A Taça da Liga foi uma competição criada em 2007 com o objectivo de enriquecer o quadro competitivo nacional, proporcionar uma fonte extraordinária de receita aos tão carenciados clubes profissionais e permitir ainda a actuação de jovens valores em palcos de destaque. Ou seja, uma ideia cheia de boas intenções. Mas como de boas intenções está o inferno cheio, tal como de males, também esta taça está pejada de maleficências. Porque esta prova foi mal pensada, foi mal implementada e tem sido muito maltratada pela esmagadora maioria dos clubes.
Ano após ano, ouvimos de boca de responsáveis de clubes, dirigentes e/ou treinadores, discursos de relativização e menosprezo por esta competição. Alegam-se razões de vária índole, tais como a falta de atractividade financeira, calendarização inadequada, alinhamento dos jogos para favorecer os mais fortes. Outros advogam a ausência de uma qualificação para as competições europeias, à semelhança da Taça de Portugal, como o principal factor de desprestígio e desinteresse verificados nos últimos anos.
Pessoalmente, entendo que apenas três clubes em Portugal se poderão dar ao luxo de desvalorizar esta prova: Vitória de Setúbal, vencedor da primeira edição; SC Braga, vencedor da edição 2012/13 e Benfica, vencedor das restantes. Todos os outros emblemas que ousam vilipendiar a Taça da Liga me fazem lembrar a fábula da raposa que queria chegar às uvas. Não conseguindo chegar aos bagos, o espécimen canis vulpes terá desdenhado assim: “estão verdes”.
Feita esta introdução, analisemos as declarações de Sérgio Conceição na antevisão do jogo da primeira jornada do grupo D da Taça da Liga, cujo sorteio ditou uma viagem do SC Braga à ilha da Madeira para defrontar o CF União, a militar esta época na II Liga.
O técnico arsenalista referiu o seguinte em relação à importância da prova:
«Quando iniciamos a época definimos esta prova como um objectivo e vamos fazer tudo para conseguir ir o mais longe possível e isso significa ir à final»
Em relação ao jogo e ao adversário, teve o cuidado de frisar o seguinte:
«É um jogo importante para nós. Não será fácil, porque o União tem jogadores e treinador experientes. É uma equipa competitiva na II Liga, com objectivos bem definidos e que vai criar dificuldades ao Braga.»
Sobre o onze a apresentar no recinto madeirense, admitiu fazer apenas alterações pontuais: «Possivelmente poderá haver uma mudança ou outra.»
Ora, a formação escalonada não se traduziu em uma ou outra mudança, mas sim na inclusão de apenas dois titulares dos últimos jogos: Santos e Djavan. Os restantes nove são utentes habituais do banco de suplentes. Tendo em conta as palavras do técnico que reforçou no seu discurso o assumir de uma candidatura à vitória nesta competição, sabendo que esta época o SC Braga não goza do estatuto de cabeça-de-série do grupo, no qual se incluem adversários de gabarito independentemente do momento actual de cada um, tais como: FC Porto, Rio Ave ou Académica; olhando para um adversário difícil, segundo as palavras do próprio Sérgio Conceição, torna-se difícil perceber quais as razões que o levaram a optar por uma equipa de segunda linha nesta partida.
O facto de ter um plantel equilibrado, com opções de nível semelhante para praticamente todas as posições do terreno, como o próprio Sérgio Conceição fez questão de salientar, não significa porém que se consigam atingir os mesmos níveis de rendimento do conjunto habitualmente titular, onde os ritmos competitivos e as rotinas de jogo estão forçosamente em patamares mais elevados. Especialmente, atendendo aos excelentes resultados conseguidos pelos Guerreiros do Minho recentemente.
