Naquele que foi, porventura, o jogo mais importante da época até ao momento, o SC Braga não falhou. Provavelmente, este jogo em casa a contar para as meias-finais da Taça de Portugal foi o mais bem conseguido da era Sérgio Conceição, a roçar mesmo a perfeição, contra a “besta negra” da temporada anterior: o Rio Ave.
A equipa bracarense esteve em grande nível em todos os momentos do jogo. Não houve um único elemento do conjunto que estivesse mal no jogo, em termos individuais, e as falhas colectivas evidenciadas noutras partidas não se verificaram.
Terá sido apenas mérito do Braga, ou houve também demérito do Rio Ave? É uma dúvida que fica sempre no ar. É verdade que uma equipa joga aquilo que a outra deixa jogar, mas este Rio Ave, apesar de não ser o mesmo da época passada e de se ter debatido com baixas importantes, como Marcelo ou Hassan, não deixa de ser a mesma equipa que venceu o recentemente o Benfica em sua casa.
Há várias situações a apontar aos vila-condenses para explicar esta derrota categórica por 3-0. Desde logo, a estratégia delineada por Pedro Martins, claramente orientada para não sofrer golos, abdicando de um avançado de raiz ao centro. A isto juntar a pouca capacidade do seu meio campo em suster o ímpeto adversário, ou a desfaçatez do capitão de equipa que viu o segundo amarelo e consequente expulsão quando as equipas recolhiam aos balneários. Tudo isto representa factos incontestáveis, mas a verdade é que o Braga neste jogo foi muito forte e a tendência da época passada inverteu-se, porque as equipas já se defrontaram por quatro vezes (duas em Braga e duas em Vila do Conde), em jogos a contar para a Liga, Taça da Liga e ontem para a Taça de Portugal. Os números são contundentes: quatro vitórias e dez golos marcados pelos arsenalistas, sendo que os vilacondenses não foram capazes de marcar um único golo ao SC Braga nas quatro partidas disputadas.
Mas no jogo de ontem, a superioridade bracarense foi muito para além dos números do resultado. Diga-se até, em abono da verdade, que estes até pecaram por escassos atendendo ao que se passou dentro das quatro linhas. Bastou o árbitro Jorge Sousa apitar pela primeira vez para se perceber logo a seguir quem estava realmente determinado a vencer o jogo e quem estava na espectativa de repetir o nulo verificado em embate semelhante da época passada.
O sucesso do Braga neste jogo foi mérito colectivo. Para comprovar esta opinião, basta visionar este vídeo da construção do primeiro golo, com a bola a passar pelos onze jogadores. No entanto, houve elementos que se destacaram (e de que maneira) individualmente. Desde logo, o herói da noite: Zé Luís. Ao cabo-verdiano coube o exclusivo do golo nesta noite, ao completar um hat-trick. Definitivamente, o ponta-de-lança de vinte e quatro anos tomou conta do lugar, Éderzito terá de esperar por outra oportunidade, porque o cabo-verdiano tem-se revelado um diabo à solta. Já tinha feito estragos em Barcelos e ontem ainda fez mais. Ele é veloz, tem grande elevação, aparece na área como faca em manteiga e remata de pé esquerdo, de pé direito, ou de cabeça.
Mas a hegemonia bracarense também se deveu ao domínio do sector nevrálgico do terreno, o meio-campo, onde pontificou um gigante Luiz Carlos. O brasileiro esteve em todo o lado, foi a todas. Recuperou inúmeras bolas e passou outras tantas com classe e mestria. Pela primeira vez em duas temporadas com a camisola do Braga vestida, rubricou uma exibição ao nível daquelas que o destacaram no sensacional Paços de Ferreira de 2012/2013. Ao seu lado, outro elemento fundamental no “carregar do piano”: Mauro. Tantas vezes aqui elogiei a dupla Danilo – Tiba, mas nunca até hoje estes dois virtuosos médios conseguiram impor a mesma intensidade a meio-campo a que assistimos ontem e que tanto contribuiu, também, para o evidenciar de outro herói improvável da noite: Rúben Micael. Ao madeirense só faltou pontaria afinada para também rubricar uma noite plena de glória.
E ainda houve Pardo e as suas cavalgadas infernais, houve a classe de Rafa, que neste jogo teve um papel fundamental no auxílio ao lateral, para suster as investidas de Ukra e Del Valle. Os laterais, Baiano e Djavan, igualmente em grande plano, defenderam bem e atacaram melhor. Mais tranquilos estiveram Santos e André Pinto, que se limitaram a fazer bem as suas tarefas. E o russo Kritcyuk, um espectador porque o Rio Ave praticamente não fez um único remate à baliza.
