Depois de uma longa e dolorosa época de desaires e sofrimentos, eis que os palpitares de coração e os sorrisos de orelha a orelha regressaram à encosta do Monte Castro. Não foi só pela vitória categórica por 3-0 diante do Paços de Ferreira, uma das melhores equipas do campeonato. Nem tão só pela histórica vitória no estádio da Luz na passada quinta-feira. É também por um percurso seguro e até discreto da equipa liderada por Sérgio Conceição, que termina a 14.ª jornada da Primeira Liga e última do ano civil na terceira posição da tabela classificativa, embora com os mesmos pontos da equipa sensação da prova.
O sucesso deste Braga 2014/2015 assenta na consistência defensiva, pois neste momento é a terceira equipa menos batida, com apenas 8 golos sofridos em catorze jornadas, menos um do que Benfica e Porto.
Mas em termos ofensivos os resultados também são brilhantes, sendo o quarto ataque mais concretizador, com 25 golos marcados, apenas ultrapassado pelos chamados “três grandes”. Este facto é deveras interessante, se atendermos que na maior parte dos jogos a equipa tem menos posse de bola e menos remates do que o adversário. No entanto, a eficácia das acções ofensivas tem sido tremenda. Já tínhamos visto essa terrível (para os adversários) capacidade concretizadora nos jogos da Taça em Guimarães e na Luz, ou na última partida da liga no Restelo.
Ontem, foi mais do mesmo. Diante de uma equipa do Paços de Ferreira novamente comandada por Paulo Fonseca, o Braga arrumou a questão nos primeiros 45 minutos. Três ocasiões de golo, três golos marcados. Assim não há táctica ou estratégia que resista, terá pensado o ex-técnico do FC Porto. Por tradição, os amarelos da Capital do Móvel são osso muito duro de roer nas visitas a Braga. Nas quatro últimas edições da liga, os castores venceram por duas vezes e empataram outra. Mas neste último embate, apesar de um bom jogo realizado, vacilaram no último reduto e isso foi fatal, porquanto se disse atrás a respeito da extrema eficácia que o ataque do Braga vem evidenciando esta temporada.
O jogo começou intenso, como se esperava, com a bola a rondar uma e outra baliza logo nos primeiros instantes da partida. Com o passar do tempo as equipas foram-se encaixando, as jogadas de perigo rarearam e o equilíbrio foi nota dominante.
O Braga voltou a evidenciar alguma dificuldade na construção de jogo em ataque continuado, esbarrando na muito bem organizada linha média pacense. Refira-se que a equipa do Paços está apetrechada de jogadores interessantes, como Sérgio Oliveira, Minhoca, Hurtado, ou o irrequieto Urreta. Os arsenalistas tentavam também os lançamentos em profundidade, os quais a defesa contrária ia resolvendo com maior, ou menor dificuldade.
Até que a balança desequilibrou ao minuto 25. Arrancada de Rafa pela esquerda, levando dois opositores consigo, depois um passe de trivela a desmarcar Rúben Micael que fez também um excelente movimento na meia esquerda. Este cruzou rasteiro para a pequena área onde apareceu Éderzito em excelente posição. O ponta-de-lança não conseguiu chegar à bola, mas com a sua acção deslocou para junto de si dois defensores contrários, deixando corredor aberto para aparecer Pardo ao segundo poste, de rompante, a empurrar para o fundo das redes. Estava aberto o placard e o autor do golo foi novamente o colombiano, que dias antes gelara o estádio da Luz.
A equipa do Paços ressentiu-se desta inesperada desvantagem e volvidos apenas cinco minutos, na sequência de um pontapé de canto da direita batido para a zona da marca de grande penalidade, a defesa pacense não consegue aliviar um ressalto de bola. Para piorar, o guarda-redes brasileiro Defendi decidiu sair do meio dos postes para tentar socar a bola, não o conseguindo, esta acabou por ressaltar nas costas de André Pinto e sobrar para Éder que rematou para uma baliza escancarada.
Se as coisas já estavam complicadas para o Paços, mais complicadas ficaram. Até à data, o Braga tinha apenas sofrido dois golos nos jogos em casa: um contra Estoril e outro contra Benfica. Para levar pontos de Braga, os comandados de Paulo Fonseca teriam de fazer em 60 minutos o mesmo que fizeram todas as equipas que jogaram em Braga nesta temporada.
