Antes de mais gostaria de pedir desculpas aos leitores do Rectângulo Mágico por este pequeno hiato de publicações. Felizmente, tenho um colega de blog que escreve com tal qualidade e pertinência, que quase faz passar despercebida a minha ausência.
Infelizmente, o tema que escolhi não é sobre o jogo disputado sobre aquele rectângulo mágico, mas sim sobre a peça de equipamento, em segundo lugar na ordem de importância pois em primeiro está a bola, na realização de um desafio: as chuteiras dos jogadores.
O que se passou entre esta quarta e quinta-feira desta semana envergonharia o futebol de cangosta, quanto mais o futebol de alta-competição. E quando digo entre quarta e quinta-feira, refiro-me ao momento que intermediou o final do treino de adaptação da equipa do SC Braga ao Estádio Velódrome, de Marselha, e onde após a equipa portuguesa ter abandonado o balneário, este foi trancado na presença de elementos da estrutura bracarense. E depois foi novamente destrancado na manhã seguinte, de quinta-feira, quando parte da comitiva bracarense se deslocou ao estádio para reuniões protocolares entre clubes e UEFA. O problema é que ao abrir-se a porta naquela manhã de quinta-feira, dia do jogo, as chuteiras dos jogadores tinham-se “evaporado”. Quanto ao resto do equipamento, estava onde tinha sido deixado.
E foi isto que aconteceu, não estive no local, mas sei do que falo.
Até hoje ninguém foi capaz de encontrar uma explicação para o sucedido e duvido que algum dia o venhamos a saber, a não ser que alguém dê com a língua nos dentes. Porque lá diz o povo que o diabo tanto encobre como descobre.
Como disse e muito bem o treinador Paulo Fonseca, na antevisão da partida a contar para a Liga Portuguesa diante do União da Madeira, o que se passou no estádio Velódrome é “gravíssimo”. Na verdade, o técnico bracarense não só tem toda a razão ao dizê-lo, como tem toda a legitimidade para o fazer. Porque no final da partida, na qual a sua equipa perdera por 1-0 sem ter realizado uma boa exibição, o mesmo Paulo Fonseca não teve problemas em admitir que o adversário fora melhor, sem nunca se desculpar a respeito deste incidente inconcebível que, sem sombra de dúvida, condicionou seriamente a sua equipa.
Como se já não bastasse esta situação ignóbil a que a equipa do SC Braga foi sujeita, o que revoltou ainda mais a todos quantos têm alguma ligação a este clube foi a ligeireza com que as estruturas do futebol trataram este tema. A começar pela UEFA, que em nenhum momento ponderou sequer o adiamento do jogo ao ser confrontada com um episódio desta gravidade. Mas também é de lamentar o silêncio da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes, que mais uma vez não saíram em defesa de um clube seu filiado, num momento em que este era prejudicado no âmbito da participação nas provas europeias.
Da parte do clube de Marselha, responsável pela segurança no interior do estádio e, consequentemente, do material que se encontrava no balneário da equipa visitante, apenas houve a preocupação de enviar aviões a jacto para ir buscar chuteiras novas e garantir a realização do jogo.
Pedido de desculpas público, nem vê-lo. Pior ainda, no final do encontro um dos jogadores da equipa, quando questionado sobre o incidente pelos jornalistas, na zona mista, ainda teve a distinta lata de gozar com a situação. Só que esqueceu-se esse mentecapto que, apesar de ter ganho o jogo, continua a olhar para cima e a ver Braga e Liberec nos lugares que darão acesso à fase a eliminar da prova, mesmo tendo estas duas equipas orçamentos muito inferiores.
Já que voltei a mencionar esse clube da cidade portuária francesa, que quinze dias antes levou um banho de bola em pleno Estádio Municipal de Braga, é bom os nossos leitores não se esquecerem que está ligado ao que de pior tem o futebol: a corrupção. Na década de noventa fora-lhes retirado um título europeu depois de se ter provado o envolvimento em actividades ilícitas de viciação de resultados. Na sua galeria de dirigentes, figuram indivíduos que mais parecem saídos de películas de gangsters. E pelos vistos, esse clube já tem antecedentes no que toca a jogar sujo, que o digam os futebolistas do PSG que lá foram jogar há uns anos atrás.
