Porque hoje é Carnaval e este autor é dos felizardos que se pode dar ao luxo de aproveitar o dia, decidi escrever uma crónica de fugida sobre a Liga Portuguesa, que mais se pode comparar a um longo corso de Entrudo, iniciado em Agosto e duradouro até ao mês de Maio do ano seguinte. Esperando que os leitores, como é apanágio desta época, não levem a mal.
Ainda a bola não saltava nos jogos da 21.ª jornada, já a folia era grande lá para os lados da segunda circular, com as direcções de leões e águias a trocarem acusações mútuas ao invés de condenar as atitudes dos respectivos adeptos. Pois, de um e de outro lado houve comportamentos indignos. Pela enésima vez na história, os grandes de Lisboa estão de relações cortadas, perpetuando assim o clima de hostilidade tão nefasto para o futebol português.
Nas quatro linhas, o FC Porto cumpriu a obrigação diante de um Vitória de Guimarães, que parece querer confirmar a tradição de abaixamento nas segundas voltas. Os dragões não aceleraram demasiado o passo porque durante a semana têm compromisso europeu, diante dos suíços do Basileia. A passagem, ou não, para os quartos-de-final da Champions pode ser decisiva para o futuro de Lopetegui. O basco já percebeu isso, como também da pouca eficácia do modelo das rotações. Daí que até ao final da época, os portistas irão alinhar sempre com o seu onze base.
Este jogo do Dragão realizou-se na sexta-feira e no dia seguinte, novo dérbi entre clubes alfacinhas, no Restelo, opondo Belenenses e Sporting. Os azuis de Belém seguem seguros no sexto lugar da tabela e partiam moralizados, depois de um excelente triunfo em Guimarães na jornada anterior. Marco Silva procurava não perder terreno para os rivais da frente, depois de ter visto fugir o triunfo diante do Benfica no último minuto dos descontos. Mas desta vez foi Rui Patrício a pregar-lhe uma partida, ele que tantas vezes foi o santo salvador da honra do convento. E o escândalo só não foi maior porque Carlos Mané apontou o golo do empate já muito perto do final. Com este segundo empate consecutivo, os de Alvalade vêm o Porto a descolar no segundo lugar e colocam um ponto final na possibilidade de chegar ao título esta temporada. Durante a semana, os leões serão submetidos a novo teste de fogo diante dos milionários do Wolfsburgo, segundos classificados da liga alemã. Resta saber se as chagas abertas pela crise entre presidente e treinador sararam completamente, ou se um novo tocar de dedo na ferida vai provocar numa ruptura em Alvalade. Os próximos resultados o dirão.
Este jogo fica ainda ligado a um episódio polémico protagonizado por uma marca de cervejas, concorrente de uma outra marca patrocinadora do Sporting. Em causa estava um anúncio publicitário no qual se incluía uma rábula ao lance infeliz do guarda-redes leonino. E porque todos somos Charlie mas nem sempre achamos piada quando é a nossa cara caricaturada, mesmo sendo Carnaval, os adeptos sportinguistas levaram a mal e a dita marca de cervejas cancelou a difusão do spot como o diabo esfrega o olho.
No Estádio da Luz, repetiu-se a história da meia-final da Taça da Liga, com as águias a baterem o Vitória de Setúbal por 3-0, num jogo em que os visitantes tentaram jogar a bola deixando o autocarro na garagem. Este segundo duelo entre encarnados e sadinos fica novamente marcado por erros de arbitragem, pois, logo nos minutos iniciais, o árbitro não assinalou uma grande penalidade indiscutível de Jardel a Suk. E momentos mais tarde, deixou seguir um lance precedido por falta de Ola John que acabou transformado num dos golos de Lima, já que o brasileiro voltou a bisar na liga, meses depois de o ter feito pela última vez no Dragão. Na conferência de imprensa final, vimos o treinador benfiquista a dar uma de gentleman, porque não é preciso ser Carnaval para Jorge Jesus ver as suas declarações publicadas no Youtube.