Mas o calvário dos castores não tinha terminado ainda, pois, ao minuto 40 o Braga chegou ao terceiro golo. A defesa do Paços, muito intranquila nesta partida e sobretudo após o primeiro golo, voltou a comprometer. O capitão Ricardo, apesar da longa experiência na primeira divisão, tenta aliviar a bola para a zona central, mas o pontapé sai frouxo e rasteiro e fica à mercê de Rúben Micael, que depois a endossou com classe para Rafa, surgindo detrás e disparando um remate colocado ao ângulo superior esquerdo da baliza do Paços. Mais um golo do criativo bracarense através de uma excelente execução.
O resultado ao intervalo não correspondeu ao jogo jogado nas quatro linhas, porque o Paços até conseguiu mais tempo de posse de bola, encetou mais ataques e dispôs de mais cantos do que o Braga. Mas premiou a eficácia dos bracarenses e castigou as falhas defensivas dos pacenses em momentos importantes.
Apesar de regressar das cabines com uma desvantagem quase irrecuperável, a equipa do Paços de Ferreira não baixou os braços e tentou a obtenção de um golo nos primeiros minutos da partida, pois reduzindo para 3-1 permitir-lhe-ia relançar a partida. Paulo Fonseca, desagradado com o resultado, não deveria nutrir o mesmo sentimento em relação à exibição dos seus pupilos, pois, não efectuou nenhuma mexida ao intervalo. O técnico pacense também não foi afoito em termos tácticos, talvez porque vira a fragilidade do seu sector defensivo e pensara que se expusesse demasiado o seu colectivo, o Braga poderia voltar a marcar em contra-ataque.
No início da segunda parte, voltou a estar bem o Braga. A equipa de Sérgio Conceição, de forma inteligente, foi gerindo a vantagem preciosa conseguida na primeira parte, sem permitir grandes veleidades ao adversário. A equipa bracarense continuou a pressionar o adversário quando não tinha a bola, mantendo os sectores muito juntos no momento defensivo. E aquando da posse do esférico, tentava trocar a bola entre os seus jogadores, preferindo o futebol apoiado às saídas rápidas para o ataque, numa clara tentativa de abrandar o ritmo de jogo e evitar desequilíbrios defensivos.
As mexidas dos bancos começaram ao minuto 67, com Sérgio Conceição a lançar Alan para o lugar de um desgastado Rúben Micael. O madeirense foi uma das figuras da partida, pois para além de estar directamente envolvido nos lances do 1.º e 3.º golos, esteve sempre muito dinâmico, quer a equipa estivesse em situação de posse de bola ou de recuperação. A decisão de entrar Alan também foi acertada, para essa tal estratégia de controlo do jogo e abrandar de ritmo, pois o brasileiro desempenha esse papel com mestria. Respondeu Paulo Fonseca lançando um avançado, Edson Paraíba, para o lugar do médio Minhoca, aos 74 minutos. Pouco tempo depois Sérgio Conceição refrescou o ataque, retirando Pardo e colocando Agra.
No último quarto de hora da partida o Braga deu alguns sinais de cansaço físico, natural depois de um jogo muito intenso a meio da semana. Neste período o Paços de Ferreira dispôs de algumas oportunidades de golo, mas os seus avançados estavam desinspirados. O ponta-de-lança Cícero, que já passou por Braga, ainda enviou a bola ao poste. Atento, o treinador do Braga lançou Custódio para o lugar de Rafa para conter este último ímpeto ofensivo do Paços e, assim, conseguiu conservar invioladas as redes de Matheus até ao apito final de Manuel Mota. O árbitro vilaverdense não estava inicialmente nomeado para este jogo, tendo sido chamado à última hora face à indisponibilidade súbita do juiz portuense Rui Costa. Em todo o caso, acabou por ter uma actuação tranquila e praticamente isenta de erros técnicos e disciplinares. Julgou bem o lance do 2.º golo do Braga, já que a existir contacto de André Pinto com o guarda-redes Defendi, foi fora da área e como tal o golo foi bem validado.
Quanto à suposta agressividade dos jogadores do Braga, neste jogo voltou-se a constatar que essas considerações não têm fundamento.
Depois de um início de temporada algum irregular, sobretudo nos jogos fora de casa, o Braga afirma-se neste momento como uma das melhores equipas da liga portuguesa e se mantiver a competência e empenho demonstrados pelos seus jogadores, dificilmente baixará do 4.º lugar, objectivo inicial, podendo mesmo intrometer-se na luta por um lugar na Liga dos Campeões da próxima temporada. Curiosamente, nesta jornada o Braga ultrapassa o vizinho de Guimarães, apesar de em igualdade pontual, e termina o ano civil num honroso 3.º lugar da liga, mantendo-se ainda em prova em todas as competições nacionais.
