Ao começar esta crónica, apraz-me tecer o seguinte comentário sobre o SC Braga: finalmente marcou um golo! Finalmente, porque a equipa bracarense esteve mais de 350 minutos sem conseguir alvejar as balizas dos seus adversários. E foi precisamente ao 77.º de um jogo disputado sob chuva intensa, em Tondela, quando Nikola Stojilikovic, o “tanque” sérvio, conseguiu matar o terrível enguiço.
Parece paradoxal uma equipa que consegue taxas de posse de bola superiores a 60%, que cria várias oportunidades de golo ao longo de um jogo, ficar tanto tempo sem fazer balançar as redes das balizas adversárias. Mas é verdade que a falta de eficácia na finalização tem penalizado, e muito, esta equipa. E nem se podem queixar da sorte os arsenalistas, porque têm visto as bolas baterem sucessivamente nas balizas contrárias. Pois, tal como dizia José Maria Pedroto: “uma bola no ferro é na mesma um golo falhado”.
STOJILIKOVIC
Quando foi a anunciada a sua contratação, sobressaiu apenas a dificuldade de pronunciar o nome. Pouco ou nada se sabia a respeito deste jovem atacante proveniente de uma antiga república da ex-Jugoslávia. Dizia-se dele que era um jogador forte e com boa mobilidade, requisito obrigatório exigido pelo treinador para encaixar no seu 4-4-2. Mas gerou alguma desconfiança o facto do seu nome não constar da lista que foi enviada para UEFA. Porém, o sérvio não se deixou intimidar por essa exclusão, nem pelo facto do clube ter contratado um nome sonante para o ataque em cima do fecho das inscrições: Hassan. Agarrou com unhas e dentes as oportunidades que o treinador lhe foi concedendo. Aliás, acabou por tirar partido da não inscrição na UEFA, pois, abriu-lhe a porta para ser chamado à titularidade nos jogos antes e após os confrontos europeus. E a juntar às boas exibições, donde se destacam a capacidade de luta e a disputa de todas as bolas, aliada à habilidade de tabelar com os companheiros e de jogar de costas para a baliza, apareceram também os golos. E golos que já valeram seis pontos, isto é, foram da sua autoria os golos que permitiram à equipa vencer o União da Madeira na Choupana por 1-0, e também vencer em Tondela, pelo mesmo resultado, na última jornada da Liga.
CAMPEONATO
Quando já está cumprido mais de um terço do campeonato de Liga Portuguesa, a carreira dos Guerreiros do Minho tem sido segura e dentro das expectativas, pois, actualmente a equipa encontra-se no 4.º posto da tabela classificativa e começa a ganhar algum terreno em relação ao pelotão de equipas que aspira às provas europeias. No entanto, a distância para o trio de candidatos ao título já é algo significativa. Do Braga não se está à espera que se intrometa na luta com o clássico triunvirato, porque as condições à partida são diferentes. Mas, o encurtamento das distâncias não deixa de ser um objectivo há muito assumido pela estrutura bracarense.
Seja como for, temos sempre que atender à circunstância deste novo Braga 2015/2016 ainda estar em processo de consolidação. Porque a juntar às muitas mexidas no plantel de uma época para a outra, temos a chegada de um novo treinador que mudou radicalmente o modelo de jogo. Quiçá, para um modelo mais condizente com o estatuto actual do SC Braga e, mais ainda, adaptado à abordagem que habitualmente os adversários em Portugal fazem aos jogos. Com a excepção de Estoril, Vitória de Guimarães e FC Porto, até à data todas as equipas do campeonato jogaram de uma forma conservadora quando defrontaram o SC Braga, ou seja, baixando as linhas, entregando aos bracarenses a iniciativa do jogo e respondendo apenas em contra-ataque. Inclusivamente, até mesmo o Benfica assumiu idêntica postura quando visitou a Pedreira, tendo sido até ao momento a única equipa que conseguiu vencer o SC Braga no seu reduto.
LIGA EUROPA
A carreira europeia na fase de grupos da Liga Europa foi brilhante, pois, o Braga conseguiu terminar na liderança do Grupo F, que tinha à partida um favorito, Olympique Marselha, e três equipas de nível semelhante para disputar o segundo lugar. Porém, os bracarenses foram os mais fortes, tendo vencido quatro jogos, empatado um e perdendo apenas o célebre jogo em Marselha, onde as chuteiras desapareceram do balneário. Com trezes pontos somados, o Braga cometeu a proeza de ter sido a única equipa portuguesa a terminar em primeiro lugar em fases de grupos de competições europeias disputadas nesta temporada, para além de bater o record de pontos conquistados em todas as participações do clube em fases de grupos de provas da UEFA.
