodrigo Pinho, afirmar-se no futebol europeu.
Da Sérvia chegou outro avançado, de seu nome Nikola Stojiljkovic. Pelas informações recolhidas deste futebolista proveniente do clube Cukaricki da liga sérvia, é um avançado de grande mobilidade, com remate fácil de pé direito. Ou seja, um perfil semelhante ao dos outros reforços brasileiros e com as características de jogo pretendidas por Paulo Fonseca.
A quarta alternativa atacante é Rui Fonte, um jogador formado na academia sportinguista, que se evidenciou a época passada ao serviço dos “bês” encarnados e depois no Belenenses, onde sofreu uma apoquentadora lesão que o afastará dos relvados até meados de Setembro. O jogador não tem sido propriamente feliz em termos de lesões. Em 2013, uma grave lesão no ligamento cruzado do joelho obrigou-o a uma longa paragem.
Sem colocar minimamente em causa o valor do jogador, o facto de estar a contas com uma lesão impeditiva de iniciar a época no imediato, acrescido do facto de ser um jogador emprestado e por força das alterações dos regulamentos estará impedido de defrontar o clube com o qual tem contrato, fazem desta contratação uma opção algo discutível.
O primeiro 11
Durante o estágio realizado no Algarve no final do mês de Julho, Paulo Fonseca fez várias experiências e deu minutos de jogo a todos os elementos do plantel, em três jogos particulares diante de equipas da Premiership e do Championship (primeiro e segundo escalões) do futebol inglês.
De regresso a casa, disputou ainda um jogo-treino em Vila do Conde diante do Rio Ave. Aparentemente, esse encontro do Estádio dos Arcos deverá ter servido para o técnico realizar as últimas experimentações. Tudo leva a crer que no jogo de apresentação aos sócios diante do Lille, e no recente desafio do troféu Teresa Herrera, já tivesse entrado em campo uma versão muito próxima do onze que se estreará no próximo Domingo em jogo a contar para a primeira jornada da Liga NOS.
Entre os jogos contra gauleses e galegos, Paulo Fonseca fez apenas três alterações. Provavelmente, onde residirão as suas dúvidas. A primeira é na baliza, onde Matheus foi titular diante do Lille, mas coube a Kritcyuk a defesa das redes no estádio do Riazor. É provável que o russo tenha ganho a corrida pela titularidade nesta fase.
A composição do quarteto defensivo parece estar há muito fechada. Salvo algum impedimento físico ou uma transferência de última hora, teremos uma dupla de centrais formada por Santos e André Pinto, com Baiano e Djavan nas laterais.
A dupla de médios-centro também já está definida. Será composta por Luiz Carlos e Vukcevic. O brasileiro beneficiou do facto de ter trabalhado com o treinador em Paços de Ferreira nessa extraordinária temporada de 2012/2013. Já o montenegrino, que não conseguiu convencer Jesualdo Ferreira, nem Jorge Paixão, nem tão pouco Sérgio Conceição, parece ter realmente encantado Paulo Fonseca. E assim, passou de dispensável a titular indiscutível.
Nas alas, há muito que Rafa está de pedra e cal. Aliás, muito se espera esta temporada do jovem internacional português, gorada que foi a sua transferência para um clube de maior dimensão. Da outra banda, Pedro Santos actuou de início diante do Lille, não tendo realizado uma exibição de encher o olho. Na Corunha, foi o espanhol Joan Román a alinhar no onze titular e parece que será ele o dono do lugar.
No ataque, a primeira dupla de avançados deverá ser composta pelos reforços brasileiros Rodrigo Pinho e Crislan, uma vez que Rui Fonte ainda não entra nos planos e o sérvio Stojiljkovic, pelo pouco tempo de treino de que dispôs, ainda não terá o entrosamento suficiente para jogar a titular. Quanto a Fábio Martins e Pottker, que também alinharam nessa posição em alguns jogos de preparação, terão de aguardar por outras oportunidades.
Plantel fechado?
O plantel do SC Braga ainda poderá sofrer alterações até ao fecho do mercado. Esta semana, foram surgindo notícias de uma possível entrada, mas também de uma possível saída. Segundo alguma imprensa, o SC Braga estará a tentar negociar com o Benfica a saída em definitivo do ponta-de-lança barcelense Nélson Oliveira, para ser mais uma opção de ataque no novo esquema táctico de Paulo Fonseca. Na porta de saída poderá estar Pedro Tiba. O médio nunca foi escolha do treinador para actuar na linha média nos jogos de preparação. Chegou a ser testado como segundo avançado, mas obviamente não convenceu porque as suas características em nada têm a ver com as funções que o treinador pretende para o seu ataque.
Por todas as mudanças já realizadas e ainda sem contar com algumas que ainda poderão acontecer, a época 2015/2016 será um grande desafio para uma equipa que viu partir algumas das suas referências e viu entrar muita juventude, que mudou o seu comando técnico e pretende implementar um novo modelo de jogo, cuja assimilação de processos não é fácil de atingir num curto espaço de tempo. A juntar às ambições de se classificar entre os quatro primeiros lugares da liga, de encurtar as distâncias para os grandes e de chegar às finais das duas taças nacionais, os arsenalistas têm também pela frente a cada vez mais exigente competição europeia na fase de grupos da Liga Europa.
Por isso, não é fácil de prever até onde este Braga poderá chegar, nem parecem haver neste momento razões de euforia, nem tão pouco de preocupação, para os seus adeptos. Terá de se deixar a bola começar a rolar e esperar para ver.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)