* A todos os leitores do Blog Rectângulo Mágico, um abraço de amizade e votos sinceros de um Santo Natal e um excelente Ano Novo de 2015!
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
O sucesso deste Braga 2014/2015 assenta na consistência defensiva, pois neste momento é a terceira equipa menos batida, com apenas 8 golos sofridos em catorze jornadas, menos um do que Benfica e Porto.
Mas em termos ofensivos os resultados também são brilhantes, sendo o quarto ataque mais concretizador, com 25 golos marcados, apenas ultrapassado pelos chamados “três grandes”. Este facto é deveras interessante, se atendermos que na maior parte dos jogos a equipa tem menos posse de bola e menos remates do que o adversário. No entanto, a eficácia das acções ofensivas tem sido tremenda. Já tínhamos visto essa terrível (para os adversários) capacidade concretizadora nos jogos da Taça em Guimarães e na Luz, ou na última partida da liga no Restelo.
Ontem, foi mais do mesmo. Diante de uma equipa do Paços de Ferreira novamente comandada por Paulo Fonseca, o Braga arrumou a questão nos primeiros 45 minutos. Três ocasiões de golo, três golos marcados. Assim não há táctica ou estratégia que resista, terá pensado o ex-técnico do FC Porto. Por tradição, os amarelos da Capital do Móvel são osso muito duro de roer nas visitas a Braga. Nas quatro últimas edições da liga, os castores venceram por duas vezes e empataram outra. Mas neste último embate, apesar de um bom jogo realizado, vacilaram no último reduto e isso foi fatal, porquanto se disse atrás a respeito da extrema eficácia que o ataque do Braga vem evidenciando esta temporada.
O jogo começou intenso, como se esperava, com a bola a rondar uma e outra baliza logo nos primeiros instantes da partida. Com o passar do tempo as equipas foram-se encaixando, as jogadas de perigo rarearam e o equilíbrio foi nota dominante.
O Braga voltou a evidenciar alguma dificuldade na construção de jogo em ataque continuado, esbarrando na muito bem organizada linha média pacense. Refira-se que a equipa do Paços está apetrechada de jogadores interessantes, como Sérgio Oliveira, Minhoca, Hurtado, ou o irrequieto Urreta. Os arsenalistas tentavam também os lançamentos em profundidade, os quais a defesa contrária ia resolvendo com maior, ou menor dificuldade.
Até que a balança desequilibrou ao minuto 25. Arrancada de Rafa pela esquerda, levando dois opositores consigo, depois um passe de trivela a desmarcar Rúben Micael que fez também um excelente movimento na meia esquerda. Este cruzou rasteiro para a pequena área onde apareceu Éderzito em excelente posição. O ponta-de-lança não conseguiu chegar à bola, mas com a sua acção deslocou para junto de si dois defensores contrários, deixando corredor aberto para aparecer Pardo ao segundo poste, de rompante, a empurrar para o fundo das redes. Estava aberto o placard e o autor do golo foi novamente o colombiano, que dias antes gelara o estádio da Luz.
A equipa do Paços ressentiu-se desta inesperada desvantagem e volvidos apenas cinco minutos, na sequência de um pontapé de canto da direita batido para a zona da marca de grande penalidade, a defesa pacense não consegue aliviar um ressalto de bola. Para piorar, o guarda-redes brasileiro Defendi decidiu sair do meio dos postes para tentar socar a bola, não o conseguindo, esta acabou por ressaltar nas costas de André Pinto e sobrar para Éder que rematou para uma baliza escancarada.
Se as coisas já estavam complicadas para o Paços, mais complicadas ficaram. Até à data, o Braga tinha apenas sofrido dois golos nos jogos em casa: um contra Estoril e outro contra Benfica. Para levar pontos de Braga, os comandados de Paulo Fonseca teriam de fazer em 60 minutos o mesmo que fizeram todas as equipas que jogaram em Braga nesta temporada.
Mas o calvário dos castores não tinha terminado ainda, pois, ao minuto 40 o Braga chegou ao terceiro golo. A defesa do Paços, muito intranquila nesta partida e sobretudo após o primeiro golo, voltou a comprometer. O capitão Ricardo, apesar da longa experiência na primeira divisão, tenta aliviar a bola para a zona central, mas o pontapé sai frouxo e rasteiro e fica à mercê de Rúben Micael, que depois a endossou com classe para Rafa, surgindo detrás e disparando um remate colocado ao ângulo superior esquerdo da baliza do Paços. Mais um golo do criativo bracarense através de uma excelente execução.