O primeiro lugar do grupo permitiu ao SC Braga ser cabeça de série no sorteio dos 1/16 de final, que se realizou ontem na sede do organismo europeu em Nyon, Suiça. Ainda assim, no pote 2 pontificavam clubes de grande gabarito, como por exemplo os alemães do Borussia de Dortmund (que calhou em “sorte” ao FC Porto), os ucranianos do Shaktar Donetsk, os turcos do Galatasaray e Fenerbahce (treinado pelo português Vítor Pereira), ou algum dos clubes da “armada” espanhola: Sevilla, Valência ou Vilarreal.
Pode-se dizer que o sorteio foi “amigo”, porque saiu a bola com o nome dos suíços do FC Sion, provavelmente o adversário menos complicado, no plano teórico. Além disso, os bracarenses evitam uma deslocação longa e certamente irão contar com o apoio da grande comunidade portuguesa radicada em terras helvéticas.
REABERTURA DE MERCADO
A reabertura do mercado a partir do próximo dia 1 de Janeiro é uma questão que já mexe nas galerias do Estádio Municipal de Braga. Na conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Tondela, Paulo Fonseca foi questionado a respeito de prováveis entradas, mas também de eventuais saídas. O técnico bracarense jogou à defesa, não se alongando em grandes comentários a respeito de novas contratações, mesmo quando confrontado com a necessidade evidente de reforço da lateral-esquerda da defesa, onde neste momento não existe concorrência para Djavan. O treinador limitou-se a dizer que irá abordar a questão com o presidente e não confirmou, pelo menos para já, o alegado interesse em Hélder Lopes, defesa esquerdo do Paços de Ferreira que ele orientou na época passada.
Em relação a dispensas, aí sim, Paulo Fonseca foi categórico ao dizer que não pretende a saída de nenhum elemento do plantel, justificando com a necessidade de contar com um grupo amplo para disputar as várias competições em que o clube está envolvido. Não obstante, apesar da muita rotatividade que tem existido, há jogadores que não entram nas escolhas do treinador, como são os casos dos brasileiros Alef (médio) e Rodrigo Pinho (avançado).
TAÇA DE PORTUGAL
Até ao momento a equipa do SC Braga já cumpriu 21 jogos oficiais em todas as competições que vem disputando. Mas nenhum teve, até ao momento, o carácter decisivo e, quiçá, a dificuldade do jogo de amanhã, diante do Sporting, a contar para os oitavos de final da Taça de Portugal. Quis o destino juntar nesta fase da prova os finalistas da última edição e, por isso, este jogo assume, com naturalidade, o título de “jogo de cartaz” da eliminatória. Ainda a recuperar da inglória perda da Taça nos últimos minutos desse fatídico jogo de Maio passado, os adeptos bracarenses quererão transformar esta partida num ajuste de contas, sabendo também de antemão que em caso de sucesso, o caminho para o Jamor ficará desbravado, tal como acontecera na mesma fase da prova da época passada. Pois, nos oitavos de final da pretérita edição da Taça, os arsenalistas foram à Luz eliminar o Benfica, na altura treinada por Jorge Jesus, que amanhã regressa novamente a Braga, mas desta feita aos comandos do conjunto leonino.
No lançamento deste jogo, Paulo Fonseca não escondeu a ambição de seguir em frente, mas não deixou de considerar este jogo como o mais difícil da época, por força da boa carreira que o ex-técnico do SC Braga, na época 2008/2009, vem fazendo no ano em que se mudou da Luz para Alvalade.
Curiosamente, ambas as equipas venceram os respectivos jogos na última jornada da Liga, apesar dos dois treinadores terem feito alguma gestão nos planteis, fazendo transparecer a ideia de que este jogo já estará no pensamento de ambos há algum tempo. Para este jogo, Paulo Fonseca não vai poder contar com os brasileiros Djavan e Crislán, ambos lesionados. Por força do impedimento do lateral-esquerdo, o técnico arsenalista vai ter de recorrer novamente a Baiano, ou Goiano, para preencher o lugar, devendo também fazer regressar André Pinto ao eixo da defesa, para fazer parelha com Ricardo Ferreira. Perspectiva-se também uma troca de guarda-redes, onde Matheus vem alternansdo a titularidade com Kritcyuk na Taça de Portugal e Liga Europa. O meio-campo é o sector mais forte da equipa do Sporting, pelo que serão prováveis as chamadas de Luiz Carlos e Vukcevic, que não actuaram em Tondela. O Braga poderá perder alguma qualidade na construção de jogo com a saída de Felipe Augusto, mas ganhará em termos de consistência e combatividade com a dupla que actuou em Groningen. No ataque, pelo que escrevi no primeiro capítulo desta crónica, será de estranhar caso Stojlikovic não seja titular nesta partida, ficando a dúvida sobre quem o acompanhará na frente: Hassan, Rui Fonte ou Wilson Eduardo?
Quanto aos criativos Alan e Rafa, esses estarão de pedra e cal no onze, já que o capitão não foi sequer convocado para Tondela, ao passo que o internacional português só actuou na segunda parte desse jogo em terras beirãs.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)