O ponto número um do artigo 1.º dos estatutos do Sporting Clube de Braga estabelece a denominação desta instituição desportiva e informa da fundação da mesma no dia 19 de Janeiro de 1921. Por isso, neste dia a direcção do clube tem por costume assinalar a data com um programa de comemorações, geralmente de forma muito discreta, tal como acontece este ano, em que as celebrações do suposto 94.º aniversário são despachadas ainda durante a manhã. O conjunto dos actos é pobre e resumem-se a dois locais: estádio, com o hastear da bandeira; cemitério, onde é celebrada uma missa e depois realizadas romagens a campas de fundadores e sócios recentemente falecidos. Ou seja, para um clube que se quer vivo, não deixa de ser questionável a opção de passar praticamente todo o tempo destinado às comemorações do aniversário no cemitério, não obstante o respeito e consideração que a memória dos falecidos merece.
Outra questão muito pouco consensual é a data de fundação do clube. Desde logo, porque existem vários documentos a refutar o ano de fundação em 1921. Durante as investigações para a elaboração do seu livro "A História da Bola em Braga", o bracarense Evandro Lopes encontrou referências a um Sporting Club de Braga em duas edições do jornal Echos do Minho de 1914. Apesar da publicação da obra em 2010 e da mesma ter sido oficialmente entregue aos órgãos sociais do clube nesse mesmo ano, não foi movida uma única palha por parte da instituição no sentido de aprofundar ou discutir as novas descobertas, as quais poderiam levar à revisão da data de fundação do clube, tal como já acontecera em Portugal com outros emblemas.
Em 2013, um grupo de adeptos, do qual fazem parte ex-presidentes do clube e, já agora, eu próprio, conhecendo os factos decidiram interpelar os órgãos sociais do clube para ponderarem seriamente o assunto. Mas a única resposta que se obteve foi um comentário lacónico do então presidente da mesa da Assembleia Geral do clube, que considerou os factos insuficientes.
Ora, para além das notícias do Jornal Echos do Minho de 1914, conhecem-se hoje diversos documentos a comprovar a existência do clube antes da data oficial da fundação. Na parte final desta crónica, encontram-se gravuras com cópias dessas provas. É possível constatar referências a 1919, ou 1920, como datas de fundação do clube.
Mas para responder ao porquê do clube ter instituído não só o ano, mas também o mês e o dia da fundação do clube, é necessário recuar à década de oitenta. Num dos mandatos de Mesquita Machado enquanto presidente da colectividade (acumulando com a do município), a direcção da época entendeu necessário, para o engrandecimento da instituição, a elaboração de um livro da história do clube. E para levar a cabo essa tarefa, decidiu convidar um associado do clube. Sem querer colocar minimamente em causa o amor e dedicação desse associado à instituição, o futuro acabou por revelar não ter sido a pessoa mais indicada para tão laboriosa realização. Até porque os recursos documentais do autor eram escassos, pois, pegando nas palavras do próprio: «os documentos referentes à fundação do S.C. Braga perderam-se na voragem do tempo e com as mudanças de Sede». No entanto, enganava-se o autor Barros Pereira quando no mesmo livro escrevia: «os jornais da época não davam ainda a importância devida ao fenómeno desportivo». Nada de mais errado! Graças ao trabalho de investigação de pessoas dedicadas ao assunto, com maior ou menor qualificação científica, hoje temos acesso a inúmeras referências da imprensa ao fenómeno desportivo em Braga, antes e depois da I Guerra Mundial.
Mas no que toca ao assunto da fundação, o autor admite o início da actividade em 1919, mas lá vai alvitrando que o clube só começa mesmo a sério quando a sua equipa de futebol se apresenta «no campo do antigo Colégio do Espírito Santo para o seu primeiro jogo de grande categoria com o Algés e Dafundo, que de Lisboa se deslocou a Braga». E vai mais longe, ao referir: «O S.C. Braga, inicialmente, não teve as cores que tem hoje. Foram escolhidas para as suas camisolas as cores verde e branca». Pois bem, desse desafio há uma foto plasmada no próprio livro oficial, não se podendo confirmar as cores das camisolas porquanto o dito registo fotográfico é a preto e branco. Além disso, não se pode aferir da escolha das cores de um clube pela cor das camisolas envergadas pelos atletas em determinado jogo. Pior do que isso, esta dedução tem levado a interpretações distorcidas, ao cúmulo de associarem os fundadores a hipotéticos adeptos do clube homónimo de Lisboa, como se fosse plausível haver em Braga aficionados de um clube lisboeta nascido dez anos antes e numa época em que a modalidade dava os primeiros passos em Portugal.
Ainda a respeito das cores do clube, até prova inequívoca em contrário, estas sempre foram o vermelho e branco, como se pode constatar na mais antiga bandeira de que há conhecimento (ver galeria no final). E também aqui, é pouco séria a tentativa de associar estas cores ao Sport Lisboa e Benfica fundado pouco tempo antes.
