O actual líder leonino, numa missiva tão oportuna como inútil, decidiu, pateticamente, de mansinho assumir as suas culpas, de peito feito, virar agulhas contra Marco Silva e os jogadores. Aproveitou ainda o tempo de antena, sem direito a perguntas, para pedir o apoio aos associados para o projecto em curso, solicitando que para tal, seja marcada uma assembleia geral, para que os sócios mostrem o seu irredutível apoio ao caminho que BdC decidiu traçar. Fica a pergunta, e se não o fizerem?
Julgo, que a ter dúvidas do apoio dos sócios, o ideal, para validar se ele existe ou não, seria BdC, num acto de desapego ao poder, demitir-se e convocar novas eleições e aí ser, ou não, sufragado pelos sócios, mas o presidente da direcção e da SAD leonina, também já sentiu, porque de parvo não tem nada, que se calhar poderia haver uma surpresa e o melhor mesmo, não vá o diabo tecê-las é, de forma populista, pedir o apoio dos sócios nessa tal AG, que não dá a palavra a todos mas apenas a alguns, que será marcada, ao que tudo indica, para o inicio do próximo ano.
Na infindável onda de choque que as palavras de BdC produziram, numa primeira instância, o treinador Marco Silva, que o presidente tinha apresentado com pompa e circunstância no passado dia 21 de Maio do corrente, como sendo o líder de um projecto de futuro, mostrou-se prudente, não quis, de forma directa, até porque na altura preparava o jogo na Madeira com o Nacional, tecer grandes comentários aos disparates lidos no dia anterior, embora se notasse que o treinador tinha ficado incomodado pelas criticas feitas pelo presidente. O pior viria depois da vitória justa e merecida na Choupana.
No fim do jogo, respaldado pela vitória, Marco Silva disparou, já diz o ditado que quem não sente, não é filho de boa gente, o treinador disse que gosta de tratar dos problemas cara a cara e que á assim que vai continuar a fazê-lo. Palavras que BdC não gostou, sentiu que o recado era para si, pudera, e vai daí decide convocar o treinador para o tal cara a cara, numa reunião que ocorreu na passada segunda-feira, dia 22, que durou, segundo as crónicas, muito tempo e nesse frente a frente, Marco Silva não cedeu e BdC acusou o treinador de falta de lealdade e solidariedade com a direcção. É preciso ter lata!
Nessa manhã, Augusto Inácio, no sorteio da Taça de Portugal, dizia que tudo não passava de poeira que estava no ar. Triste figura.
No fim dessa reunião, anunciaram os órgãos de comunicação social, o destino do treinador estava traçado, Marco Silva, seria despedido ainda antes do Natal. Daqui para a frente as criticas, por parte daqueles que tem sido o maior garante do actual presidente, os adeptos, começaram a correr, num local que BdC usa com muita mestria, o facebook. Todos adeptos ouvidos, menos dois, José Eduardo Barroso, uma espécie de objector de consciência de BdC, que diz que o treinador está a fazer de tudo para se ir embora(!?) e agora José Eduardo, que veio a terreno dizer que “Marco Silva tem uma agenda própria, tem interesses próprios que não são os do Sporting. São os interesses de outras entidades, eventualmente do seu empresário”, palavras que lhe valeram, para já, uma queixa-crime movida pelo actual treinador leonino, insurgiram-se contra a dispensa do treinador, mostrando ao presidente que o seu estado de graça pode estar, também ele, por um fio.
Após perceber isto mesmo, BdC, talvez imbuído pelo espírito natalício, sentiu necessidade de conceder uma entrevista à televisão do clube onde admitiu que existem problemas legítimos e negou a saída do treinador, esclarecendo que é “descabido dizer que o Marco Silva saiu” e que este fica…pelo menos até ao jogo de Guimarães: "Os sportinguistas querem que, numa decisão do dia a dia, tenhamos que fazer um referendo? Não abdico de gerir sem medo e de fazer o que tem de ser feito. Se tomamos uma decisão má, temos de ter a capacidade de a resolver. O Marco lá estará a fazer o jogo da Taça da Liga, é o treinador do Sporting, mas nós somos a administração e em Janeiro falamos aos sportinguistas e aprofundamos as questões de fundo". Parece claro que o presidente, que já demonstrou que gosta pouco de dar o braço a torcer, tomou a decisão de dispensar o treinador, apenas recuou agora nessa intenção porque sentiu que esta decisão viria numa altura muito complicada pois a sua popularidade, no barómetro das redes sociais, já conhecem melhores dias e porque os adeptos não lhe iriam perdoar tal desfecho. No entanto, fica no ar a ideia, que após a tão ansiada AG, e se esta correr de feição às suas pretensões, o caminho do treinador pode ser mesmo a saída de Alvalade, que pode até ser antecipada se os resultados não ajudarem. Um erro acontecer.
Fica também demonstrado, que após a saída de Jesualdo Ferreira, em conflito com o presidente, que a saída de Leonardo Jardim, ofuscada pelo grande contrato que o Mónaco lhe propôs, estiveram directamente ligadas à (falta) relação com BdC, que se intromete demais naquilo que é o trabalho de campo e não se percebe, a não ser que haja outros interesses por detrás, que Augusto Inácio, homem experimentado e com escola no futebol português, não explique isto mesmo ao presidente.
Nesta mesma intervenção à TV do clube, ainda deixou agradecimentos aos seus fiéis apoiantes e deixou alguns recados para dentro: “Li que sou parte do problema e não da solução. Vi também vários comentadores a dizerem muita coisa, mas só vi Eduardo Barroso e José Eduardo a estabeleceram um elo de confiança”, ao mais puro estilo: quem não está por nós, está contra nós.
Ainda teve tempo para outro alerta “Muito do que saiu, não saiu só por invenção. Saiu do próprio Sporting, com alguma maldade. Não me deixa espantado, mas conseguiu deixar-me preocupado. O Sporting que não via e não sentia há dois anos está por aí a pairar. E é bom que tenhamos a capacidade para perceber isso. Se as coisas correm mal e acontecem estas coisas, temos de pensar no que fazemos e se vale a pena fazer”, será que vem por aí uma caça às bruxas?
Com estas atitudes, até porque um presidente será sempre recordado pelos títulos alcançados, BdC deita a perder todo o trabalho que tem feito em Alvalade, como por exemplo a reformulação financeira do clube, que é nesta altura uma realidade, este Sporting de hoje é realista no que toca às suas finanças, não vive, nem pode viver, acima das suas posses, BdC imprimiu rigor nas contas e isso não pode ser esquecido; tem tido uma palavra em questões estruturais no panorama futebolístico nacional e não só, tem conseguido passar a sua mensagem nas altas instâncias mundiais do futebol, as reuniões com Platini (UEFA) e Blatter (FIFA), bem como a recente organização do Congresso Internacional “The Future of Football”, são exemplos disso mesmo.
É tempo de BdC deixar de ser o actor principal, como tanto gosta, do Sporting, deve focar-se nas suas tarefas, que fruto das guerras que compra, são mais que as desejadas para um clube com tantos problemas, mas é tempo de perceber, que tem que deixar de lado a arrogância, o trivialismo e a baixeza, para não ser, como já escrevi noutros textos, mais um que veio e não deixou saudades. Será que consegue?
Daniel Lourenço
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)