Existem exemplos de equipas que viraram eliminatórias com desvantagens de 3-0. Uma das mais célebres foi aquela final da Taça Uefa de 1988, entre Espanhol de Barcelona e Bayer Leverkusen, quando esta ainda era disputada a duas mãos. Os homens do Rio Ave fazem bem em recusar atirar a toalha ao chão e é legítimo pensarem que ainda é possível repetir a final da época passada. Mas em Braga já se vai dizendo que o Jamor é já ali.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
A equipa bracarense esteve em grande nível em todos os momentos do jogo. Não houve um único elemento do conjunto que estivesse mal no jogo, em termos individuais, e as falhas colectivas evidenciadas noutras partidas não se verificaram.
Terá sido apenas mérito do Braga, ou houve também demérito do Rio Ave? É uma dúvida que fica sempre no ar. É verdade que uma equipa joga aquilo que a outra deixa jogar, mas este Rio Ave, apesar de não ser o mesmo da época passada e de se ter debatido com baixas importantes, como Marcelo ou Hassan, não deixa de ser a mesma equipa que venceu o recentemente o Benfica em sua casa.
Há várias situações a apontar aos vila-condenses para explicar esta derrota categórica por 3-0. Desde logo, a estratégia delineada por Pedro Martins, claramente orientada para não sofrer golos, abdicando de um avançado de raiz ao centro. A isto juntar a pouca capacidade do seu meio campo em suster o ímpeto adversário, ou a desfaçatez do capitão de equipa que viu o segundo amarelo e consequente expulsão quando as equipas recolhiam aos balneários. Tudo isto representa factos incontestáveis, mas a verdade é que o Braga neste jogo foi muito forte e a tendência da época passada inverteu-se, porque as equipas já se defrontaram por quatro vezes (duas em Braga e duas em Vila do Conde), em jogos a contar para a Liga, Taça da Liga e ontem para a Taça de Portugal. Os números são contundentes: quatro vitórias e dez golos marcados pelos arsenalistas, sendo que os vilacondenses não foram capazes de marcar um único golo ao SC Braga nas quatro partidas disputadas.
Mas no jogo de ontem, a superioridade bracarense foi muito para além dos números do resultado. Diga-se até, em abono da verdade, que estes até pecaram por escassos atendendo ao que se passou dentro das quatro linhas. Bastou o árbitro Jorge Sousa apitar pela primeira vez para se perceber logo a seguir quem estava realmente determinado a vencer o jogo e quem estava na espectativa de repetir o nulo verificado em embate semelhante da época passada.
O sucesso do Braga neste jogo foi mérito colectivo. Para comprovar esta opinião, basta visionar este vídeo da construção do primeiro golo, com a bola a passar pelos onze jogadores. No entanto, houve elementos que se destacaram (e de que maneira) individualmente. Desde logo, o herói da noite: Zé Luís. Ao cabo-verdiano coube o exclusivo do golo nesta noite, ao completar um hat-trick. Definitivamente, o ponta-de-lança de vinte e quatro anos tomou conta do lugar, Éderzito terá de esperar por outra oportunidade, porque o cabo-verdiano tem-se revelado um diabo à solta. Já tinha feito estragos em Barcelos e ontem ainda fez mais. Ele é veloz, tem grande elevação, aparece na área como faca em manteiga e remata de pé esquerdo, de pé direito, ou de cabeça.
Mas a hegemonia bracarense também se deveu ao domínio do sector nevrálgico do terreno, o meio-campo, onde pontificou um gigante Luiz Carlos. O brasileiro esteve em todo o lado, foi a todas. Recuperou inúmeras bolas e passou outras tantas com classe e mestria. Pela primeira vez em duas temporadas com a camisola do Braga vestida, rubricou uma exibição ao nível daquelas que o destacaram no sensacional Paços de Ferreira de 2012/2013. Ao seu lado, outro elemento fundamental no “carregar do piano”: Mauro. Tantas vezes aqui elogiei a dupla Danilo – Tiba, mas nunca até hoje estes dois virtuosos médios conseguiram impor a mesma intensidade a meio-campo a que assistimos ontem e que tanto contribuiu, também, para o evidenciar de outro herói improvável da noite: Rúben Micael. Ao madeirense só faltou pontaria afinada para também rubricar uma noite plena de glória.
E ainda houve Pardo e as suas cavalgadas infernais, houve a classe de Rafa, que neste jogo teve um papel fundamental no auxílio ao lateral, para suster as investidas de Ukra e Del Valle. Os laterais, Baiano e Djavan, igualmente em grande plano, defenderam bem e atacaram melhor. Mais tranquilos estiveram Santos e André Pinto, que se limitaram a fazer bem as suas tarefas. E o russo Kritcyuk, um espectador porque o Rio Ave praticamente não fez um único remate à baliza.
Existem exemplos de equipas que viraram eliminatórias com desvantagens de 3-0. Uma das mais célebres foi aquela final da Taça Uefa de 1988, entre Espanhol de Barcelona e Bayer Leverkusen, quando esta ainda era disputada a duas mãos. Os homens do Rio Ave fazem bem em recusar atirar a toalha ao chão e é legítimo pensarem que ainda é possível repetir a final da época passada. Mas em Braga já se vai dizendo que o Jamor é já ali.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)