Outra questão muito pouco consensual é a data de fundação do clube. Desde logo, porque existem vários documentos a refutar o ano de fundação em 1921. Durante as investigações para a elaboração do seu livro "A História da Bola em Braga", o bracarense Evandro Lopes encontrou referências a um Sporting Club de Braga em duas edições do jornal Echos do Minho de 1914. Apesar da publicação da obra em 2010 e da mesma ter sido oficialmente entregue aos órgãos sociais do clube nesse mesmo ano, não foi movida uma única palha por parte da instituição no sentido de aprofundar ou discutir as novas descobertas, as quais poderiam levar à revisão da data de fundação do clube, tal como já acontecera em Portugal com outros emblemas.
Em 2013, um grupo de adeptos, do qual fazem parte ex-presidentes do clube e, já agora, eu próprio, conhecendo os factos decidiram interpelar os órgãos sociais do clube para ponderarem seriamente o assunto. Mas a única resposta que se obteve foi um comentário lacónico do então presidente da mesa da Assembleia Geral do clube, que considerou os factos insuficientes.
Ora, para além das notícias do Jornal Echos do Minho de 1914, conhecem-se hoje diversos documentos a comprovar a existência do clube antes da data oficial da fundação. Na parte final desta crónica, encontram-se gravuras com cópias dessas provas. É possível constatar referências a 1919, ou 1920, como datas de fundação do clube.
Mas para responder ao porquê do clube ter instituído não só o ano, mas também o mês e o dia da fundação do clube, é necessário recuar à década de oitenta. Num dos mandatos de Mesquita Machado enquanto presidente da colectividade (acumulando com a do município), a direcção da época entendeu necessário, para o engrandecimento da instituição, a elaboração de um livro da história do clube. E para levar a cabo essa tarefa, decidiu convidar um associado do clube. Sem querer colocar minimamente em causa o amor e dedicação desse associado à instituição, o futuro acabou por revelar não ter sido a pessoa mais indicada para tão laboriosa realização. Até porque os recursos documentais do autor eram escassos, pois, pegando nas palavras do próprio: «os documentos referentes à fundação do S.C. Braga perderam-se na voragem do tempo e com as mudanças de Sede». No entanto, enganava-se o autor Barros Pereira quando no mesmo livro escrevia: «os jornais da época não davam ainda a importância devida ao fenómeno desportivo». Nada de mais errado! Graças ao trabalho de investigação de pessoas dedicadas ao assunto, com maior ou menor qualificação científica, hoje temos acesso a inúmeras referências da imprensa ao fenómeno desportivo em Braga, antes e depois da I Guerra Mundial.
Mas no que toca ao assunto da fundação, o autor admite o início da actividade em 1919, mas lá vai alvitrando que o clube só começa mesmo a sério quando a sua equipa de futebol se apresenta «no campo do antigo Colégio do Espírito Santo para o seu primeiro jogo de grande categoria com o Algés e Dafundo, que de Lisboa se deslocou a Braga». E vai mais longe, ao referir: «O S.C. Braga, inicialmente, não teve as cores que tem hoje. Foram escolhidas para as suas camisolas as cores verde e branca». Pois bem, desse desafio há uma foto plasmada no próprio livro oficial, não se podendo confirmar as cores das camisolas porquanto o dito registo fotográfico é a preto e branco. Além disso, não se pode aferir da escolha das cores de um clube pela cor das camisolas envergadas pelos atletas em determinado jogo. Pior do que isso, esta dedução tem levado a interpretações distorcidas, ao cúmulo de associarem os fundadores a hipotéticos adeptos do clube homónimo de Lisboa, como se fosse plausível haver em Braga aficionados de um clube lisboeta nascido dez anos antes e numa época em que a modalidade dava os primeiros passos em Portugal.
Ainda a respeito das cores do clube, até prova inequívoca em contrário, estas sempre foram o vermelho e branco, como se pode constatar na mais antiga bandeira de que há conhecimento (ver galeria no final). E também aqui, é pouco séria a tentativa de associar estas cores ao Sport Lisboa e Benfica fundado pouco tempo antes.
Porém, a mãe de todas as incongruências do livro oficial do SC Braga é revelada nas linhas seguintes à menção do jogo com o Algés e Dafundo, quando o autor escreve: «Pouco depois, em 19 de Janeiro de 1921, surgem os primeiros estatutos, daí que se tenha escolhido esta data como a do verdadeiro nascimento».
Também aqui o Sr. Barros Pereira comete falhanços de baliza aberta.
Se esta data foi escolhida para data do nascimento do clube, como explicar que nas revistas comemorativas do aniversário do clube em 1934, 1935 e 1936, o ano de fundação referido seja 1919? Como explicar as notícias da imprensa de 1970, relativas a um extenso programa de comemorações das bodas de ouro do clube, tendo-se celebrado os cinquenta anos da instituição em Fevereiro desse ano? Tal como se pode verificar em alguns artigos produzidos para recordar a efeméride (ver galeria em anexo), a direcção de 1970 considera a data de fundação do clube no ano de 1920.
