Aos que pereceram em Paris, um bom descanso e até já!
Feita esta incontornável nota introdutória, voltemos ao tema que nos trouxe aqui, os quartos-de-final da Taça de Portugal, que também deverá ficar para a história como uma das mais produtivas em termos de golos na prova rainha do futebol português. Quando ainda falta realizar um jogo, o dérbi madeirense entre Marítimo e Nacional agendado para hoje, nos três jogos já disputados marcaram-se 19 golos!
No primeiro embate desta eliminatória, o Rio Ave fez jus à condição de favorito e despachou o Gil Vicente com uns concludentes 5-2. Porém, desengane-se quem pensou ter-se tratado de um passeio para os vilacondenses, que até chegaram à vantagem de 2-0, mas os galos conseguiram reagir, tendo alcançado o empate a duas bolas. Mas os últimos vinte minutos da partida voltaram a evidenciar o permanente desacerto dos galos esta temporada. Sem querer tirar o mérito à equipa de Pedro Martins, a verdade é que os golos dos verdes e brancos muito se devem à incompetência e até a alguma falta de atitude competitiva dos jogadores gilistas. Não são eu que o digo, foi o técnico José Mota quem fez questão de apontar o dedo aos seus pupilos, ao ponto de colocar em causa a seriedade e o brio profissional de alguns no final do jogo:
«Tenho aqui jogadores que nunca fizeram nada no futebol para tamanho ego. Não aceito que não dêem o máximo pela equipa.»
O regressar da hibernação
A qualificação do Rio Ave vai permitir a reedição da meia-final da época passada, porque o SC Braga também carimbou o passaporte para a fase seguinte da competição.
O jogo disputado a noite passada na Pedreira acabou com um resultado duplamente surpreendente, pelos números da vitória arsenalista, 7-1, mas também porque o jogo foi realizado no dia 7/1?! O certo é que poucos poderiam adivinhar um desfecho desta natureza.
Obviamente, o Braga era favorito. Porém, os últimos resultados dos minhotos, com duas derrotas em duas viagens consecutivas à Madeira, aliados à boa época dos azuis do Restelo e na solidez defensiva que têm evidenciado, juntando a isto também as dificuldades sentidas pelos arsenalistas noutros jogos em que tiveram de assumir o jogo, tudo isto tenderia para um jogo mais equilibrado.
Mas os Guerreiros do Minho entraram a todo o gás e logo aos 15 minutos começaram a construir a maior goleada da época, ultrapassando assim a marca dos 1-6 de Penafiel. O primeiro golo foi conseguido na sequência de um canto da direita apontado por Pardo, com André Pinto a desviar para o segundo poste, onde apareceu Santos liberto de marcação a empurrar para o fundo da baliza. O central brasileiro está-se a revelar goleador com vários tentos apontados nas últimas partidas.
Os da casa nunca tiraram o pé do acelerador e conseguiram mais dois golos antes do intervalo. Primeiro por Rafa, aos 22 minutos, aparecendo muito rápido na área a responder a um cruzamento de Rúben Micael da direita, por entre uma atarantada defesa do Belenenses. Ao minuto 42, novamente pelo flanco direito, Baiano cruzou com conta peso e medida, surgindo Rúben Micael na zona do ponta-de-lança a cabecear para o golo. Ainda antes do intervalo, Lito Vidigal viu a sua equipa ficar ainda mais fragilizada, com a expulsão de Deyverson por vermelho directo. Numa disputa de bola com André Pinto, o brasileiro pisou ostensivamente o central bracarense naquela parte do corpo onde dói mais aos indivíduos do sexo masculino.
Com o resultado praticamente sentenciado no regresso das cabines, verificou-se um natural decréscimo do ritmo de jogo, mas a pontaria dos avançados continuou afinada.
Logo aos 48 minutos, Pardo fez uma das suas habituais incursões diagonais pelo flanco direito, rematando depois rasteiro, de pé esquerdo, com a bola a entrar rente ao poste da baliza de um desconsolado Matt Jones. O colombiano esteve imparável neste jogo.
Os lisboetas ainda conseguirem o tento de honra, aos 57 minutos, por intermédio de Fábio Nunes, num período de descompressão colectiva do Braga, ao qual não faltou o russo Kritciuk que noutra ocasião teria defendido a bola.
Aos 68 respondeu Éder, através de um remate forte à entrada da área, com a bola a tabelar caprichosamente num defensor azul, acabando por entrar na baliza. Desta vez o árbitro validou o golo e assim o ponta-de-lança internacional português pôde sorrir, juntando assim mais um à sua contabilidade pessoal.
Até final, tempo ainda para o velho capitão arsenalista Alan brilhar ao marcar o sexto golo com um excelente remate cruzado e a fazer os adeptos suspirar ao lembrar as muitas noites de glória do brasileiro. As contas do jogo só fecharam ao minuto 89, com Pedro Tiba a marcar o sétimo, numa fase do jogo em que os jogadores do Belenenses mais pareciam zombies em pleno relvado.
No final do encontro, Sérgio Conceição extremamente satisfeito, não poderia ser doutra forma, numa semana em que se viu envolvido numa polémica com a direcção do Marítimo.
Agora o foco do técnico arsenalista é recuperar o físico dos seus atletas para a recepção ao Sporting no próximo Domingo, porque animicamente a sua equipa voltou a recarregar as pilhas depois desta retumbante vitória.
Jogo-treino em Alvalade
Quem continua a preparar a visita à Pedreira é Marco Silva, pois o outro jogo dos quartos-de-final disputado ontem em Alvalade não foi mais do que um treino para alguns dos titulares do Sporting e outros jogadores menos utilizados. É certo que as possibilidades do FC Famalicão eram poucas e que o percurso dos famalicenses na prova já foi muito meritório. Basta ver que na última ronda afastou o Paços de Ferreira em plena Capital do Móvel. Para os jogadores do Famalicão, este jogo seria uma oportunidade única de actuar num dos palcos maiores do futebol português. Seria uma espécie de prémio pela carreira brilhante. Não se compreende a opção do técnico Daniel Ramos em afastar deste jogo alguns dos seus habituais titulares, por mais que este justifique com a necessidade de poupança física para um importante desafio do Campeonato Nacional de Seniores neste fim-de-semana, prova na qual o clube famalicense tem mais aspirações do que na Taça de Portugal. As centenas de adeptos que viajaram de comboio e fizeram a festa mereciam ver a sua melhor equipa e o eventual desgaste físico dos atletas seria colmatado pela felicidade de pisar o relvado de Alvalade.
Em todo o caso, o onze escalado pelo técnico famalicense fez o possível, conseguindo adiar o primeiro golo dos leões até ao minuto 34, quando André Carrillo conseguiu romper a barreira dos minhotos. A vantagem magra com que se chegou ao descanso foi depois ampliada na segunda parte, com os golos de João Mário (48), Paulo Oliveira (69) e Freddy Montero (75).
Para esta partida, Marco Silva deu descanso a vários titulares: Rui Patrício, Cedric, Maurício, Jefferson e Adrien. Nani também ficou de fora a cumprir um jogo de suspensão, após a habilidosa expulsão por acumulação de amarelos do passado Sábado.
Os leões aguardam pelo desfecho do dérbi madeirense a fim de conhecerem o seu adversário nas meias-finais.
#JeSuisCharlie
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)