Revoltante também é a igual ligeireza com que os jornalistas portugueses da imprensa de índole nacional abordaram o assunto. Claramente, para estes só importam mesmo os dois clubes grandes de Lisboa, sendo que do FC Porto vão falando, de vez em quando, talvez por receio do Bobby, Tareco, ou do Guarda Abel. Esses mesmos órgãos de informação, que tanta importância deram ao facto do Benfica ter jogado a final da Taça dos Campeões Europeus, em 1989, com meias a estrear. Só que nessa altura, as águias jogaram com meias novas porque quiseram. Esta semana, os jogadores do Braga estrearam botas porque a isso foram obrigados. Qualquer praticante da modalidade, ainda que pouco experiente, sabe o quanto a utilização de chuteiras novas condiciona o desempenho futebolístico. Mas para alguns jornaleiros portugueses isso é um aspecto menor. Aliás, alguém da redacção do MaisFutebol (não se identificando pelo nome) teve mesmo o desplante de rematar a sua crónica com a seguinte frase: “Ainda assim, hoje, o Sp. Braga deixou a impressão de que nem de patins lá chegava.”
Na mesma conferência de imprensa de lançamento do jogo com o União, já citada atrás, Paulo Fonseca interrogava-se qual seriam as consequências se este caso se tivesse passado com “Manchester United ou Real Madrid”. A resposta parece-me óbvia. Isto nunca aconteceria com clubes desta dimensão, porque no futebol europeu existem duas castas: a dos clubes ricos e poderosos e a dos outros, com tratamentos diferenciados em função da casta. O SC Braga foi vítima deste acto vil porque pertence à casta dos outros, em casa de um clube com tiques de grandeza, associado ao lado negro do futebol e que tenta a todo o custo comprar o lugar na casta dos ricos e poderosos. E tudo isto se passou num estádio que irá acolher jogos do Campeonato da Europa de 2016, a disputar no país de um dos grandes responsáveis pelo actual estado de podridão do desporto-rei.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
Infelizmente, o tema que escolhi não é sobre o jogo disputado sobre aquele rectângulo mágico, mas sim sobre a peça de equipamento, em segundo lugar na ordem de importância pois em primeiro está a bola, na realização de um desafio: as chuteiras dos jogadores.
O que se passou entre esta quarta e quinta-feira desta semana envergonharia o futebol de cangosta, quanto mais o futebol de alta-competição. E quando digo entre quarta e quinta-feira, refiro-me ao momento que intermediou o final do treino de adaptação da equipa do SC Braga ao Estádio Velódrome, de Marselha, e onde após a equipa portuguesa ter abandonado o balneário, este foi trancado na presença de elementos da estrutura bracarense. E depois foi novamente destrancado na manhã seguinte, de quinta-feira, quando parte da comitiva bracarense se deslocou ao estádio para reuniões protocolares entre clubes e UEFA. O problema é que ao abrir-se a porta naquela manhã de quinta-feira, dia do jogo, as chuteiras dos jogadores tinham-se “evaporado”. Quanto ao resto do equipamento, estava onde tinha sido deixado.
E foi isto que aconteceu, não estive no local, mas sei do que falo.
Até hoje ninguém foi capaz de encontrar uma explicação para o sucedido e duvido que algum dia o venhamos a saber, a não ser que alguém dê com a língua nos dentes. Porque lá diz o povo que o diabo tanto encobre como descobre.
Como disse e muito bem o treinador Paulo Fonseca, na antevisão da partida a contar para a Liga Portuguesa diante do União da Madeira, o que se passou no estádio Velódrome é “gravíssimo”. Na verdade, o técnico bracarense não só tem toda a razão ao dizê-lo, como tem toda a legitimidade para o fazer. Porque no final da partida, na qual a sua equipa perdera por 1-0 sem ter realizado uma boa exibição, o mesmo Paulo Fonseca não teve problemas em admitir que o adversário fora melhor, sem nunca se desculpar a respeito deste incidente inconcebível que, sem sombra de dúvida, condicionou seriamente a sua equipa.