E quanto ao surgimento dos estatutos em 19 de Janeiro, em que se baseou o autor para estabelecer esta data? Certamente, na cópia dos documentos do registo do clube no Governo Civil da cidade. Aliás, não é por acaso que a reprodução desses documentos surgem nas páginas seguintes, nem é por acaso que o autor tem o cuidado de requerer uma certidão do Governo Civil a comprovar a autenticidade dessas reproduções.
Também aqui o Sr. Barros Pereira comete falhanços de baliza aberta.
Se esta data foi escolhida para data do nascimento do clube, como explicar que nas revistas comemorativas do aniversário do clube em 1934, 1935 e 1936, o ano de fundação referido seja 1919? Como explicar as notícias da imprensa de 1970, relativas a um extenso programa de comemorações das bodas de ouro do clube, tendo-se celebrado os cinquenta anos da instituição em Fevereiro desse ano? Tal como se pode verificar em alguns artigos produzidos para recordar a efeméride (ver galeria em anexo), a direcção de 1970 considera a data de fundação do clube no ano de 1920.
E quanto ao surgimento dos estatutos em 19 de Janeiro, em que se baseou o autor para estabelecer esta data? Certamente, na cópia dos documentos do registo do clube no Governo Civil da cidade. Aliás, não é por acaso que a reprodução desses documentos surgem nas páginas seguintes, nem é por acaso que o autor tem o cuidado de requerer uma certidão do Governo Civil a comprovar a autenticidade dessas reproduções.
Como se pode então verificar na acta da constituição oficial do Sporting Club de Braga, entregue no Governo Civil, a então comissão organizadora escreveu assim «no prazo de três dias principiará a funcionar em Braga, na Avenida Central n.º 170, um club denomimando "Sporting Clube de Braga" (...) Braga 19 Fevereiro de 1921». E também é perfeitamente visível a data de colocação da chancela do Governo Civil: 19-2-921.
Perante tamanhas evidências, é legítimo perguntar: porque celebra o Sporting Clube de Braga o seu aniversário no dia 19 de Janeiro, porque está esta data inscrita nos actuais estatutos do clube?
No passado dia 31 de Dezembro, a instituição desperdiçou a oportunidade de celebrar o seu centenário e de honrar a memória do grupo responsável pelo acto de constituição do clube em 1914, ao ignorar por completo os novos factos trazidos a terreiro em 2010. Ano após ano, ignora também aqueles que refundaram o clube em 1919, no final da I Guerra Mundial. Ano após ano, são prestadas honras e cerimónias a pessoas, que não obstante os seus grandes préstimos ao clube e à modalidade na cidade de Braga, nem sequer fazem parte dessa comissão organizadora que em 19 de Fevereiro de 1921 oficializou o clube.
E para cúmulo geral, celebra o aniversário numa data, 19 de Janeiro, na qual aconteceu não se sabe muito bem o quê de determinante na história da instituição desportiva mais representativa do concelho de Braga.
Não estaria na altura de alguém emendar todos estes erros históricos, a bem da dignidade da instituição e de tantos quantos deram o melhor de si para lançar as sementes do SC Braga que conhecemos hoje? Porque não é só quanto ao capítulo da fundação do clube que existem erros e omissões. São vários os factos e personalidades cuja memória não está a ser devidamente cuidada por quem tem responsabilidades na instituição. Mas quanto a isso, prometo-vos que haveremos de voltar a falar.
Já agora, dizem os supersticiosos que dá azar festejar o aniversário antes do dia.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)
Perante tamanhas evidências, é legítimo perguntar: porque celebra o Sporting Clube de Braga o seu aniversário no dia 19 de Janeiro, porque está esta data inscrita nos actuais estatutos do clube?
No passado dia 31 de Dezembro, a instituição desperdiçou a oportunidade de celebrar o seu centenário e de honrar a memória do grupo responsável pelo acto de constituição do clube em 1914, ao ignorar por completo os novos factos trazidos a terreiro em 2010. Ano após ano, ignora também aqueles que refundaram o clube em 1919, no final da I Guerra Mundial. Ano após ano, são prestadas honras e cerimónias a pessoas, que não obstante os seus grandes préstimos ao clube e à modalidade na cidade de Braga, nem sequer fazem parte dessa comissão organizadora que em 19 de Fevereiro de 1921 oficializou o clube.
E para cúmulo geral, celebra o aniversário numa data, 19 de Janeiro, na qual aconteceu não se sabe muito bem o quê de determinante na história da instituição desportiva mais representativa do concelho de Braga.
Não estaria na altura de alguém emendar todos estes erros históricos, a bem da dignidade da instituição e de tantos quantos deram o melhor de si para lançar as sementes do SC Braga que conhecemos hoje? Porque não é só quanto ao capítulo da fundação do clube que existem erros e omissões. São vários os factos e personalidades cuja memória não está a ser devidamente cuidada por quem tem responsabilidades na instituição. Mas quanto a isso, prometo-vos que haveremos de voltar a falar.
Já agora, dizem os supersticiosos que dá azar festejar o aniversário antes do dia.
Ricardo Jorge
Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45)