Longe de ter sido uma exibição de monta, a estreia do SC Braga na edição 2015/2016 da Liga NOS, diante do Nacional da Madeira, valeu sobretudo pelos primeiros três pontos somados. Paulo Fonseca manteve uma tradição, a de vencer nos jogos de estreia; e quebrou outra, pois até ontem nunca tinha derrotado equipas treinadas por Manuel Machado.
Apesar de tudo, os 12.888 espectadores que se deslocaram ao Estádio Municipal de Braga tiveram oportunidade de observar vários lampejos daquilo que poderá ser este novo SC Braga, uma equipa talhada para o jogo ofensivo, com belas jogadas de fino recorte e muita acutilância no momento de atacar a baliza contrária.
Este jogo teve duas partes bem distintas. A primeira começa com o golo madrugador dos insulares ao minuto 3, apontado pelo avançado Soares, que apareceu no coração da área livre de marcação. Este lance foi revelador da necessidade que Paulo Fonseca tem de trabalhar as marcações derivadas desta nova forma de jogar, na qual ambos os laterais têm permissão de atacar em simultâneo, o que faz com que a dupla de centrais tenda a derivar para os flancos, na tentativa de cobrir o espaço aberto pelos laterais, mas deixando aberto o corredor central.
A reacção bracarense não se fez esperar. Logo no minuto seguinte, Santos tentou alvejar a baliza na marcação de um livre em posição frontal. O remate do central saiu forte, o guarda-redes Gottardi não conseguiu sustê-lo, a bola sobrou para Crislan, que teve tempo para dominar a bola e rematar, mas não conseguiu desfeitear o guardião nacionalista, quando tinha a baliza à sua mercê. O jovem avançado brasileiro revelou neste lance falta de sangue-frio e instinto matador, essenciais a um jogador de área, e durante o resto do jogo não conseguiu ainda mostrar seus dotes de goleador, que fizeram António Salvador viajar ao Brasil para o contratar.
O Braga continuou a carregar e à passagem dos 10 minutos, Pedro Santos que fora talvez o melhor elemento da equipa da casa no primeiro tempo, arrancou um penalti a Luís Aurélio numa incursão pelo lado direito. O próprio se encarregou da marcação do castigo máximo e fê-lo com qualidade, rematando rasteiro e junto ao poste esquerdo, sem hipóteses de defesa para o guarda-redes adversário.
Reposta a igualdade, o Braga tirou o pé do acelerador e permitiu aos forasteiros tomar as rédeas da partida. A equipa de Manuel Machado, não obstante as saídas de jogadores importantes, característica comum às duas equipas em contenda ontem, mantém uma espinha dorsal e um modelo de jogo há muito consolidado. Até à passagem da meia-hora de jogo, dominou por completo as operações na linha média, onde Luiz Carlos e Vukcevic se viam aos papeis. Não foi de admirar que neste período tivessem beneficiado dos lances mais perigosos. Primeiro por Salvador Agra, regressado à Pedreira com outras cores vestidas, que aproveitou o adiantamento de Djavan para fazer uma incursão pelo flanco, valendo a intervenção rápida de Kritcyuk a evitar o golo. Depois, pelo lado contrário, foi a vez de Luís Aurélio ter estado perto de concretizar através de um cabeceamento em salto de peixe.
Apercebendo-se das dificuldades em controlar o jogo a meio-campo e de conseguir sair em ataque apoiado, o Braga apostou em lançamentos longos para o ataque, beneficiando da velocidade de Pedro Santos, Rafa e Djavan, que mais uma vez funcionou como se de um extremo se tratasse. E deu resultado esta mudança de estratégia, já que os Guerreiros do Minho criaram perigo através de remates de Pedro Santos e Rodrigo Pinho, aos quais o guarda-redes Gottardi respondeu com boas intervenções.
Ao minuto 36 dá-se uma alteração que viria a mudar o destino do jogo. Tentando beneficiar da superioridade a meio-campo, Manuel Machado retirou o seu médio mais defensivo, o egípcio Ghazal, lançado em jogo Witi, um elemento com maior apetência ofensiva. O tiro saiu-lhe pela culatra, já que a equipa deixou de ter capacidade de pressionar a saída de ataque do Braga e a percentagem de posse de bola, que até aí tinha sido mais do Nacional, equilibrou-se.