Quem aproveitou em pleno os resultados da concorrência foi o SC Braga, que beneficiou da derrota do Vitória SC no Dragão para consolidar o 4.º lugar, objectivo principal da época que poderá dar acesso directo à fase de grupos da Liga Europa da próxima temporada. A vitória sobre o Arouca, a terceira consecutiva dos homens de Sérgio Conceição, serviu também para encurtar novamente distâncias para o 3.º lugar, no qual os bracarenses já estiveram colocados, recorde-se, após a última ronda de 2014. No entanto, desengane-se quem pensar que os arsenalistas tiveram vida fácil diante do aflito Arouca. A primeira parte até lhes correu bem, tendo chegado ao golo aos 20 minutos por Zé Luís, dominando o jogo por completo. O Arouca fez o primeiro remate já perto do intervalo. Mas a segunda parte foi totalmente diferente, pois os comandados de PedroEmanuel ousaram assumir as rédeas de jogo. E mesmo jogando com menos um homem durante quase todo o segundo tempo, roubaram por completo o domínio de jogo aos da casa, chegando mesmo a sufocar o adversário, não o deixando sequer sair do seu meio-campo. O SC Braga, claramente, não foi capaz de gerir a vantagem numérica nem de marcador. Incapazes de suster a pressão dos arouquenses, lançavam bolas em profundidade para os seus homens mais rápidos, em vez de sair para o ataque com futebol apoiado. O Arouca poderia ter chegado mesmo ao empate, se o árbitro não tivesse perdoado uma grande penalidade a Matheus, que mais uma vez teve uma saída extemporânea na baliza e, fazendo pior a emenda que o soneto, ainda rasteirou o adversário em plena grande área. Minutos depois, numa jogada de contra-ataque do lado direito, Rafa cruzou rasteiro para o centro de área, onde apareceu Éder para empurrar para o golo da tranquilidade. Também este lance foi polémico, porque na imagem televisiva, recorrendo à tecnologia, via-se que a perna esquerda do avançado do SC Braga ligeiramente deslocada à frente da linha da bola. Mas sendo humanamente impossível para o auxiliar vislumbrar um fora-de-jogo neste lance, aceita-se a decisão, até porque dizem as leis que se deve dar benefício da dúvida ao ataque.
Após este golo, o treinador dos bracarenses envolveu-se em picardias verbais com alguns adeptos posicionados atrás de si, descontentes com a fraca prestação da equipa na segunda parte. Mas no final da partida, Sérgio Conceição penitenciou-se de mais uma fervura em pouca água e ainda foi a tempo de distribuir cumprimentos e abraços por alguns dos adeptos, que certamente passaram uma esponja no incidente, porque no futebol as vitórias são remédio santo para todos os males. Pelo contrário, os ânimos dos forasteiros mantiveram-se exaltados, com o treinador e presidente do Arouca a serem muito cáusticos com o árbitro da partida.
Nas restantes partidas, destaque para mais uma vitória do Gil Vicente, no Sábado, em Barcelos, diante do Paços de Ferreira. Neste jogo que chegou a estar vários minutos interrompido pela necessidade de remarcação do campo, pois S. Pedro também fizera das suas, ou não estivéssemos no Carnaval. Com este segundo triunfo consecutivo, os barcelenses saíram da zona de descida e respiram mais confiança para as duras batalhas até final.
Em Coimbra, no Domingo, outra peripécia rocambolesca no desafio que opôs os estudantes aos axadrezados. O jogo caminhava para o fim e o nulo parecia certo, mas eis que o Boavista consegue um golo já depois da hora e os seus jogadores, eufóricos, foram junto da bancada festejar com os adeptos. Porém, o golo foi invalidado, a partida retomada, mas a maior parte dos jogadores boavisteiros continuou com as celebrações. Mesmo assim, a Académica não foi capaz de chegar ao golo no reatamento da partida, quando tinha pela frente apenas metade da equipa adversária. No final do encontro, o ainda técnico Paulo Sérgio afirmou ter faltado oxigenação no cérebro a um dos seus jogadores, naquele momento insólito do jogo, no qual dispuseram de uma oportunidade flagrante de vencer. Mas na realidade, esvaziou-se o balão do oxigénio que restava a este treinador e algumas horas depois a sua saída consumou-se. A briosa ocupa agora o incómodo penúltimo lugar da liga.
Depois de terminada a partida, continuou a confusão nas bancadas, tendo as autoridades necessitado de efectuar algumas detenções.
A jornada terminou esta segunda-feira, num encontro entre os europeus Nacional e Estoril, tendo os madeirenses vencido por uma bola a zero, com um golo marcado já perto do final. Esta partida foi dirigida por Cosme Machado, porque as recentes prestações medíocres do árbitro famalicense não parecem ter abalado a confiança dos elementos do Conselho de Arbitragem. Esta partida do fecho da jornada ficaria também marcada por um episódio caricato, pois momentos antes do golo, o treinador da casa Manuel Machado teve de ser agarrado por elementos do staff nacionalista, ao verem-no dirigir-se de rompante às bancadas para se travar de razões com o adepto que o insultara.