O resultado ao intervalo não correspondeu ao jogo jogado nas quatro linhas, porque o Paços até conseguiu mais tempo de posse de bola, encetou mais ataques e dispôs de mais cantos do que o Braga. Mas premiou a eficácia dos bracarenses e castigou as falhas defensivas dos pacenses em momentos importantes.
Apesar de regressar das cabines com uma desvantagem quase irrecuperável, a equipa do Paços de Ferreira não baixou os braços e tentou a obtenção de um golo nos primeiros minutos da partida, pois reduzindo para 3-1 permitir-lhe-ia relançar a partida. Paulo Fonseca, desagradado com o resultado, não deveria nutrir o mesmo sentimento em relação à exibição dos seus pupilos, pois, não efectuou nenhuma mexida ao intervalo. O técnico pacense também não foi afoito em termos tácticos, talvez porque vira a fragilidade do seu sector defensivo e pensara que se expusesse demasiado o seu colectivo, o Braga poderia voltar a marcar em contra-ataque.
No início da segunda parte, voltou a estar bem o Braga. A equipa de Sérgio Conceição, de forma inteligente, foi gerindo a vantagem preciosa conseguida na primeira parte, sem permitir grandes veleidades ao adversário. A equipa bracarense continuou a pressionar o adversário quando não tinha a bola, mantendo os sectores muito juntos no momento defensivo. E aquando da posse do esférico, tentava trocar a bola entre os seus jogadores, preferindo o futebol apoiado às saídas rápidas para o ataque, numa clara tentativa de abrandar o ritmo de jogo e evitar desequilíbrios defensivos.
As mexidas dos bancos começaram ao minuto 67, com Sérgio Conceição a lançar Alan para o lugar de um desgastado Rúben Micael. O madeirense foi uma das figuras da partida, pois para além de estar directamente envolvido nos lances do 1.º e 3.º golos, esteve sempre muito dinâmico, quer a equipa estivesse em situação de posse de bola ou de recuperação. A decisão de entrar Alan também foi acertada, para essa tal estratégia de controlo do jogo e abrandar de ritmo, pois o brasileiro desempenha esse papel com mestria. Respondeu Paulo Fonseca lançando um avançado, Edson Paraíba, para o lugar do médio Minhoca, aos 74 minutos. Pouco tempo depois Sérgio Conceição refrescou o ataque, retirando Pardo e colocando Agra.
No último quarto de hora da partida o Braga deu alguns sinais de cansaço físico, natural depois de um jogo muito intenso a meio da semana. Neste período o Paços de Ferreira dispôs de algumas oportunidades de golo, mas os seus avançados estavam desinspirados. O ponta-de-lança Cícero, que já passou por Braga, ainda enviou a bola ao poste. Atento, o treinador do Braga lançou Custódio para o lugar de Rafa para conter este último ímpeto ofensivo do Paços e, assim, conseguiu conservar invioladas as redes de Matheus até ao apito final de Manuel Mota. O árbitro vilaverdense não estava inicialmente nomeado para este jogo, tendo sido chamado à última hora face à indisponibilidade súbita do juiz portuense Rui Costa. Em todo o caso, acabou por ter uma actuação tranquila e praticamente isenta de erros técnicos e disciplinares. Julgou bem o lance do 2.º golo do Braga, já que a existir contacto de André Pinto com o guarda-redes Defendi, foi fora da área e como tal o golo foi bem validado.
Quanto à suposta agressividade dos jogadores do Braga, neste jogo voltou-se a constatar que essas considerações não têm fundamento.
Depois de um início de temporada algum irregular, sobretudo nos jogos fora de casa, o Braga afirma-se neste momento como uma das melhores equipas da liga portuguesa e se mantiver a competência e empenho demonstrados pelos seus jogadores, dificilmente baixará do 4.º lugar, objectivo inicial, podendo mesmo intrometer-se na luta por um lugar na Liga dos Campeões da próxima temporada. Curiosamente, nesta jornada o Braga ultrapassa o vizinho de Guimarães, apesar de em igualdade pontual, e termina o ano civil num honroso 3.º lugar da liga, mantendo-se ainda em prova em todas as competições nacionais.
* A todos os leitores do Blog Rectângulo Mágico, um abraço de amizade e votos sinceros de um Santo Natal e um excelente Ano Novo de 2015!
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)