Antes do apito para o intervalo, num lance construído pelo flanco direito bracarense, o médio Washington tentou fazer um corte de carrinho, acabando por desviar a trajectória da bola com o braço. O árbitro Jorge Sousa, muito próximo do lance, entendeu tratar-se de jogo casual e não assinalou o castigo máximo.
Na segunda parte o Braga entrou melhor e passou a dominar por completo o jogo. A dupla Luiz Carlos – Vukcevic melhorou substancialmente a sua prestação, apoiados por Rafa e por uma dupla de laterais muito ofensivos. Já Pedro Santos não conseguiu produzir no segundo tempo a boa exibição dos primeiros 45 minutos. Na linha da frente, Crislan apesar de muito activo não conseguia acertar na baliza. Por seu turno, Rodrigo Pinho não conseguiu aparecer neste primeiro jogo com a mesma dinâmica que revelara no jogo de apresentação diante dos franceses do Lille, sentindo muita dificuldade em fugir à marcação da defesa adversária. Ainda assim, quando teve oportunidade de ter a bola, revelou melhor capacidade técnica do que o seu companheiro do ataque. Antes de sair para dar lugar ao sérvio Stojlikovic, conseguiu um excelente cabeceamento, que só não deu golo porque Gottardi estava em tarde inspirada. Vendo a sua equipa a ser encostada às cordas, Manuel Machado mudou novamente de estratégia, ao lançar a jogo um médio de características defensivas, Boubacar, retirando de campo Salvador Agra. O extremo vila-condense foi aplaudido pelos adeptos bracarenses enquanto saía.
Com esta alteração, o treinador vimaranense conseguiu suster algum do ímpeto atacante bracarense, mas a sua equipa ficou mais curta. A partir daí, ficou-se com a clara sensação que a equipa da Madeira estaria satisfeita com a manutenção do empate e a conquista de um ponto, pois, praticamente deixou de atacar e de rematar à baliza de Krticyuk.
O sérvio Stojlikovic revelou boa dinâmica na sua estreia e disfarçou alguma falta de entrosamento, natural de um jogador recém-chegado. Porém, o segundo golo bracarense teimava em não chegar e aos 73 minutos Paulo Fonseca lançou o seu joker, retirando de campo o eclipsado Pedro Santos.
Foram precisos apenas sete minutos para que o pequeno Joan Román desse larga à sua criatividade e através de uma incursão pela meia direita, ultrapassou vários adversários e já próximo da pequena área desferiu o golpe de misericórdia ao quase intransponível Gottardi.
Com as substituições esgotadas minutos antes, o treinador do Nacional não pôde fazer mais substituições para tentar alterar o rumo dos acontecimentos, acabando por pagar caro pelas suas más opções durante o jogo e por ter abdicado da procura da vitória numa fase muito precoce do jogo. Por seu turno, Paulo Fonseca lançou ainda Alan para os derradeiros minutos, procurando com a experiência do capitão serenar o jogo e acrescentar a inteligência necessária para segurar tão importante vantagem.
Contudo, o Nacional da Madeira esteve perto do golo do empate no último lance do jogo, valendo a má execução do cabeceamento de Witi, à figura de Krityuk que segurou sem dificuldade.
O Braga conseguiu, assim, um importante triunfo diante de um adversário sempre complicado, e que é também um concorrente directo na luta pelos lugares que dão acesso às competições europeias. A equipa já conseguiu colocar em prática algumas das ideias preconizadas por Paulo Fonseca, mas ainda se notam algumas lacunas, nomeadamente a meio-campo, nas marcações da defesa e na finalização, esperando-se que possam ser corrigidas com o passar do tempo.
Na próxima sexta-feira, os Guerreiros do Minho têm pela frente mais um teste complicado, com a visita ao Estádio dos Arcos para defrontar o Rio Ave.
Ricardo Jorge
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