E porque a vida são dois dias e o Carnaval são três, despeço-me de todos com alegria e até para a semana!
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
Ainda a bola não saltava nos jogos da 21.ª jornada, já a folia era grande lá para os lados da segunda circular, com as direcções de leões e águias a trocarem acusações mútuas ao invés de condenar as atitudes dos respectivos adeptos. Pois, de um e de outro lado houve comportamentos indignos. Pela enésima vez na história, os grandes de Lisboa estão de relações cortadas, perpetuando assim o clima de hostilidade tão nefasto para o futebol português.
Nas quatro linhas, o FC Porto cumpriu a obrigação diante de um Vitória de Guimarães, que parece querer confirmar a tradição de abaixamento nas segundas voltas. Os dragões não aceleraram demasiado o passo porque durante a semana têm compromisso europeu, diante dos suíços do Basileia. A passagem, ou não, para os quartos-de-final da Champions pode ser decisiva para o futuro de Lopetegui. O basco já percebeu isso, como também da pouca eficácia do modelo das rotações. Daí que até ao final da época, os portistas irão alinhar sempre com o seu onze base.
Este jogo do Dragão realizou-se na sexta-feira e no dia seguinte, novo dérbi entre clubes alfacinhas, no Restelo, opondo Belenenses e Sporting. Os azuis de Belém seguem seguros no sexto lugar da tabela e partiam moralizados, depois de um excelente triunfo em Guimarães na jornada anterior. Marco Silva procurava não perder terreno para os rivais da frente, depois de ter visto fugir o triunfo diante do Benfica no último minuto dos descontos. Mas desta vez foi Rui Patrício a pregar-lhe uma partida, ele que tantas vezes foi o santo salvador da honra do convento. E o escândalo só não foi maior porque Carlos Mané apontou o golo do empate já muito perto do final. Com este segundo empate consecutivo, os de Alvalade vêm o Porto a descolar no segundo lugar e colocam um ponto final na possibilidade de chegar ao título esta temporada. Durante a semana, os leões serão submetidos a novo teste de fogo diante dos milionários do Wolfsburgo, segundos classificados da liga alemã. Resta saber se as chagas abertas pela crise entre presidente e treinador sararam completamente, ou se um novo tocar de dedo na ferida vai provocar numa ruptura em Alvalade. Os próximos resultados o dirão.
Este jogo fica ainda ligado a um episódio polémico protagonizado por uma marca de cervejas, concorrente de uma outra marca patrocinadora do Sporting. Em causa estava um anúncio publicitário no qual se incluía uma rábula ao lance infeliz do guarda-redes leonino. E porque todos somos Charlie mas nem sempre achamos piada quando é a nossa cara caricaturada, mesmo sendo Carnaval, os adeptos sportinguistas levaram a mal e a dita marca de cervejas cancelou a difusão do spot como o diabo esfrega o olho.
No Estádio da Luz, repetiu-se a história da meia-final da Taça da Liga, com as águias a baterem o Vitória de Setúbal por 3-0, num jogo em que os visitantes tentaram jogar a bola deixando o autocarro na garagem. Este segundo duelo entre encarnados e sadinos fica novamente marcado por erros de arbitragem, pois, logo nos minutos iniciais, o árbitro não assinalou uma grande penalidade indiscutível de Jardel a Suk. E momentos mais tarde, deixou seguir um lance precedido por falta de Ola John que acabou transformado num dos golos de Lima, já que o brasileiro voltou a bisar na liga, meses depois de o ter feito pela última vez no Dragão. Na conferência de imprensa final, vimos o treinador benfiquista a dar uma de gentleman, porque não é preciso ser Carnaval para Jorge Jesus ver as suas declarações publicadas no Youtube.