Como se já não bastasse esta situação ignóbil a que a equipa do SC Braga foi sujeita, o que revoltou ainda mais a todos quantos têm alguma ligação a este clube foi a ligeireza com que as estruturas do futebol trataram este tema. A começar pela UEFA, que em nenhum momento ponderou sequer o adiamento do jogo ao ser confrontada com um episódio desta gravidade. Mas também é de lamentar o silêncio da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes, que mais uma vez não saíram em defesa de um clube seu filiado, num momento em que este era prejudicado no âmbito da participação nas provas europeias.
Da parte do clube de Marselha, responsável pela segurança no interior do estádio e, consequentemente, do material que se encontrava no balneário da equipa visitante, apenas houve a preocupação de enviar aviões a jacto para ir buscar chuteiras novas e garantir a realização do jogo.
Pedido de desculpas público, nem vê-lo. Pior ainda, no final do encontro um dos jogadores da equipa, quando questionado sobre o incidente pelos jornalistas, na zona mista, ainda teve a distinta lata de gozar com a situação. Só que esqueceu-se esse mentecapto que, apesar de ter ganho o jogo, continua a olhar para cima e a ver Braga e Liberec nos lugares que darão acesso à fase a eliminar da prova, mesmo tendo estas duas equipas orçamentos muito inferiores.
Já que voltei a mencionar esse clube da cidade portuária francesa, que quinze dias antes levou um banho de bola em pleno Estádio Municipal de Braga, é bom os nossos leitores não se esquecerem que está ligado ao que de pior tem o futebol: a corrupção. Na década de noventa fora-lhes retirado um título europeu depois de se ter provado o envolvimento em actividades ilícitas de viciação de resultados. Na sua galeria de dirigentes, figuram indivíduos que mais parecem saídos de películas de gangsters. E pelos vistos, esse clube já tem antecedentes no que toca a jogar sujo, que o digam os futebolistas do PSG que lá foram jogar há uns anos atrás.
Revoltante também é a igual ligeireza com que os jornalistas portugueses da imprensa de índole nacional abordaram o assunto. Claramente, para estes só importam mesmo os dois clubes grandes de Lisboa, sendo que do FC Porto vão falando, de vez em quando, talvez por receio do Bobby, Tareco, ou do Guarda Abel. Esses mesmos órgãos de informação, que tanta importância deram ao facto do Benfica ter jogado a final da Taça dos Campeões Europeus, em 1989, com meias a estrear. Só que nessa altura, as águias jogaram com meias novas porque quiseram. Esta semana, os jogadores do Braga estrearam botas porque a isso foram obrigados. Qualquer praticante da modalidade, ainda que pouco experiente, sabe o quanto a utilização de chuteiras novas condiciona o desempenho futebolístico. Mas para alguns jornaleiros portugueses isso é um aspecto menor. Aliás, alguém da redacção do MaisFutebol (não se identificando pelo nome) teve mesmo o desplante de rematar a sua crónica com a seguinte frase: “Ainda assim, hoje, o Sp. Braga deixou a impressão de que nem de patins lá chegava.”
Na mesma conferência de imprensa de lançamento do jogo com o União, já citada atrás, Paulo Fonseca interrogava-se qual seriam as consequências se este caso se tivesse passado com “Manchester United ou Real Madrid”. A resposta parece-me óbvia. Isto nunca aconteceria com clubes desta dimensão, porque no futebol europeu existem duas castas: a dos clubes ricos e poderosos e a dos outros, com tratamentos diferenciados em função da casta. O SC Braga foi vítima deste acto vil porque pertence à casta dos outros, em casa de um clube com tiques de grandeza, associado ao lado negro do futebol e que tenta a todo o custo comprar o lugar na casta dos ricos e poderosos. E tudo isto se passou num estádio que irá acolher jogos do Campeonato da Europa de 2016, a disputar no país de um dos grandes responsáveis pelo actual estado de podridão do desporto-rei.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)