Pois bem, se o objectivo do SC Braga fosse mesmo “ir à final” da Taça da Liga, não se poderia abordar uma partida num terreno difícil, diante de “uma equipa competitiva da II liga”, dotada de “jogadores e treinador experientes”, com um conjunto manifestamente mais fraco. Esta tão profunda rotação (nem Lopetegui porventura almejaria a tanto!) não pode ser justificada pelo desgaste físico, porquanto a semana natalícia deveria ser suficiente para recarregar as baterias. Senão, que dizer dos jogadores da liga inglesa que actuaram no célebre boxing day a dia 26 e passadas 48 horas já estavam a jogar novamente em noutra jornada?!
A colocação de Kritciuk a titular na baliza é perfeitamente aceitável, ou não tivesse o russo feito recentemente uma soberba exibição no histórico jogo da Luz e cumprido igualmente o seu papel noutros jogos da época. Na formação do quarteto defensivo, tão importante no alcançar da consistência deste Braga 2014/15, a colocação de Sasso em parelha com Santos aceita-se, mas teria sido mais prudente ser Baiano a ocupar a lateral-direita em vez de Goiano, porque no lado esquerdo estava Djavan que só há bem pouco tempo regressou à titularidade. Em todo o caso, não seria por aí que o gato iria às filhoses como diz o povo.
O problema central residiu do meio-campo para a frente, onde o treinador bracarense decidiu mudar tudo, ao invés de “uma mudança ou outra” aventada na conferência de imprensa.
A escolha da linha média consistiu num retroceder à época passada, a pior dos últimos onze anos. E como tal, o resultado só poderia ser desastroso. Alinharam então Custódio e Luiz Carlos, mais atrás, com Alan a jogar mais próximo do ataque. Três elementos em clara curva descendente das respectivas carreiras, longe da forma de outros tempos, desligados do conceito actual de jogo da equipa. No ataque, as alas foram entregues a Salvador Agra e Pedro Santos, que apesar de poucas vezes titulares, são regularmente opção nas segundas partes, especialmente o vila-condense. O eixo do ataque foi entregue a um desaparecido Sami, um jogador talhado para outras funções que ainda não encontrou o seu espaço e, provavelmente, nunca o encontrará.
Esta opção de escalonamento incoerente com a ambição demonstrada na véspera do jogo conduziu a uma derrota. O CF União chegou à vantagem aos 27 minutos, na sequência de um remate de fora-da-área do brasileiro Talles. O Braga ainda conseguiu empatar por Alan, dez minutos depois, resultado com que se chegou ao intervalo.
Logo após o reatamento, Marcelo Goiano rasteirou o adversário na grande área. Grande penalidade convertida por Rúben Andrade, colocando os da casa novamente em vantagem. Vendo o panorama a tornar-se pouco animador, o treinador bracarense foi lançando a sua artilharia pesada. Primeiro Éder, depois Pardo e ainda Rafa, mas estes pouco ou nada puderam fazer, porque não era possível colocar Danilo, Tiba e Rúben Micael para lhes municiarem o jogo. E porque do outro lado estava uma raposa velha do futebol português, o técnico Vítor Oliveira, o maior especialista nacional na subida de equipas ao escalão principal do nosso futebol.
O placard não voltaria a alterar-se e os madeirenses viriam a conseguir os três preciosos pontos que lhe dão o comando provisório do grupo. No final da partida, Sérgio Conceição queixou-se das inúmeras paragens e do pouco tempo de jogo verificado na segunda parte. Mas na minha opinião, só se poderá queixar das opções que tomou e do facto desta partida ter deixado a nu algumas debilidades no seu plantel, não descortinadas até então. Parece por demais evidente a necessidade de se encontrar uma alternativa a Éder e, pelo menos, um elemento a meio-campo capaz de discutir a titularidade com Pedro Tiba, Danilo e até com Rúben Micael.