Quem aproveitou em pleno os resultados da concorrência foi o SC Braga, que beneficiou da derrota do Vitória SC no Dragão para consolidar o 4.º lugar, objectivo principal da época que poderá dar acesso directo à fase de grupos da Liga Europa da próxima temporada. A vitória sobre o Arouca, a terceira consecutiva dos homens de Sérgio Conceição, serviu também para encurtar novamente distâncias para o 3.º lugar, no qual os bracarenses já estiveram colocados, recorde-se, após a última ronda de 2014. No entanto, desengane-se quem pensar que os arsenalistas tiveram vida fácil diante do aflito Arouca. A primeira parte até lhes correu bem, tendo chegado ao golo aos 20 minutos por Zé Luís, dominando o jogo por completo. O Arouca fez o primeiro remate já perto do intervalo. Mas a segunda parte foi totalmente diferente, pois os comandados de PedroEmanuel ousaram assumir as rédeas de jogo. E mesmo jogando com menos um homem durante quase todo o segundo tempo, roubaram por completo o domínio de jogo aos da casa, chegando mesmo a sufocar o adversário, não o deixando sequer sair do seu meio-campo. O SC Braga, claramente, não foi capaz de gerir a vantagem numérica nem de marcador. Incapazes de suster a pressão dos arouquenses, lançavam bolas em profundidade para os seus homens mais rápidos, em vez de sair para o ataque com futebol apoiado. O Arouca poderia ter chegado mesmo ao empate, se o árbitro não tivesse perdoado uma grande penalidade a Matheus, que mais uma vez teve uma saída extemporânea na baliza e, fazendo pior a emenda que o soneto, ainda rasteirou o adversário em plena grande área. Minutos depois, numa jogada de contra-ataque do lado direito, Rafa cruzou rasteiro para o centro de área, onde apareceu Éder para empurrar para o golo da tranquilidade. Também este lance foi polémico, porque na imagem televisiva, recorrendo à tecnologia, via-se que a perna esquerda do avançado do SC Braga ligeiramente deslocada à frente da linha da bola. Mas sendo humanamente impossível para o auxiliar vislumbrar um fora-de-jogo neste lance, aceita-se a decisão, até porque dizem as leis que se deve dar benefício da dúvida ao ataque.
Após este golo, o treinador dos bracarenses envolveu-se em picardias verbais com alguns adeptos posicionados atrás de si, descontentes com a fraca prestação da equipa na segunda parte. Mas no final da partida, Sérgio Conceição penitenciou-se de mais uma fervura em pouca água e ainda foi a tempo de distribuir cumprimentos e abraços por alguns dos adeptos, que certamente passaram uma esponja no incidente, porque no futebol as vitórias são remédio santo para todos os males. Pelo contrário, os ânimos dos forasteiros mantiveram-se exaltados, com o treinador e presidente do Arouca a serem muito cáusticos com o árbitro da partida.
Nas restantes partidas, destaque para mais uma vitória do Gil Vicente, no Sábado, em Barcelos, diante do Paços de Ferreira. Neste jogo que chegou a estar vários minutos interrompido pela necessidade de remarcação do campo, pois S. Pedro também fizera das suas, ou não estivéssemos no Carnaval. Com este segundo triunfo consecutivo, os barcelenses saíram da zona de descida e respiram mais confiança para as duras batalhas até final.
Em Coimbra, no Domingo, outra peripécia rocambolesca no desafio que opôs os estudantes aos axadrezados. O jogo caminhava para o fim e o nulo parecia certo, mas eis que o Boavista consegue um golo já depois da hora e os seus jogadores, eufóricos, foram junto da bancada festejar com os adeptos. Porém, o golo foi invalidado, a partida retomada, mas a maior parte dos jogadores boavisteiros continuou com as celebrações. Mesmo assim, a Académica não foi capaz de chegar ao golo no reatamento da partida, quando tinha pela frente apenas metade da equipa adversária. No final do encontro, o ainda técnico Paulo Sérgio afirmou ter faltado oxigenação no cérebro a um dos seus jogadores, naquele momento insólito do jogo, no qual dispuseram de uma oportunidade flagrante de vencer. Mas na realidade, esvaziou-se o balão do oxigénio que restava a este treinador e algumas horas depois a sua saída consumou-se. A briosa ocupa agora o incómodo penúltimo lugar da liga.
Depois de terminada a partida, continuou a confusão nas bancadas, tendo as autoridades necessitado de efectuar algumas detenções.
A jornada terminou esta segunda-feira, num encontro entre os europeus Nacional e Estoril, tendo os madeirenses vencido por uma bola a zero, com um golo marcado já perto do final. Esta partida foi dirigida por Cosme Machado, porque as recentes prestações medíocres do árbitro famalicense não parecem ter abalado a confiança dos elementos do Conselho de Arbitragem. Esta partida do fecho da jornada ficaria também marcada por um episódio caricato, pois momentos antes do golo, o treinador da casa Manuel Machado teve de ser agarrado por elementos do staff nacionalista, ao verem-no dirigir-se de rompante às bancadas para se travar de razões com o adepto que o insultara.
E porque a vida são dois dias e o Carnaval são três, despeço-me de todos com alegria e até para a semana!
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)