Esta derrota averbada na Madeira não compromete em definitivo as aspirações do Braga na Taça da Liga, mas reduz substancialmente as possibilidades. O sucesso nesta prova vai depender muito da forma como FC Porto, Rio Ave e Académica encararem a competição, mas também de uma necessária alteração de postura do SC Braga. Pois, a forma como se apresentou ontem na Madeira deixa sérias dúvidas se o Braga tem realmente vontade de repetir a brilhante conquista conseguida em Coimbra no dia 13 de Abril de 2013.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
Ano após ano, ouvimos de boca de responsáveis de clubes, dirigentes e/ou treinadores, discursos de relativização e menosprezo por esta competição. Alegam-se razões de vária índole, tais como a falta de atractividade financeira, calendarização inadequada, alinhamento dos jogos para favorecer os mais fortes. Outros advogam a ausência de uma qualificação para as competições europeias, à semelhança da Taça de Portugal, como o principal factor de desprestígio e desinteresse verificados nos últimos anos.
Pessoalmente, entendo que apenas três clubes em Portugal se poderão dar ao luxo de desvalorizar esta prova: Vitória de Setúbal, vencedor da primeira edição; SC Braga, vencedor da edição 2012/13 e Benfica, vencedor das restantes. Todos os outros emblemas que ousam vilipendiar a Taça da Liga me fazem lembrar a fábula da raposa que queria chegar às uvas. Não conseguindo chegar aos bagos, o espécimen canis vulpes terá desdenhado assim: “estão verdes”.
Feita esta introdução, analisemos as declarações de Sérgio Conceição na antevisão do jogo da primeira jornada do grupo D da Taça da Liga, cujo sorteio ditou uma viagem do SC Braga à ilha da Madeira para defrontar o CF União, a militar esta época na II Liga.
O técnico arsenalista referiu o seguinte em relação à importância da prova:
«Quando iniciamos a época definimos esta prova como um objectivo e vamos fazer tudo para conseguir ir o mais longe possível e isso significa ir à final»
Em relação ao jogo e ao adversário, teve o cuidado de frisar o seguinte:
«É um jogo importante para nós. Não será fácil, porque o União tem jogadores e treinador experientes. É uma equipa competitiva na II Liga, com objectivos bem definidos e que vai criar dificuldades ao Braga.»
Sobre o onze a apresentar no recinto madeirense, admitiu fazer apenas alterações pontuais: «Possivelmente poderá haver uma mudança ou outra.»
Ora, a formação escalonada não se traduziu em uma ou outra mudança, mas sim na inclusão de apenas dois titulares dos últimos jogos: Santos e Djavan. Os restantes nove são utentes habituais do banco de suplentes. Tendo em conta as palavras do técnico que reforçou no seu discurso o assumir de uma candidatura à vitória nesta competição, sabendo que esta época o SC Braga não goza do estatuto de cabeça-de-série do grupo, no qual se incluem adversários de gabarito independentemente do momento actual de cada um, tais como: FC Porto, Rio Ave ou Académica; olhando para um adversário difícil, segundo as palavras do próprio Sérgio Conceição, torna-se difícil perceber quais as razões que o levaram a optar por uma equipa de segunda linha nesta partida.
O facto de ter um plantel equilibrado, com opções de nível semelhante para praticamente todas as posições do terreno, como o próprio Sérgio Conceição fez questão de salientar, não significa porém que se consigam atingir os mesmos níveis de rendimento do conjunto habitualmente titular, onde os ritmos competitivos e as rotinas de jogo estão forçosamente em patamares mais elevados. Especialmente, atendendo aos excelentes resultados conseguidos pelos Guerreiros do Minho recentemente.
Pois bem, se o objectivo do SC Braga fosse mesmo “ir à final” da Taça da Liga, não se poderia abordar uma partida num terreno difícil, diante de “uma equipa competitiva da II liga”, dotada de “jogadores e treinador experientes”, com um conjunto manifestamente mais fraco. Esta tão profunda rotação (nem Lopetegui porventura almejaria a tanto!) não pode ser justificada pelo desgaste físico, porquanto a semana natalícia deveria ser suficiente para recarregar as baterias. Senão, que dizer dos jogadores da liga inglesa que actuaram no célebre boxing day a dia 26 e passadas 48 horas já estavam a jogar novamente em noutra jornada?!
A colocação de Kritciuk a titular na baliza é perfeitamente aceitável, ou não tivesse o russo feito recentemente uma soberba exibição no histórico jogo da Luz e cumprido igualmente o seu papel noutros jogos da época. Na formação do quarteto defensivo, tão importante no alcançar da consistência deste Braga 2014/15, a colocação de Sasso em parelha com Santos aceita-se, mas teria sido mais prudente ser Baiano a ocupar a lateral-direita em vez de Goiano, porque no lado esquerdo estava Djavan que só há bem pouco tempo regressou à titularidade. Em todo o caso, não seria por aí que o gato iria às filhoses como diz o povo.
O problema central residiu do meio-campo para a frente, onde o treinador bracarense decidiu mudar tudo, ao invés de “uma mudança ou outra” aventada na conferência de imprensa.
A escolha da linha média consistiu num retroceder à época passada, a pior dos últimos onze anos. E como tal, o resultado só poderia ser desastroso. Alinharam então Custódio e Luiz Carlos, mais atrás, com Alan a jogar mais próximo do ataque. Três elementos em clara curva descendente das respectivas carreiras, longe da forma de outros tempos, desligados do conceito actual de jogo da equipa. No ataque, as alas foram entregues a Salvador Agra e Pedro Santos, que apesar de poucas vezes titulares, são regularmente opção nas segundas partes, especialmente o vila-condense. O eixo do ataque foi entregue a um desaparecido Sami, um jogador talhado para outras funções que ainda não encontrou o seu espaço e, provavelmente, nunca o encontrará.
Esta opção de escalonamento incoerente com a ambição demonstrada na véspera do jogo conduziu a uma derrota. O CF União chegou à vantagem aos 27 minutos, na sequência de um remate de fora-da-área do brasileiro Talles. O Braga ainda conseguiu empatar por Alan, dez minutos depois, resultado com que se chegou ao intervalo.
Logo após o reatamento, Marcelo Goiano rasteirou o adversário na grande área. Grande penalidade convertida por Rúben Andrade, colocando os da casa novamente em vantagem. Vendo o panorama a tornar-se pouco animador, o treinador bracarense foi lançando a sua artilharia pesada. Primeiro Éder, depois Pardo e ainda Rafa, mas estes pouco ou nada puderam fazer, porque não era possível colocar Danilo, Tiba e Rúben Micael para lhes municiarem o jogo. E porque do outro lado estava uma raposa velha do futebol português, o técnico Vítor Oliveira, o maior especialista nacional na subida de equipas ao escalão principal do nosso futebol.
O placard não voltaria a alterar-se e os madeirenses viriam a conseguir os três preciosos pontos que lhe dão o comando provisório do grupo. No final da partida, Sérgio Conceição queixou-se das inúmeras paragens e do pouco tempo de jogo verificado na segunda parte. Mas na minha opinião, só se poderá queixar das opções que tomou e do facto desta partida ter deixado a nu algumas debilidades no seu plantel, não descortinadas até então. Parece por demais evidente a necessidade de se encontrar uma alternativa a Éder e, pelo menos, um elemento a meio-campo capaz de discutir a titularidade com Pedro Tiba, Danilo e até com Rúben Micael.
Esta derrota averbada na Madeira não compromete em definitivo as aspirações do Braga na Taça da Liga, mas reduz substancialmente as possibilidades. O sucesso nesta prova vai depender muito da forma como FC Porto, Rio Ave e Académica encararem a competição, mas também de uma necessária alteração de postura do SC Braga. Pois, a forma como se apresentou ontem na Madeira deixa sérias dúvidas se o Braga tem realmente vontade de repetir a brilhante conquista conseguida em Coimbra no dia 13 de Abril de 2013.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)